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Walkiria Ribeiro: “sou protagonista das histórias que conto”

A Balbina de ‘Tempo de Amar’ comenta os desafios na TV, o racismo no Brasil e a paixão pelo Carnaval

7 dez 2017 - 14h55
(atualizado às 14h56)
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Após muitos anos na teledramaturgia da RecordTV, Walkiria Ribeiro estreou na Globo em ‘Tempo de Amar’, elogiada produção de época da faixa das 18h30, escrita por Alcides Nogueira e equipe.

A atriz tem quase 15 anos de carreira na TV: “Estou pronta para qualquer desafio”
A atriz tem quase 15 anos de carreira na TV: “Estou pronta para qualquer desafio”
Foto: Danilo Donadeli/Divulgação / Sala de TV

A atriz paulistana, de 40 anos, interpreta Balbina, uma ama de leite na trama ambientada no início do século passado. A personagem suscita questões a respeito do racismo, do machismo e do sexismo.

Ela representa as demandas femininas por liberdade de expressão, autonomia sobre o próprio corpo, independência econômica e, acima de tudo, respeitabilidade como mulher, negra e cidadã.

Com valiosa visibilidade na TV aberta em e em canal pago ao longo de 2017, Walkiria Ribeiro conversou com o blog a respeito de carreira, enfrentamento da discriminação racial e referências artísticas.

Sua personagem em ‘Tempo de Amar’, Balbina, representa uma época na qual a mulher negra vivia em situação de extrema submissão e preconceito. Como se preparou para o papel? 

Acertamos minha entrada na novela numa semana e, em cinco dias, já estava gravando. Ainda me preparo. Tenho lido artigos e livros que retratam aquela época. Uma boa indicação é ‘Clara dos Anjos’, de Lima Barreto. Este livro contextualiza bem o período e, principalmente, a representatividade negra no Rio de Janeiro. O autor Alcides Nogueira retrata de forma sublime as relações entre patrões e empregados em variadas situações. Não podemos esquecer que, naquele período, as mulheres começaram a se colocar contra a sociedade machista. Dizer que a submissão de Balbina representa todas as mulheres negras da época é generalizar. Passados quarenta anos da abolição, já tínhamos representatividade, porém de uma forma geral e com raras exceções, todas as mulheres brasileiras eram submissas e ponto.

Na novela, contamos a história de 1927 a 1930, e neste momento o Brasil passava por importantes mudanças sociais, na indústria e na política. Um momento no qual o País começou a se reconhecer na moda e na economia. Balbina foi comprada jovem pela família Fontoura, foi ama de leite e babá, é o alicerce daquela casa. Assediada pelo patrão, tem um filho dele, mantido em segredo. Balbina está farta da forma como o patrão a usa. Com astúcia, o filho faz a mãe refletir sobre coisas que antes ela não havia percebido.

A mulher e o negro conquistaram mais respeito e espaço nas últimas décadas. Você ainda sente dificuldades por ser uma mulher negra na sociedade atual e uma atriz negra na TV deste momento?

Lembro-me bem a primeira vez que, ainda no prezinho, me defendi com força física e meu pai foi chamado na escola. Ele simplesmente se abaixou e disse: ‘está pronta para bater no mundo? Se, em cada um que te ofender e te contradizer, você for bater, vão lhe faltar punhos, seja inteligente! Contra fatos não há argumentos. Seja maior’. E tenho tentado me manter forte e inteligente (risos). Sou atriz e estou pronta para qualquer desafio que não tenha o adjetivo ‘negro’. No meu entorno tenho muitas referências de mulheres negras bem-sucedidas, inclusive empresárias em cargos de diretoria e presidência. Quero ter o direito de provar meu talento de forma igualitária e sem rótulos ou nichos.

Walkiria Ribeiro como Balbina, na pele de Jussara e como musa da Mangueira
Walkiria Ribeiro como Balbina, na pele de Jussara e como musa da Mangueira
Foto: João Miguel Jr./TV Globo, André Amado/Divulgação e Reprodução/Instagram @walkiriaofficial / Sala de TV

A Jussara de ‘TOC’s de Dalila’ (Multishow) é uma mulher moderna e independente, mas sofre um transtorno emocional relacionado às mãos. Como foi a preparação para o papel?

Acho engraçado o termo ‘moderna’! Sim, Jussara é uma mulher independente e rica, viajada, que construiu um patrimônio e criou a filha com muito trabalho. Os excessos de Jussara eram uma crítica às futilidades dos endinheirados. A cleptomania (transtorno psicopatológico que faz a pessoa roubar coisas diversas) era o distúrbio de Jussara, que ‘construiu’ este hábito por perceber o modismo do transtorno em alguns artistas de Hollywood e o reproduziu por achar chique. A graça é que ela pegava e devolvia os objetos. O transtorno das mãos era consequência pela ansiedade do tratamento. Para se livrar de um toque, ganhou outro. Era um toque também se vestir somente em tom pastel. Não tenho toques, pelo menos que eu saiba (risos).

Comente sua participação na websérie ‘Marias’.

‘Marias’ foi um teste. Passei e as gravações foram num fim de semana, junto com as gravações do seriado ‘TOC’s de Dalila’, em julho. Minha personagem, Sara Ferrer, é uma professora muito bem-sucedida, que tem em Maria Carol (Viviane Monteiro) sua maior fã. Ela é uma mulher culta, porém muito impaciente com a novata, que se atrapalha toda na conclusão de seu mestrado. A minha profissão não me dá a oportunidade de escolher quando estarei atuando e, desta vez, produções ao mesmo tempo me fizeram ter jogo de cintura. Tenho um grande parceiro em casa, que joga muito bem essa bola comigo, então é fazer bem-feito o meu trabalho.

Artista é telespectadora compulsiva: “Ligo TVs em todos os cômodos para não perder nada”
Artista é telespectadora compulsiva: “Ligo TVs em todos os cômodos para não perder nada”
Foto: Danilo Donadeli/Divulgação / Sala de TV

Você tem forte presença no Carnaval de São Paulo. De onde vem essa paixão e onde será vista nos desfiles de 2018?

Meus pais se conheceram num baile de Carnaval, então não foi uma escolha ou apenas paixão. O Carnaval é minha ancestralidade, origem e religião. A minha vida se mistura com a história do Carnaval paulistano e já fui rainha em 2000 pela Vai-Vai. Foram 32 anos de dedicação e muito aprendizado. O primeiro grande palco que pisei e nele me esbaldei. Alcancei todos os sonhos e até me redescobri na profissão de atriz. Veio daí o convite para ser musa da Mangueira nos últimos três anos. ‘Uma paulistana sambando em terras cariocas’. Foi uma grande honra e reconhecimento, mas a carreira de atriz precisava da mesma dedicação, então agora estarei só apreciando o legado que deixei, como espectadora. Tenho outros sonhos que dependem da minha entrega como atriz.

O assunto do momento na mídia é o combate ao racismo, especialmente nas redes sociais. Como pessoa pública, sente-se na obrigação de levantar essa bandeira?

O racismo é um assunto de séculos e uma luta de muitos. Já esteve nos açoites, nas senzalas, nos jornais e na música e agora temos a internet. O mundo tem velocidade e o racismo tem se movimentado com ela. Mas o Brasil está deixando de se esconder e, assim como nos Estados Unidos, na Europa e em todos os lugares do mundo, precisamos nos posicionar e falar sobre o assunto. As leis precisam ser justas para todos e executadas. Em 40 anos me tornei uma ‘bandeira’ de 1,76m de altura de pura negritude. As minhas lutas são diárias, e muitas vitoriosas são silenciosas. Mas parar, jamais...

Pingue-pongue:

Trabalho inesquecível na TV: “todos os trabalhos são inesquecíveis. Sempre sou a protagonista das histórias que conto com minhas personagens, mas para o público, a Juliana, mãe da protagonista na novela ‘Escrava Isaura’ (RecordTV, 2004) é muito presente nas memórias”.

Artistas são referência para você: “Whoopi Goldberg, Zezé Motta e Grande Otelo”.

Ícones negros que a inspiram: “Oprah Winfrey, Luiz Gama, Denzel Washington e Elisa Lucinda”.

Qual personagem sonha interpretar: “tive oportunidade de viver lindos papéis e anseio por tantos outros, mas como fiz muitas mães desde bem jovem, acredito que estou me preparando para o maior papel da minha vida: a maternidade. Ivete Sangalo me deu esperança. Até os 45 anos ainda há tempo (risos)”.

Programas de TV a que costuma assistir: “sou doente por TV. Assisto tudo. O controle na minha mão parece console de videogame. Teve uma época que havia cinco aparelhos de TV em casa. Meu marido enlouquece porque ligo TVs em todos os cômodos para não perder nada (risos)”.

Novelas preferidas (como telespectadora): “tempo de Amar, a preferida acaba sempre sendo a que eu estou fazendo. Gosto de ver minhas cenas. Novelas da vida, que quando forem reprisadas assistirei novamente, são 'Barriga de Aluguel', 'Cambalacho', 'Salvador da Pátria', 'Tieta', 'Vale Tudo', 'O Rei do Gado', 'Avenida Brasil' e 'A Lei e o Crime'”.

Frase inspiradora: “mesmo com medo, vá assim mesmo”.

Autodefinição como artista: “atualizando...”

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