Três gays de novelas da Globo fogem do ‘padrãozinho’
Personagens Luccino, Michael e Galdino representam diferentes aspectos da homossexualidade
Propositalmente no diminutivo para ressaltar o contexto pejorativo, o termo ‘padrãozinho’ gera muitas discussões nas redes sociais e entre youtubers por simbolizar o perfil mais desejado entre os próprios gays: rapaz branco, bonito, malhado e não afeminado.
Essa imagem idealizada – versão do príncipe encantado hétero dos contos de fadas – oprime a maioria dos gays fora do estereótipo. A busca pelo ‘padrãozinho’ produz segregação e autoexclusão.
Neste momento, a Globo tem vários gays em suas novelas. Nenhum deles se encaixa exatamente nesse modelo de perfeição masculina.
Em post de 15 de junho, o blog evidenciou personagens homossexuais ‘coroas’ e com algum grau de afetação: o costureiro afrancesado François (Amauri Reis) de Orgulho e Paixão, o nobre falido Heráclito (Marcos Oliveira) de Deus Salve o Rei e o gringo espiritualista Groa (André Dias) de Segundo Sol.
Outros três tipos dramatúrgicos gays ‘fora do padrãozinho’ se destacam na teledramaturgia global de hoje.
Malhação – Vidas Brasileiras apresenta um adolescente assumidamente homossexual, Michael. Magro, com cabelos longos encaracolados e óculos de grau, ele é ligado ao universo feminino, gosta de moda e dança, e milita contra a heteronormatividade.
O estudante não sente medo de ser julgado por sua aparência, personalidade e trejeitos. O ator que o interpreta, o paraibano Pedro Vinícius, declarou em entrevista ao GShow ser uma “pessoa de gênero fluido”, ou seja, que transita entre o masculino e o feminino.
Na novela, Michael apareceu com crush e namorado. O personagem já inseriu vários temas da comunidade LGBTI+ na atual temporada de Malhação, como o preconceito de gay contra gay. “É lindo ver que lésbicas, gays, bis, transgêneros e drag queens estão ocupando cada vez mais espaços de poder”, disse o ator ao site da Globo.
Na trama de época das 18h30, Orgulho e Paixão, o mecânico Luccino (Juliano Lahm) se vê atraído pelo colega Mário, mesmo consciente de que se trata de uma mulher, Mariana (Chandelly Braz), disfarçada de homem. Em um momento de fragilidade emocional de ambos acontece um beijo na boca.
A partir daí, Luccino passa a ter certeza: ele ‘simpatiza com homens’, eufemismo usado no início do século XX para denominar o desejo homossexual.
Envergonhado, o jovem italiano teme ser visto como uma “aberração”. Por meio do personagem, a novela discute a dificuldade de autoaceitação e a homofobia na sociedade aristocrática de 100 anos atrás.
Já no folhetim das 21h, Segundo Sol, o valentão Galdino (Narcival Rubens) logo terá revelada a homossexualidade até então camuflada. Remy (Vladimir Brichta) descobrirá material pornô gay no quarto do braço direito da vilã Laureta (Adriana Esteves) e passa a chantageá-lo com tal segredo.
Cinquentão e fora do ‘padrãozinho’ estético valorizado pela maior parte do meio gay, Galdino representa o homossexual mais velho com vida dupla e temeroso de viver abertamente sua orientação sexual.
As quatro novelas inéditas exibidas atualmente na Globo possuem personagens gays. Uma visibilidade valiosa, mas pouco repercutida dentro da própria comunidade LGBTI+ (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e intersexuais).
Há quem critique a emissora carioca por sempre ter homossexuais em sua teledramaturgia, como se quisesse impor a aceitação dos gays ao telespectador.
Outros aplaudem o canal por constantemente exibir a representação da diversidade sexual, ainda que, às vezes, produza caricaturas que servem tão somente para o deboche e o reforço do preconceito.