Peça LGBT ‘Bruta Flor’ ganha nova montagem com atriz trans
Carol Marra interpreta mulher cisgênero que engravida do marido enrustido e homofóbico
Estreia nesta quarta-feira (23), no teatro União Cultural, na região da Avenida Paulista, em São Paulo, a nova temporada de ‘Bruta Flor’.
O espetáculo escrito por Vitor de Oliveira e Carlos Fernando Barros discute a intolerância contra gays e a homofobia internalizada.
Após o sucesso de público e crítica conquistado em 2016 e no ano passado, o diretor Marcio Rosário escalou outros atores para a peça realizada pela produtora Três Tons Visuais.
A dramaturgia aborda o relacionamento de dois homens, Lucas (André Pottes) e Miguel (Fernando Zilli).
Amigos de infância, eles tiveram uma experiência sexual na adolescência. Reencontram-se adultos.
Enquanto um deles exprime sua homossexualidade livremente, o outro, casado com uma mulher, usa a homofobia como escudo para o desejo reprimido.
A atriz Carol Marra faz uma participação especial. Transexual, a artista vive a esposa do jovem atormentado pela própria sexualidade.
“Nesta nova montagem, minha abordagem está mais profunda e visceral”, diz Rosário. “Há uma dose de espiritualidade, humor e erotismo.”
A trama do triângulo amoroso inclui momentos cômicos, ápices dramáticos e nudez artística, em um cenário lúdico e sob bela iluminação.
O blog conversou com o elenco de ‘Bruta Flor’.
Para o ator André Pottes, a única forma de sensibilizar as pessoas em relação ao combate à intolerância é contando histórias tocantes.
“A peça pode gerar um exercício de empatia no público, permitindo mudar o eixo de visão pelo qual as pessoas olham o mundo externo e também o interno”, afirma.
Na pele de um homem preconceituoso, que não consegue encarar a fluidez da própria sexualidade, Pottes buscou inspiração em pessoas reais.
“Meu personagem é a compilação de cada ignorância e preconceito que todos temos dentro de nós. Fomos criados em uma sociedade patriarcal e machista.”
Para o ator, o teatro tem papel imprescindível para a evolução da sociedade.
“Enquanto houver teatro haverá provocação, e enquanto houver provocação haverá reflexão e possibilidade de mudança.”
Com quase 2 metros de altura, Fernando Zilli interpreta Miguel, um homem gay livre de pudores.
Em cena, a exposição do corpo escultural do ator ganha contexto político.
“Nada é gratuito em ‘Bruta Flor’. A nudez se faz absolutamente natural dentro da peça”, explica.
“O corpo é a base de tudo no palco. O meu, vestido ou despido, está sempre a serviço do personagem e da história.”
Carol Marra, transexual que fez cirurgia de redesignação sexual, interpreta uma mulher cisgênero, ou seja, cuja identidade sexual é a mesma do sexo biológico.
“Na Grécia Antiga, os atores faziam papéis masculinos e femininos. É muito normal eu viver uma mulher cis. Inclusive fico muito feliz com essa personagem, pois até hoje a maioria dos convites que recebi foi para interpretar transexuais”, relata.
Ela está disposta a qualquer desafio no teatro, no cinema e na TV: “Sou atriz. Posso fazer mulher, homem, transexual, árvore. Tudo é trabalho”.
Na opinião da artista, não são apenas os formadores de opinião que devem se dedicar às causas sociais.
“O mundo todo precisa se engajar na luta contra a homofobia e a transfobia. Não tem essa de ‘somos todos iguais’. Na verdade, somos todos diferentes e precisamos que essas diferenças sejam respeitadas. Assim, a sociedade será mais justa.”
No processo de composição de sua personagem, que engravida ao longo da peça, Carol Marra conversou com várias mulheres.
“Fiz contato com grávidas para entender a linguagem corporal de quem está gerando um filho. Observei muito o gestual”, relembra.
Ativista social, ela espera que a nova montagem de ‘Bruta Flor’ faça os espectadores saírem modificados do teatro.
“Quero que a gente plante a semente do amor no coração da plateia, e tomara que essa semente germine e tenhamos um mundo com mais amor e carinho.”
Serviço
‘Bruta Flor’ – Teatro União Cultural – Rua Mário Amaral, 209, Paraíso, São Paulo (SP).
Em maio: quartas e quintas às 21h.
Em junho: quartas às 21h.
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