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Moralismo censurou e até matou lésbicas de novelas da Globo

Aceitação do casal homossexual de 'Segundo Sol' não aconteceu em algumas tramas do passado

24 jul 2018 - 13h57
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O primeiro beijo gay da televisão brasileira ocorreu em 1963 – e foi entre duas mulheres. No teleteatro A Calúnia, da TV Tupi, as atrizes Vida Alves (1928-2017) e Georgia Gomide (1937-2011) sentaram lado a lado, deram as mãos, trocaram declarações de amor e se beijaram na boca. Na época, o público reagiu com discrição, sem manifestações preconceituosas.

No momento, o apaixonado casal formado por Maura (Nanda Costa) e Selma (Carol Fazu) em Segundo Sol também não enfrenta protestos inflamados.

Tal assimilação não ocorreu em Torre de Babel, de 1998. Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni) foram rejeitadas pelos noveleiros da Globo. As duas tinham o estilo ‘lesbian chic’, ou seja, eram femininas e sofisticadas.

Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni): boatos de cenas de sexo revoltaram os telespectadores conservadores
Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni): boatos de cenas de sexo revoltaram os telespectadores conservadores
Foto: TV Globo / Divulgação

Apesar da sobriedade, o público se incomodou ao vê-las em cenas de intimidade conjugal, como no preparo de um corriqueiro banho de banheira, e a irritação aumentou devido aos boatos de que haviam sido gravadas cenas de sexo. Tudo não passou de fake news divulgadas pela imprensa de fofocas e amplificadas no boca a boca.

Essas notícias falsas geraram repercussão negativa. O autor Silvio de Abreu acabou matando as personagens na explosão do shopping. Na sinopse (resumo que prevê os fatos da obra), apenas uma delas, Rafaela, morreria na tragédia.

Viúva, Leila seria consolada por uma amiga mais velha, Marta (Gloria Menezes), exemplar mãe de família de classe alta. Essa amizade despertaria rumores de um romance lésbico. Em entrevistas, Abreu disse que pretendia discutir o preconceito contra heterossexuais que têm amigos gays. Como Leila também foi repudiada, a proposta de merchandising social se perdeu.

Outro caso famoso de interferência não prevista num casal de lésbicas aconteceu em Vale Tudo, folhetim de 1988, reprisado atualmente no Canal Viva. A morte de Cecília (Lala Deheinzelin), companheira de Laís (Cristina Prochaska) já estava determinada antes de a novela estrear, ao contrário da lenda de que a personagem foi tirada de cena devido à reprovação dos telespectadores moralistas.

O problema real envolveu a censura. As cenas de intimidade entre as duas – inclusive a de um selinho – foram proibidas por órgãos de fiscalização do governo ou descartadas pelos próprios autores da trama, a fim de não provocar a fúria dos censores. Para os padrões da época, Cecília e Laís poderiam representar um casal, desde que elas fossem assexuadas.

Acima, Teresa e Estela; Selma e Maura; abaixo, Cecília e Laís: o amor entre mulheres nem sempre é aceito pelo público das novelas
Acima, Teresa e Estela; Selma e Maura; abaixo, Cecília e Laís: o amor entre mulheres nem sempre é aceito pelo público das novelas
Foto: TV Globo / Divulgação

Foi um selinho que desencadeou uma onda de ataques contra Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathália Timberg) logo após o primeiro capítulo de Babilônia, em 2015. O relacionamento delicado de duas senhoras octogenárias aviltou a audiência conservadora.

“Demos um beijinho afetuoso, de amor, sem língua ou qualquer outra coisa. Aí ocorreu aquela rejeição toda, que me surpreendeu”, disse Fernanda Montenegro à revista Veja. “O público ficou chocado porque o beijo foi entre duas velhas. Se fosse entre jovens, ninguém reclamaria.”

Mesmo com reprovação popular e audiência baixa, os autores mantiveram a trama do casal de senhoras. Em resposta à intolerância, as duas se casaram e, no último capítulo, houve novo beijo na boca.

Em Segundo Sol, Maura foi expulsa de casa por seu pai, o brucutu Agenor (Roberto Bonfim), em razão de sua orientação sexual. Acolhida pela companheira, Selma, a policial representa as vítimas de sectarismo intrafamiliar. Por enquanto, não há beijo gay no roteiro. Mas existirá um conflito entre o casal e Ionan (Armando Babaioff), pai biológico do filho que Maura vai gerar por inseminação artificial.

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