Globo volta a camuflar equipe para cobrir protestos
20 jun
2014
- 08h56
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Enquanto os black blocs preservam sua identidade usando máscaras de vários tipos, a Globo tenta manter a integridade física de suas equipes recorrendo à camuflagem. Na quinta-feira (19), alguns repórteres da emissora que foram às ruas de São Paulo cobrir o protesto do MPL (Movimento Passe Livre) usaram microfone sem canopla (o cubo com a logomarca do canal), roupas casuais — geralmente os repórteres se apresentam de terno e gravata — e capacete de proteção.Foi assim, praticamente disfarçado, que o repórter Bruno Tavares acompanhou de perto a depredação de concessionárias de veículos e agências bancárias. A matéria foi exibida na íntegra no Bom Dia São Paulo desta sexta-feira (20).Na noite anterior, o Jornal Nacional mostrou imagens das manifestações e dos atos de violência, com narração do repórter César Galvão a bordo do Globocop. Já o ataque de um grupo de criminosos contra turistas num bar no centro da capital paulista foi narrado pelo âncora William Bonner. Nenhum repórter apareceu em campo.Já no Jornal da Globo, o repórter Roberto Paiva usou microfone identificando a Globo. A matéria foi gravada quando os manifestantes tinham deixado a região onde aconteceu o vandalismo, e havia policiamento no local. A Globo também usou produtores não identificados com câmeras semiprofissionais para registrar de perto a violência dos ataques.A Globo passou a camuflar eventualmente suas equipes na cobertura de manifestações após ameaças sofridas por seus profissionais nos protestos de junho de 2013. Carros de reportagem foram atacados e repórteres viraram alvo de xingamentos.Ainda sobre os protestos no feriado de Corpus Christi em São Paulo, a Record colocou o repórter Jean Brandão para fazer a narração dos acontecimentos no Jornal da Record. No link montado numa avenida de São Paulo, sem a presença de black blocs, ele pôde usar tranquilamente o microfone com a logomarca do canal.No SBT Brasil, o repórter Fábio Diamante apareceu em matéria gravada no calor da manifestação. Ele acompanhou o vandalismo com microfone identificando a emissora e usando capacete azul com a inscrição 'imprensa'. O repórter Bruno Tavares, da Globo, até apareceu por alguns segundos na matéria do SBT, aturdido ao testemunhar uma concessionária sendo atacada.No Jornal da Cultura, a repórter Luiza Moraes apareceu num link em frente de uma das concessionárias destruídas. Nas imagens captadas durante o quebra-quebra foi mostrado um veículo de reportagem da TV Gazeta de São Paulo sendo atacado por um mascarado. O carro teve alguns vidros quebrados.É temerário para a sociedade que jornalistas sejam obrigados a trabalhar disfarçados — usando itens de proteção comuns em cenários de guerra — para levar a notícia à população. A liberdade de manifestação não pode ameaçar a liberdade de imprensa.Independentemente da linha editorial da Globo ou de qualquer outra emissora, o trabalho das equipes de TV é fundamental para garantir o acesso à informação por milhões de pessoas nos quatro cantos do país. Terrorismo contra os jornalistas interessa apenas a quem prefere uma imprensa manipulada, que sirva aos interesses de certos grupos ideológicos.