Atriz precisa entender que todos têm direito a opinar e a crítica não pertence a uma meia dúzia
Odete Roitman em 'Vale Tudo', Debora Bloch manifesta desconforto com as avaliações negativas do remake da Globo
Houve um tempo (e nem faz tanto tempo assim) que pessoas deixavam de ir ao teatro e ao cinema porque liam avaliações negativas sobre o espetáculo ou o filme em jornais e revistas.
Jornalistas concentravam poder de influência. Hoje, ainda bem, a maioria quer ver para crer. Não se deixa levar por textos que podem estar contaminados pelo gosto pessoal de quem os escreveu.
Cada cidadão possui espaço próprio – as redes sociais – para exercitar sua liberdade de expressão. Nada mais valioso em uma democracia do que poder opinar sobre os assuntos de seu interesse sem medo de ser censurado.
Por isso, causa estranheza constatar o incômodo de Debora Bloch com essa conquista relevante da pós-redemocratização e da popularidade do acesso à internet no país.
"Nas redes, tá cheio de especialistas, como diz Odete, sem preparo nenhum. Todo mundo virou crítico como se tivesse dizendo uma grande verdade sem ter lido um livro. Crítica faz parte, mas se ouvir todo mundo...”, disse no podcast Conversa Vai, Conversa Vem, em relação aos ataques contra ‘Vale Tudo’.
Não é coerente acreditar que os telespectadores são incompetentes para analisar se uma novela é boa ou ruim. Somente acadêmicos e especialistas em comunicação poderiam fazê-lo?
É a mesma visão elitista de quem critica o resultado de uma eleição se baseando na teoria de que o povo não sabe votar, deslegitimando a escolha da maioria e defendendo que só um lado político ganhe sempre.
Sim, há excesso de conteúdo “tóxico” nas redes, como a atriz também reclamou, mas é a realidade inescapável em um mundo plural. Cabe a cada usuário filtrar o que lê.
Não seria razoável exigir que os descontentes com a novela se calem para que apenas os satisfeitos se manifestem com elogios.
Bloch acerta ao classificar ‘Vale Tudo’ como “sucesso” a partir da repercussão nas redes sociais – as mesmas onde estão os “especialistas” que a irritam.
Hoje, não se pode aferir o desempenho de um produto de TV somente pelos índices da Kantar Ibope, cuja metodologia talvez necessite de revisão e ajustes.
Como a coluna apontou algumas vezes, o burburinho na web – incluindo os comentários negativos – é um termômetro imprescindível para constatar o quanto uma novela ou série consegue se comunicar com o público.
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