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'Se não leio, me sinto inútil': Gabeira indica obras e relembra leitura de Marx no exílio; assista

Às vésperas da COP-30, jornalista também destaca obras sobre ambientalismo, nega aposentadoria e conta qual autor 'devorou' durante a pandemia; veja o novo episódio da série Coleção de Livros

6 nov 2025 - 16h07
(atualizado às 16h21)
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O mundo não para de se transformar. E Fernando Gabeira não para de ler para entender as mudanças. "Eu leio e escrevo o dia todo", diz o jornalista. Aos 84 anos, ele, que se adaptou às facilidades da tecnologia, concentra hoje suas leituras em exemplares digitais.

Ainda assim, seu apartamento em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, guarda alguns livros físicos: de autores clássicos como Guimarães Rosa e Machado de Assis a títulos de consulta frequente, sobre assuntos como ambientalismo, mudanças climáticas, guerras e relações internacionais.

"Minha mulher me deu um ultimato para limparmos o escritório dela que está cheio de livros, porque não há mais espaço", explica Gabeira, que é casado com a empresária Neila Tavares. Ele mostra três obras que "resgatou" do cômodo: uma versão francesa de A Assimetria e a Vida, de Primo Levi, um exemplar de Male Fantasies, de Klaus Theweleit, e Presence du Bouddhisme, sobre a história do budismo, escrito por René de Berval.

Há mundo por vir? Livro de Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro
Há mundo por vir? Livro de Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro
Foto: Antígona/Divulgação / Estadão

Autor de obras como O Que é Isso, Companheiro?, que virou filme, e Democracia Tropical, Gabeira alterna a rotina de leituras com entradas ao vivo na Globo News, onde é comentarista e também produz reportagens especiais, e a escrita de artigos de opinião. Quinzenalmente, ele escreve na seção Espaço Aberto, do Estadão.

O jornalista também não abandona o religioso hábito diário de pedalar pela manhã até as piscinas do clube do Flamengo, onde nada por cerca de uma hora. Às vezes, na companhia da filha Maya Gabeira, que é surfista. "Assim como quando eu não nado não me sinto bem, quando eu não leio, me sinto meio inútil, entende?".

Paradigma ambiental

Às vésperas do início da COP-30, cúpula do Clima, realizada pela primeira vez na Amazônia, em Belém, Gabeira destaca cinco leituras para compreender as mudanças ambientais no planeta:

  • A Anatomia de Gray, de John Gray: O livro reúne os melhores artigos do pensador britânico. "Eu leio muitas coisas dele. É um conservador, mas extremamente inteligente e com uma forte visão sobre ecologia. E a minha intenção pessoal é essa: que o meio ambiente seja uma pauta transversal, de diferentes correntes políticas."
  • Há Mundo por vir? Ensaios Sobre os Medos e os Fins, de Deborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro: "Muito interessante. Uma reflexão sobre as várias ideias de fim de mundo, incluindo uma crítica importante ao aceleracionismo, corrente de pensamento de capitalismo radical e transformação do mundo pela tecnologia."
Fernando Gabeira, em registro do Estadão em 14/05/1987.
Fernando Gabeira, em registro do Estadão em 14/05/1987.
Foto: Rolando de Freitas/Estadão / Estadão
  • Sociedade de Risco: Rumo a uma Outra Modernidade, de Ulrich Beck: "Trouxe um novo olhar para o tema do meio ambiente. A tese dele adapta a divisão da sociedade em classes, do marxismo clássico, para uma sociedade que hoje em dia é dividida em riscos. Uma vez que os grandes riscos ambientais são canalizados para os mais pobres."
  • El hambre que Viene, de Paul Roberts: Gabeira leu a edição espanhola do livro, que não ganhou tradução em português. "É um ensaio sobre a crise alimentar que ainda deve se agravar no mundo. De como a produção mundial é limitada por vários fatores, ao mesmo tempo em que temos um crescimento da demanda."
  • Brasil: Paraíso Restaurável, de Jorge Caldeira, Julia Marisa Sekula e Luana Schabib: "Outro estudo muito interessante sobre como o Brasil pode assumir o posto de potência a partir da questão ambiental." A obra foi finalista do Prêmio Jabuti de 2021 na categoria Economia Criativa.

O 'match' entre Gabeira e a questão ambiental ocorreu durante o exílio do jornalista na Suécia nos anos 1970. "Lá já existia, naquela época, uma sigla política chamada Partido do Cidadão, que fazia campanhas contra os carros no centro da cidade. E eu achei aquilo interessante."

Juventude, exílio e pandemia

Já a paixão por leitura, começou ainda mais cedo, na infância em Juiz de Fora. "Tenho a impressão de que eu lia como espécie de tentativa de viver um mundo diferente daquele que eu habitava", analisa Gabeira.

Durante a ditadura militar, quando atuou no Movimento Revolucionário Oito de Outubro, o MR-8, de luta armada contra o regime, Gabeira acabou exilado não só na Suécia, mas em uma série de países, como Chile, Itália e Argélia. Entre 1970 e 1971, esteve em Cuba, onde se dedicou a estudar a obra fundamental do socialismo.

"Eu cheguei à luta armada por meio dos existencialistas, do Sartre e da Simone [de Beauvoir]... De toda aquela discussão da França no pós-guerra. Já o marxismo eu não conhecia como deveria. E, no exílio, não tinha o que fazer a não ser ler. Foi no exílio em Cuba que li O Capital. Eu estudei Marx, dentro dos meus limites, umas 10 horas por dia."

Meio século depois, Gabeira teve que encarar um "autoexílio". Confinado em seu apartamento durante a pandemia de covid-19, aumentou ainda mais o ritmo de leitura e teve tempo para ler a obra completa do argentino Jorge Luís Borges. "Foi algo que a pandemia me deu, consegui ler todos os volumes dele", diz o escritor.

Ainda assim, ele não deu conta de riscar da lista de leituras trilogias extensas como O Princípio Esperança, de Ernst Bloch, e Tempo e Narrativa, de Paul Ricoeur. "São livros pesados. Eu precisaria de férias ou de aposentadoria."

Se Gabeira cogita se aposentar em breve? A resposta é não. "Vou pensar nisso quando ficar velho", brinca.

Estadão
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