PUBLICIDADE

Renata Pallottini, poeta e dramaturga, morre aos 90 anos

Renata Pallotini estava internada em um hospital de São Paulo desde quinta-feira, dia 1º; leia alguns poemas

8 jul 2021 - 12h51
(atualizado às 15h17)
Compartilhar
Exibir comentários

Renata Pallottini, poeta, dramaturga, contista, romancista, tradutora e ensaísta, morreu às 6h30 desta quinta-feira, 8. Ela tinha 90 anos.

Renata lutava contra um mieloma e estava internada desde a quinta passada, 1º, no Hospital Santa Catarina, em São Paulo. O velório será no Cerimonial Pacaembu (Av. Pacaembu, 1.254), das 13h às 15h.

Nascida em São Paulo no dia 20 de janeiro de 1931, Renata se formou em Direito, em 1951, e em Filosofia, em 1953. Em 1951, começou a trabalhar como revisora na Tipografia Pallottini, de sua família. Em 1952, produziu, lá, Acalanto, seu primeiro livro de poemas.

Renata Pallottini se aproximou do teatro e ingressou no curso de artes cênicas da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD/USP), onde se formou em 1964 e deu início à carreira de docente, tradutora e estudiosa de teatro e televisão.

Escreveu e produziu trabalhos para teatro e televisão, entre os quais Vila Sésamo, Malu Mulher e Joana. Publicou livros de poesia, prosa, teatro e ensaios. Sua estreia na prosa foi com o livro de contos Mate é a Cor da Viuvez, em 1974. Uma década depois, publicou seu primeiro livro infantil, Tita, A Poeta.

Membro da Academia Paulista de Letras, Renata Pallottini é autora de obras como O Que é Dramaturgia, publicada pela coleção Primeiros Passos, da Brasiliense. Mais recentemente lançou Chez Mme Maigret (Global), O País da Utopia (Hucitec), Dramaturgia de Televisão (Perspectiva) e Dramaturgia: A Construção da Personagem (Perspectiva) , entre outros.

Entre os prêmios que ganhou ao longo de sua trajetória estão o Pen Clube do Brasil para Poesia, em 1961; o Prêmio Governador de Estado para Teatro e o Moliére, de Teatro, em 1965; o Prêmio Anchieta de Teatro em 1969; a Medalha do Mérito da Câmara Municipal de São Paulo, em 1971; o Prêmio Jabuti de Poesia em 1966 e o Prêmio Cecilia Meirelles de Poesia, em 1997, entre outros.

Sua biografia, Renata Pallottini Cumprimenta e Pede Passagem, escrita por Rita Ribeiro Guimarães com base no depoimento de Renata, foi publicada em 2006 pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

Poemas de Renata Pallottini

Alguma coisa

Alguma coisa fica

do caminhar contínuo

e deste sono.

Alguma folha fica

da primavera

no outono.

Algum fruto, algum gesto, alguma voz.

Alguma coisa frutifica.

E fica em nós.

Cerejas, meu amor

Cerejas, meu amor,

mas no teu corpo.

Que elas te percorram

por redondas.

E rolem para onde

possa eu buscá-las

lá onde a vida começa

e onde acaba

e onde todas as fomes

se concentram

no vermelho da carne

das cerejas...

Inverno

Parece de metal a noite destas ruas.

Os homens estão quietos nos portais.

A luz corta. A esperança não desperta.

Esqueceram acesa a lãmpada da porta.

Donos cobrem de lanças os espaços,

de espadas os desvãos e de lama

os jornais.

Amanhã com certeza os bancos se abrirão.

Por que não? Será um dia como os outros

cheio de transversais e comerciais.

Apagou-se a fogueira dos choferes.

A madrugada roxa parte o coração

dos pombos

dos meninos

das mulheres.

Onde é que toda essa gente se banha?

Que será deles todos?

Para qual

deles alguma vida se fará?

Para quem se abrirá alguma fresta?

Folhas de vidro as árvores.

E eu

estou voltando de uma grande festa.

Merda! Só isso.

Estou voltando

de uma grande festa.

Viagem

Faço uma viagem

quase sem sentido.

Preparo a bagagem.

Mas por que motivo?

Nada me motiva

salvo um emotivo

grave coração

que me olha nos olhos

e diz: tens razão.

Vai e sem motivo.

Antes sim que não.

A um homossexual assassinado

Adestravas cachorros.

Provavelmente nunca te morderam.

Hoje estás para sempre debaixo da terra

morto por homens

que adestram

demônios.

(Poemas extraídos do blog da autora)

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade