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"Era muito vaidoso", declara Toquinho sobre Vinicius de Moraes

6 jun 2012 - 17h20
(atualizado às 19h55)
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Beatriz Carrasco
Direto de São Paulo

Convidado do Terra Live Music desta quarta-feira (6), Toquinho falou sobre parcerias e sucessos do passado, presente e futuro. O músico, que ficou oito anos sem lançar um disco, voltou em 2011 com o álbum de 15 canções inéditas, Quem Viver, Verá. Sorridente, ele apresentou Anna Seton, cantora da nova safra que participou de seu mais recente trabalho, e pediu para que a apresentadora, Lorena Calábria, escolhesse a primeira canção a ser interpretada.

No intimismo de seu violão, o músico deu voz a uma versão um pouco mais acelerada das conhecidas Tarde em Itapoã e Samba de Orly. Ao término, Toquinho relembrou que Samba de Orly foi composta em uma época de muita repressão, durante a Ditadura Militar, quando Chico Buarque estava deixando o País rumo ao exílio.

Tarde em Itapoã, por sua vez, marcou a sua carreira, já que representa a confiança de Vinicius de Moraes em seu trabalho. A parceria, que rendeu cerca de 130 composições, foi classificada por Toquinho como algo muito intenso, "que marcou a década de 1970 de uma forma bem brasileira". De acordo com o violonista, Vinicius o ensinou a "curtir" as músicas durante a composição, "sem dar muita importância para a carreira". "Depois que fazíamos a canção de uma maneira natural, a administrávamos de uma maneira profissional", completou.

Com mais de 80 discos gravados, entre trabalhos autorais, infantis e compilações, Toquinho conta que o seu novo registro nasceu de um acúmulo de criação. "Eu não tenho dificuldade em fazer música", contou, ao descrever que não tem pressa para desenvolver suas produções.

Ao apresentar Anna Seton, o músico também comentou sobre a forte presença de vocais femininos em seus trabalhos, que vem desde a época em que dividiu o palco com Miúcha, Elis Regina e Clara Nunes. "A presença feminina no show dá uma dinâmica maior", disse, ao valorizar a diversidade.

Em Quem Viver, Verá, a tendência continua, com a participação de Ivete Sangalo no frevo Quero Você. "A Ivete canta bem tudo, é uma cantora linda", derrete-se, ao interpretar, em seguida, a canção, comemorando por recordar de toda a letra.

Além da baiana, o CD traz outros convidados. Entre eles, o escritor chileno Antonio Skármeta, autor do romance O Carteiro e o Poeta, e Zeca Pagodinho. Outra presença inusitada neste trabalho é a da filha de Toquinho, Jade Pecci. A moça, que escreveu o poema Porta do Infinito aos 12 anos, teve seu texto trabalhado e transformado na canção homônima.

A romântica faixa Romeu e Julieta, que fecha o álbum, faz parte de um mistério, segundo Toquinho. Composta na década de 1970, a letra se perdeu e não foi gravada. "Não ia fazer essa traição póstuma com o Vinicius", brincou o violonista. Anos depois, porém, enquanto o violonista jogava sinuca com Paulinho da Viola, uma senhora o abordou e mostrou a versão original da canção, sem revelar como a conseguiu e, posteriormente, sem declarar nada à imprensa.

A história de Regra Três também remete a décadas passadas. Composta por Vinicius, a primeira versão tinha outro nome, que, segundo Toquinho, era "muito pobre". "Vinicius era muito vaidoso", comentou ele, ao recordar que o ex-parceiro não gostou da sua crítica, mas que fez outra letra em sua homenagem e o seu gosto em ter várias namoradas ao mesmo tempo. "Eu era muito namorador", ri, ao justificar a temática da música, e relembrar que Vinicius, casado 9 vezes, dizia que era "homem de uma mulher só de cada vez".

Após interpretar outras canções, como Quem Viver, Verá - que, segundo ele, "é uma ode à vida" - Toquinho falou sobre o seu envolvimento com o universo infantil. Autor da famosa Aquarela, ele afirma que não se pode subestimar a criança. O músico, então, canta Acquarello, versão em italiano do sucesso, e se diverte ao esquecer a letra no meio da apresentação. "Não estou lembrando", diz, com naturalidade, ao frisar, em seguida, que prefere errar a utilizar recursos como o teleprompter. "Quanto mais você depende da letra, mais fica com dificuldade", observou.

Quando convidado pela apresentadora para cantar algo que o faça sentir saudade, Toquinho não hesitou em dizer que não gosta deste sentimento. "Eu não gosto desse negócio de saudade, eu me recuso a ter saudade", desabafa, antes de dar voz a Sinal Fechado. Para encerrar a apresentação, o violonista escolhe a dedo a composição Chega de Saudade, de João Gilberto, que, segundo ele, "é uma divisória de águas".

"A minha carreira é muito maior que eu", observou, ao fim da interpretação, destacando que se considera uma pessoa comum, sem ter a dimensão de seu sucesso. "Não quero viver a vida do que foi feito, do glamour", pontuou, ao comentar que não dá valor ao sucesso e que prefere lidar com tudo com "muita simplicidade".

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Fonte: Terra
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