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Série 'Bom Dia, Verônica' comemora 30 anos do escritor Raphael Montes

Produção exibida pela Netflix será o primeiro trabalho do escritor feito em parceria com a criminologista Ilana Casoy

22 set 2020 - 05h10
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Não é apenas a literatura que inspira o escritor Raphael Montes, mas também o cinema, televisão, teatro, pessoas, conversas. Aos 30 anos, festejados exatamente nesta terça, 22, ele é fã da cultura pop (como os romances de Agatha Christie e filmes de Quentin Tarantino) e dela se alimenta para construir uma das mais sucedidas carreiras literárias País. Além dos prêmios que já recebeu e da enorme popularidade, Montes poderá comprovar no dia 1.º de outubro, quando estreia Bom Dia, Verônica, série da Netflix baseada em obra que ele assinou ao lado da criminologista Ilana Casoy.

Será o fato mais inusitado de sua ainda breve carreira, iniciada em 2012 com a publicação de Suicidas - afinal, trata-se do primeiro trabalho que escreveu em parceria e cuja adaptação foi feita pela própria dupla além de Gustavo Bragança, Davi Kolb e Carol Garcia. "É, de fato, um produto coletivo, que vai ser exibido em 190 países, em inglês e espanhol", conta o escritor, que também atua como produtor executivo, ou seja, acompanhou as filmagens, nas quais não só opinou sobre os figurinos, por exemplo, como também ajudou na reescrita de cenas, quando necessário.

O desejo era deixar sua marca autoral, aquele toque que seus leitores de romances policiais já conhecem. "Desde Suicidas, percebi que agradava a tensão seguida de alguma surpresa, uma reviravolta na trama, a discussão sobre algo importante", conta Montes, que não abusa de deduções científicas ao buscar rastros que possam conduzir ao assassino, tampouco esconde pistas "verdadeiras" entre um amontoado de falsas pegadas. Ou seja, uma fluência no texto com a intenção primordial de entreter o leitor. "É preciso ter drama, mas também humanidade, cultivando uma voz autêntica, sem concessões."

Foi graças a esse plano de rota que a literatura de Raphael Montes alçou voo logo com o primeiro romance - Suicidas surpreendeu, em 2012, o júri do Prêmio Benvirá, editora que acabaria publicando o romance. Motivo: era uma obra caudalosa sobre nove jovens que se reúnem para se matar em um jogo de roleta-russa. A complexidade da trama espantaria até autores experientes, mas Montes, então com 22 anos, estudante de Direito, nativo do bairro carioca do Méier, acreditava no potencial da história, um coquetel que unia drogas, sexo, violência e um final surpreendente, capaz de acelerar os batimentos cardíacos.

O boca a boca ajudou a consolidar o sucesso e, quando o livro foi publicado nos Estados Unidos, o jornal Chicago Tribune vaticinou: "Raphael Montes é um autor tão ousado quanto Stephen King, Chuck Palahniuk, Agatha Christie e Patricia Highsmith". Mas o começo não foi assim tão fácil - Montes escreveu o livro entre seus 16 e 19 anos, "momento em que não conhecia ninguém do mundo artístico", conta ele, que não se interessava por livros até os 12 anos, quando lhe caiu nas mãos Um Estudo em Vermelho, de Arthur Conan Doyle. O jovem percebeu, então, que histórias policiais lhe interessavam.

E não apenas como leitor - aos poucos, o jovem escritor começou a desenvolver seu método, que consiste em só começar a escrever depois de saber como começa e, principalmente, como termina a história que se propõe a contar. Com o tempo, quando desenvolveu outras habilidades e se tornou também roteirista, Montes passou a separar suas ideias segundo a destinação: romance ou roteiro. "O essencial é que seja algo diferente de tudo o que já tenha feito", explica ele.

Depois de Suicidas, Montes ouviu um pedido da mãe, que gostaria de ler uma história de amor, e escreveu Dias Perfeitos (2014), uma love story ao seu estilo, em que não falta sangue: Téo é um rapaz que se revela um psicopata ao sequestrar Clarice, garota por quem se apaixona, obrigando-a a viajar para diversas cidades.

Com apenas dois livros no currículo, Montes conseguiu o elogio de um papa da escrita noir, o americano Scott Turow, que vaticinou: "Raphael certamente redefinirá a literatura policial brasileira e vai surgir como uma figura da cena literária mundial". O que para muitos representaria o topo, para o brasileiro foi apenas mais um degrau.

Disposto a manter firme seu mantra de não se repetir, Montes publicou em seguida os contos de O Vilarejo (2015), Jantar Secreto (2016) e Uma Mulher no Escuro (2019). Entre eles, surgiu ainda Bom Dia, Verônica, lançado em 2016, mas assinado por Andrea Killmore. Para os fãs do gênero, tratava-se obviamente de um pseudônimo, pois não havia nenhuma informação sobre tal autor. A revelação só aconteceu no ano passado, quando uma reportagem do Estadão divulgou que Andrea Killmore era uma fachada para Montes e Ilana Casoy, uma criminologista que assinou impactantes obras de não ficção. "Foi uma adorável parceria", relembra o escritor. "Quando iniciamos a escrita, eu já dizia que inspiraria uma série da Netflix."

De fato, a escrita direta, absorvente, já indicava que a adaptação não seria complicada. O livro acompanha Verônica Torres, escrivã da Delegacia de Homicídios de São Paulo que, em uma mesma semana, testemunha o chocante suicídio de uma jovem ao mesmo tempo que recebe uma ligação anônima de uma mulher desesperada por ver sua vida ameaçada.

Na série, Verônica é interpretada por Tainá Müller e o elenco conta ainda com Camila Morgado, Eduardo Moscovis, Aline Borges, Antonio Grassi e Elisa Volpatto. A direção é de José Henrique Fonseca, que manteve um bom relacionamento com Montes. "Foi uma ótima parceria: enquanto compartilhei o processo de adaptação do livro para roteiro, ele me mostrou como foi o processo de seleção de atores", revela o escritor, que mexeu na história, valorizando personagens como Janete, vivida por Camila Morgado.

Bom Dia, Verônica nem estreou e Montes já está envolvido em novos projetos - como do livro Os Vizinhos, um "paranoid thriller" sobre um jovem casal gay que se muda para um prédio em Copacabana onde conhece vizinhos nada amigáveis. E ainda uma série, Quem Matou, com um estilo brasileiro. Tudo para iniciar, em grande estilo, sua nova década de vida.

Estadão
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