Ópera viaja pelo interior, chega a 12 mil pessoas e abre espaço para novos talentos
Projeto 'A Caminho do Interior', do Consulado da Itália e Instituto Italiano de Cultura, percorre 15 cidades de São Paulo
A ópera só começaria às 21 horas, mas o movimento já era grande na frente do teatro em São José do Rio Preto no final da tarde. "Era uma molecada", lembra o produtor Paulo Ésper. "A gente até ficou em dúvida sobre se era para a ópera mesmo." Mas era, e horas depois, o teatro de 900 lugares estava lotado.
A cidade foi uma das quinze do interior de São Paulo que, desde agosto, receberam uma montagem da ópera I Pagliacci, de Leoncavallo. Catorze récitas já foram - faltam ainda Americana (nesta quinta-feira, 25), Rio Claro (sexta-feira, 26) e Jacareí (no domingo, 28). Ao todo, 12 mil pessoas já viram o espetáculo.
O projeto integra a série A Caminho do Interior, do Consulado da Itália em São Paulo e do Instituto Italiano de Cultura. O objetivo é levar produções para o interior, difundindo gêneros e espetáculos que não costumam estar nas programações locais. E dando oportunidades a jovens artistas de aperfeiçoar o trabalho.
"Trabalhamos para promover a cultura italiana e ir para o interior é um caminho natural, pois há uma enorme comunidade italiana cuja atuação se mistura à história do estado", diz Michele Gialdroni, diretor do instituto. "É uma iniciativa que abre espaço para os artistas ao mesmo tempo em que envolve as comunidades locais. E a ópera, claro, tem ligação forte com a identidade do povo italiano. Mas muita gente, mesmo já tendo ouvido falar, não teve a chance de ver ao vivo, no teatro", completa.
"Há uma vasta oferta de teatros pelo interior de São Paulo, alguns mais equipados, outros menos. Mas são espaços que podem e devem ser ocupados, pois são importantes para as comunidades e também porque podem servir de palco, entre outras possibilidades, para novas gerações de artistas", diz Ésper, que é diretor da Cia. Ópera São Paulo, que também realiza há vinte anos o Concurso Maria Callas, dedicado a descobrir jovens talentos.
Desafios
Levar um mesmo espetáculo para quinze cidades não é tarefa fácil. Além do transporte e adequação dos cenários, há também questões artísticas. "Em cidades diferentes, há orquestras diferentes, com maestros com novas ideias em termos de interpretação, o que exige tempo de ensaio", explica Ésper - em São Paulo, o acompanhamento foi da Sinfônica de Santo André e outros grupos participaram, como a Sinfônica de Santos, as filarmônicas de Ribeirão Preto e Rio Claro ou a Sinfônica de Americana.
Dá trabalho, mas vale a pena, diz a soprano Thayana Roverso, que atuou em cinco cidades. "Do palco, você sente a atenção do público, é uma sensação muito forte", ela conta. "E depois, conversando com as pessoas, percebe que elas viveram aquilo de maneira intensa. Conversam sobre os personagens, sobre a história, sobre o desfecho. Fica claro como a ópera pode ter uma relação direta com o coração do público."