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Do apoio a artistas jovens à defesa da democracia, Gal não se calou

Cantora era considerada uma das maiores vozes do Brasil e morreu nesta quarta-feira aos 77 anos

9 nov 2022 - 17h06
(atualizado às 17h28)
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Morre Gal Costa, cantora e compositora, a Musa da Tropicália
Morre Gal Costa, cantora e compositora, a Musa da Tropicália
Foto: @galcosta_

O Brasil perdeu, na manhã desta quarta-feira, 9, a cantora Gal Costa, uma das maiores vozes do País. Em seus mais de 50 anos de carreira, Gal mostrou quem era, inovou, celebrou nomes consagrados da música e se uniu a novos, principalmente nos últimos discos.

Um dos marcos de sua reinvenção foi o disco 'Recanto', lançado em 2011. O álbum em que a cantora interpreta canções inéditas compostas por Caetano Veloso, a quem ela carinhosamente chamava de "meu compositor", foi responsável também por renovar seu público, conquistando um público mais jovem.

"Nossa relação de amor é musical", disse a artista ao Estadão, sobre sua relação com Caetano quando do lançamento do disco. Quando perguntada se não era uma obrigação de artistas consagrados lançarem novos compositores, ela brincou e respondeu: "Ah, eu recebi um material de um compositor novo chamado Caetano Veloso".

No mesmo ano, ela se preparava para entrar em turnê com o show 'Estratosférica Ao Vivo'. Na época, quando conservadores chamaram Caetano de pedófilo por conta de seu relacionamento com Paula Lavigne, com quem o compositor ainda é casado, ela saiu em defesa do amigo.

"É um momento muito estranho este que estamos vivendo, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Há uma tendência muito ruim da parte das pessoas de intolerância, que chega à censura. A censura não vem só de cima, vem também das pessoas."

Ainda sobre temas políticos, em 2019, quando do lançamento do disco 'A Pele do Futuro ao Vivo', Gal foi enfática em se posicionar contra a intolerância religiosa e contra a homofobia.

"É uma maneira de defender a cultura negra, a religião negra, da qual eu faço parte. Sou do candomblé de dona Menininha do Gantois, grande mulher, linda, negra, sábia", disse sobre o disco 'Obatalá - Uma Homenagem a Mãe Carmen', lançado naquele ano.

Na mesma entrevista, a cantora criticou a censura sofrida por uma HQ durante a Bienal do Livro no Rio de Janeiro porque dois personagens apareciam se beijando na capa.

"Quando eu assisti pela televisão que o (prefeito Marcelo) Crivella tinha censurado o beijo de dois homens (no livro) na Bienal do Rio, que eu vi as pessoas falando que ele tinha permitido vender os livros num invólucro preto, me lembrei do (disco) Índia, porque com o Índia, que saiu nos anos 1970, foi assim. Meu disco tinha de ser vendido num invólucro preto, não tinha nada de mais", rememorou o episódio de censura de seu álbum.

"Com o governo federal que a gente tem hoje, a gente fica assustada com as declarações, com a maneira como as coisas são tratadas. A gente que viveu na época da ditadura tem medo que isso volte, está aí na atmosfera", continuou, fazendo menção à gestão de Bolsonaro na presidência.

Estadão
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