Autoras mineiras celebram o 'Clube da Esquina' em sessões de autógrafos em São Paulo
Andréa Estanislau, Duca Leal e Vilma Nascimento revisitam memórias vividas ao lado de Milton Nascimento, Lô Borges e parceiros históricos
O final de novembro em São Paulo será marcado por duas sessões de autógrafos que celebram o legado do Clube da Esquina e de Milton Nascimento, reunindo as autoras Vilma Nascimento, Duca Leal e Andréa Estanislau em encontros na Livraria Bibla, na Vila Madalena, dia 27 (quinta-feira) e no restaurante Consulado Mineiro, em Pinheiros, dia 29 (sábado).
Na Bibla, a programação incluirá pocket show de Graziela Medori, intérprete do álbum-tributo Nossas esquinas, e bate-papo mediado pelo jornalista André Uzêda. Infelizmente, os encontros ganham um novo significado com a passagem recente de Lô Borges (1952-2025), mas ganham o caráter de homenagem e honra à memória dessa figura primordial para o Clube da Esquina e a música mineira e brasileira.
Testemunhas oculares, pesquisadoras e parte viva da história do movimento musical que mudou a música brasileira nos anos 1970, essas três mulheres contam seus pontos de vista, com suas vozes e vivências particulares, sobre um capítulo fundamental da nossa cultura.
Vilma Nascimento, autora de De onde vem essa força, em parceria com Jary Cardoso e João Marcos Veiga, é prima de Milton Nascimento e conviveu com a turma no Rio de Janeiro no início dos anos 1970, quando Milton, Lô Borges e parceiros como Fernando Brant, Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Toninho Horta trabalhavam no álbum Clube da Esquina, cujo impacto reverbera até hoje. "Eu ficava pra cima e pra baixo com a turma. Muitos chopes no Garota de Ipanema, muita festa, muito show, muita praia", lembra Vilma.
Em seu primeiro livro, ela resgata as raízes familiares de Milton Nascimento em Juiz de Fora, onde vive parte da família, a partir da trajetória da matriarca Vó Maria e das mulheres da família Nascimento. A obra revela histórias inéditas sobre a mãe biológica de Milton e suas conexões com a família adotiva de Três Pontas, trazendo fotos raras e relatos pouco conhecidos que enriquecem a compreensão da vida e da obra do artista.
"A música corria pelas nossas veias", conta a autora, que já foi cantora, fez duetos com Gilberto Gil e chegou a lançar um álbum, Conquistado. Vilma, aliás, é a mesma que Milton cita na canção Raça, junto com uma tia deles: "Atraca Vilma e tia Ercília".
Quem também fazia parte integrante da "turma dos mineiros" no Rio de Janeiro era a então esposa de Márcio Borges, Duca Leal. Produtora, poeta e escritora, ela foi também musa inspiradora de clássicos como Um girassol da cor do seu cabelo e Vento de maio.
Produziu o álbum de estreia, homônimo, da cantora Aline (1979), um dos primeiros álbuns independentes do Brasil, o primeiro lançado por uma mulher, e também o icônico Os Borges (1981) pela EMI-Odeon. É cofundadora da Associação dos Produtores Independentes do Rio de Janeiro e autora de letras como a da música Outro cais, imortalizada pela voz de Elis Regina (1945-1982).
Em seu livro autobiográfico, Histórias de outras esquinas, ela conta as peripécias de sua vida, e de toda a trupe, até o final dos anos 1980. "Eu não me considero uma escritora, mas uma contadora de histórias", avisa.
O livro de 400 páginas, 100 delas só de fotos, conta ainda com textos de Márcio Borges e outros colaboradores. O livro reúne passagens ao lado de Márcio e Milton e encontros com nomes como Elis Regina, Leila Diniz, Caetano Veloso e Joyce, entre outros grandes artistas.
Andréa, a mais recente da turma, conheceu o Clube da Esquina ainda na adolescência, quando ficou encantada por aquelas músicas e, em especial, pela figura mítica de Milton Nascimento. No final da faculdade de Design Gráfico, desenvolveu como projeto de conclusão de curso a ideia de uma publicação que se tornaria o livro Coração Americano - Bastidores do álbum Clube da Esquina, que teve a primeira edição lançada em 2008.
"Eu tive o privilégio de conversar com todos os artistas do Clube. Consegui os contatos e fui batendo de porta em porta. Mesmo vendo só o esboço do livro, os artistas compraram a ideia, porque viram o meu entusiasmo e amor, uma paixão verdadeira pelo Clube da Esquina", relembra.
Clube da Esquina ganhou uma edição revista e ampliada
Em 2020, o livro do Clube da Esquina, que tem projeto gráfico primoroso, ganhou uma edição revista e ampliada, que será apresentada ao público no evento. "Quando fiz a pesquisa e lancei a primeira edição em 2008, percebi que muita gente não conhecia o Clube da Esquina. Hoje, ainda tem gente em Belo Horizonte que nunca ouviu falar sobre o movimento que nasceu nas ruas da cidade, então é importantíssimo resgatar essa memória e divulgá-la para que as novas gerações tenham acesso a esse patrimônio que é a música popular brasileira", reflete.
Vilma e Duca se reencontraram em 2024, quando a prima de Milton saiu de Salvador, onde mora atualmente, exclusivamente para ver o lançamento do livro da amiga e reencontrá-la. No mesmo ano, Duca conheceu Andréa em um show em homenagem ao Clube da Esquina no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
"Era como se nós fôssemos amigas de infância", conta. Desses encontros surgiu a ideia de se juntarem para viajar e divulgar seus livros e mostrar o ponto de vista feminino da história. "A música, em especial a do Milton Nascimento, faz parte de nossas vidas. A amizade que a gente criou e o afeto entre nós nos fortalece", diz Andréa. "Dá pra sentir o pique de nós três juntas. E é um grupo só com mulheres feministas, não é?", acena Andréa. "E bonitas", acrescenta Vilma, devidamente. "Não esqueça disso".
Sessão de autógrafos dos livros sobre o Clube da Esquina das autoras Vilma Nascimento, Andréa Estanislau e Duca Leal.
Dia 27 (quinta-feira), na Livraria Bibla às 18 horas. (Praça Professora Emília Barbosa Lima, 58 - Vila Madalena, São Paulo - SP)
Dia 29 (sábado), no restaurante Consulado Mineiro às 19 horas. (R. dos Pinheiros, 1034 - Pinheiros, São Paulo - SP)