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Harari: 'Creio que a IA vai escrever livros melhor do que eu', diz historiador em São Paulo

Autor israelense de sucessos como 'Sapiens' participou da 25ª edição do HSM+ nesta quinta, 6, em evento mediado por Erick Bretas, CEO do 'Estadão', e falou sobre confiança, algoritmo e Spielberg

6 nov 2025 - 21h46
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Principal atração da 25ª edição do HSM+, um dos principais eventos de gestão e liderança corporativa da América Latina, o historiador Yuval Noah Harari fez uma palestra no Transamerica Expo Center, em São Paulo, nesta quinta-feira, 6, com mediação de Erick Bretas, CEO do Estadão.

Autor dos best-sellers Sapiens, Homo Deus e 21 Lições para o Século 21, o intelectual israelense, de 49 anos, subiu ao palco por volta de 10h30 para uma conferência cujas temáticas centrais foram a confiança e a inteligência artificial. Foi a segunda participação do escritor no HSM+, após ter sido convidado em 2019.

Ele também já esteve na capital paulista em 2025. Em agosto, no Auditório do Ibirapuera, participou de uma prévia do SP2B - São Paulo Beyond Business, evento de negócios, criatividade e inovação que será realizado na cidade em 2026. Agora, voltou para realizar uma agenda de compromissos que incluiu um debate do Fronteiras do Pensamento, com Luciano Huck, na última terça-feira, 4, no Rio de Janeiro.

No palco, Harari começou a palestra com um discurso de cerca de 30 minutos. "Há um déficit de confiança no mundo. O que está acontecendo é que a confiança não desaparece completamente, ela está mudando de humanos para algoritmos e IAs. Em vez de confiar em outros humanos, as pessoas cada vez mais confiam apenas em algoritmos", disse.

Ele então expressou conceitos descritos em seu mais recente livro, Nexus, no qual destacou o poder das redes de informações, da Idade da Pedra até a Idade do Silício. "As IAs estão à beira de escapar do controle humano e tomar poder em muitos campos. Se você quer entender como as IAs podem escapar do controle humano, não pense em robôs assassinos. Pense em corporações comerciais, como Microsoft e Petrobras, que são agentes não humanos. Elas não têm um corpo, e não têm uma mente, mas a lei permite que essas corporações tenham muita agência no mundo, para abrir contas bancárias, contratar pessoas, demitir pessoas, fazer lobby junto a políticos", ele disse.

Yuval Harari e Erick Bretas deram palestra no evento HSM+, em São Paulo
Yuval Harari e Erick Bretas deram palestra no evento HSM+, em São Paulo
Foto: Divulgação/HSM+ / Estadão

E seguiu: "Anteriormente, todas as decisões de uma corporação como Microsoft ou Petrobras eram feitas por seres humanos. Agora, está se tornando tecnicamente possível para decisões corporativas serem feitas por IAs. E estamos muito próximos do ponto onde tecnicamente podemos ter uma corporação sem executivos humanos e sem acionistas humanos, apenas executivos e acionistas IAs", ressaltou, diante de um vasto público que lotou o pavilhão do Transamerica Expo Center.

O pensador israelense, que tem interações frequentes com políticos e magnatas da tecnologia, como Mark Zuckerberg e Bill Gates, ainda fez um apelo aos executivos brasileiros que compareceram ao evento. Ele enfatizou o valor do descanso e do tempo para os seres humanos. "Se você não tem tempo, você é pobre", salientou.

Após a abertura, o intelectual conversou com Erick Bretas por mais 30 minutos, em um papo que abordou temas como democracia, a mídia na era digital e o emprego da IA em grandes empresas. "É uma honra poder conversar com um dos grandes pensadores do mundo contemporâneo", disse o CEO do Estadão.

Yuval Harari e Erick Bretas deram palestra no evento HSM+, em São Paulo
Yuval Harari e Erick Bretas deram palestra no evento HSM+, em São Paulo
Foto: Divulgação/HSM+ / Estadão

Bretas lembrou que o Império Romano foi influenciado pela cultura grega, mas que aquela monarquia não exportou a democracia pois não tinha as ferramentas necessárias para isso, como livros. Desta forma, ao longo dos anos, jornais e emissoras de rádios e de televisão habilitaram a difusão da democracia. "Esses meios sempre foram mediados por pessoas humanas, mas agora a nossa democracia é mediada por algoritmos, por máquinas. Qual o efeito disso?", questionou o executivo.

"Já estamos vendo. Nos EUA, a única coisa sobre a qual Democratas e Republicanos ainda conseguem concordar é que a conversa está desmoronando. Eles não concordam em mais nada. É porque os algoritmos que gerenciam a conversa. Os algoritmos que gerenciam TikTok, YouTube e Facebook não têm como objetivo proteger a democracia. Seu objetivo é aumentar o engajamento do usuário e fazer as pessoas passarem mais tempo na plataforma", explicou o escritor.

Em outro momento, Harari deu uma opinião curiosa sobre seu próprio ofício. Ele disse que está trabalhando em um novo livro, informação a qual adiantara em entrevista ao Estadão na semana passada. "Suspeito que há uma boa chance de este ser o meu último livro. Porque até o tempo que ele for lançado, em uns dois ou três anos, as IAs vão ser capazes de escrever livros melhor do que eu".

"Muitas pessoas vão protestar contra isso", rebateu Bretas, em tom descontraído.

"Não é algo que eu quero. Não é algo que me deixa animado. É apenas admitir a realidade. Eu não tenho certeza se é 100% de chance de acontecer. Em 20 anos, eu acho que é 100%. Mas digamos em dois ou cinco anos, eu diria que há 50% de chance que IAs escreverão livros melhor do que eu e produzirão filmes melhor do que Steven Spielberg", concluiu.

Estadão
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