Giovanna Lancellotti desabafa sobre violência em 'Dona de Mim' e advogada analisa: 'Fere a dignidade'
A advogada Jéssica Nascimento analisa o desabafo de Giovanna Lancellotti sobre violência contra a mulher.
O desabafo da atriz Giovanna Lancellotti, em rede nacional, sobre situações de violência contra a mulher e stalking, abriu espaço para uma discussão necessária. Para a advogada Jéssica Nascimento, especialista em direito da mulher, tratar de crimes como estupro e perseguição é essencial para dar visibilidade a violências que muitas vezes permanecem silenciadas.
"É importante que o tema seja abordado, mas isso precisa ser feito com muita sensibilidade, porque as chances de gerar gatilhos em vítimas que estão assistindo são muito altas. Produções e coberturas midiáticas devem ter a responsabilidade de acolher e não de revitimizar", pontua a especialista.
Stalking: um crime recente na lei brasileira
O stalking passou a ser tipificado como crime no Brasil em 2021, com a promulgação da Lei nº 14.132. De acordo com Jéssica, trata-se de uma perseguição reiterada que ameaça a liberdade e a segurança da vítima, causando intenso sofrimento emocional.
"O stalking costuma começar de forma sutil e vai se intensificando com o tempo. Em alguns casos, pode evoluir para agressões físicas e até sexuais. A série Bebê Rena, da Netflix, exemplifica bem como a perseguição se instala e destrói a rotina de quem é alvo", explica a advogada.
Estupro e suas consequências
Sobre o estupro, a especialista reforça que se trata de uma violência que deixa marcas permanentes. "O estupro fere a dignidade, a intimidade e a forma como a mulher se percebe no mundo. Muitas vítimas desenvolvem transtorno de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade e dificuldades de retomar a vida social, profissional e afetiva. É como um luto de si mesmas, uma ruptura entre quem eram antes e quem conseguem ser depois da violência", afirma Jéssica.
Ela lembra ainda que os casos no Brasil são amplamente subnotificados, seja por medo, vergonha ou desconfiança nas instituições.
A cultura do estupro no Brasil
Segundo a advogada, o debate também precisa expor a cultura do estupro presente na sociedade brasileira. "É um conjunto de crenças e práticas que naturaliza a violência sexual e coloca em dúvida o comportamento da vítima, em vez de responsabilizar o agressor. Perguntas como 'por que ela estava lá?', 'por que usava aquela roupa?' ou 'será que não provocou?' são expressões claras dessa cultura que silencia e culpabiliza", observa.
A necessidade de narrativas responsáveis
Para Jéssica Nascimento, falar sobre o tema é fundamental, mas deve ser feito com letramento de gênero e consciência. "Mostrar o tema é necessário, mas é igualmente essencial reforçar que a culpa nunca é da vítima, em nenhuma circunstância", conclui.