'Veronika Decide Morrer' leva Paulo Coelho aos cinemas
Somos introduzidos à Veronika a partir de versão compilada que a personagem faz de sua vida: ela é uma mulher que sempre dançou conforme a música, mas nunca conseguiu acertar o ritmo. O descompasso entre os sonhos projetados e as realizações pessoais agendadas, tal qual um investimento em fundo de garantia, fazem de Veronika uma mulher bege em um mundo cinza. E para se livrar desse tédio monocromático, ela decide recorrer às coloridas pílulas que deveriam apagar de uma vez por todas qualquer imagem da realidade como ela a enxerga.
Naturalmente, como esse se trata de um filme sobre redenção, não será desta vez que a protagonista encontrará seu desfecho. Afinal de contas, estamos lidando com a primeira adaptação cinematográfica de um livro do brasileiro best-seller Paulo Coelho e não é preciso ser um exímio conhecedor da obra do autor para entender que lições precisam ser aprendidas no caminho da autoanálise. Veronika Decide Morrer é, claro, um filme com o bônus moral da história incluso no preço do ingresso.
No papel-título está Sarah Michelle Gellar, atriz cujo personagem mais dramático com que ela havia cruzado até hoje era a caçadora de vampiros Buffy, da série homônima. Sarah usa o recurso da maquiagem pálida e dieta anoréxica para dar veracidade à angústia de Veronika. Mas há algo em sua voz de cheerleader que congelou no tempo a imagem de alguém de pouca afinidade com crises existencialistas. Ainda assim, é de reconhecer o esforço da atriz em dar autenticidade ao drama de alguém que precisa sair correndo desse labirinto pré-projetado.
Entra-se então em contato com o cenário maior do filme, uma clínica psiquiátrica onde Veronika é internada com o seguinte diagnóstico: a combinação de remédios que ela tomou foi de tal forma devastador em seu organismo que, a qualquer momento, ela pode sofrer um ataque cardíaco que, sim, irá tirar sua vida. A bomba-relógio interna cria uma sensação de fragilidade maior ainda para a protagonista que passa a andar na corda bamba, segurando de um lado o seu insistente impulso suicida e, do outro, as cínicas sessões de análise com o Dr. Blake (David Thewlis), cuja legitimidade de "doutor" tenta ser extraída de seu sutil sotaque inglês. Nesse universo, Veronika conhece Edward (Jonathan Tucker, de No Vale das Sombras), uma versão menos explosiva de Tarso Cadore (Caminho das Índas). Juntos, eles vão tentar achar uma brecha para salvação de suas almas.
Em razão de algumas soluções de densidade menos espessa e criações estéticas inspiradas na iconografia básica dos sonhos (a imagem da calmaria de um lago do outro lado da vida), a direção do filme termina dando mais consistência dramática a atores mais maduros, que é o caso, por exemplo, da personagem de Melissa Leo, no papel de uma mulher que, assim como Veronika, tinha tudo muito bem estabelecido em sua vida, marido, filhos, emprego, até que algo disparou na hora errada em sua cabeça.
A diretora Emily Young tem no currículo sólidos elogios ao seu primeiro longa-metragem, Kiss of Life (selecionado para a mostra Un Certain Regard, no festival de Cannes de 2004), e em sua primeira produção hollywoodiana balança em um pêndulo entre opções autorais e o diálogo mais imediato das representações de imagem que costumam ter a depressão. De modo geral, sua proa se mantém estável.
