'O Tempo e o Vento' abusa de paisagens e agrada público gaúcho
Há quem possa achar cansativo ver numerosas cenas de pôr-do-sol nos pampas do Rio Grande do Sul, acompanhadas de uma trilha sonora épica. Mas a fórmula do diretor Jayme Monjardim no filme O Tempo e o Vento agradou pelo menos os espectadores gaúchos, que continuam enchendo salas de cinema para assistir à obra do escritor gaúcho Erico Verissimo.
Monjardim já sabia a receita. Ele dirigiu a minissérie A Casa das Sete Mulheres em 2003, ambientada no Rio Grande do Sul durante a Revolução Farroupilha. As silhuetas de gaúchos cavalgando no horizonte cercados de belezas naturais chamaram a atenção do governo do Estado, que na época se ofereceu para bancar a refilmagem dos capítulos finais. A ideia era difundir a imagem turística e aumentar – ainda mais – a autoestima da população.
O problema de Jayme Monjardim em O Tempo e o Vento é tentar condensar a história da família Terra-Cambará, narrada por Verissimo em três obras divididas em sete volumes, num filme de pouco menos de duas horas de duração. O roteiro é conduzido por Fernanda Montenegro, conta a história no papel de Bibiana Terra, nos seus últimos dias de vida.
O Terra acompanhou uma sessão do filme O Tempo e o Vento na noite da última quinta-feira (3), em Porto Alegre. Mesmo 13 dias depois da estreia – no Rio Grande do Sul a première foi no 20 de setembro para coincidir com o feriado que lembra a Revolução Farroupilha -, a sala estava cheia. A qualidade da fotografia, dirigida por Affonso Beato ( que já trabalhou com o espanhol Pedro Almodóvar), foi o principal elogio dos espectadores ouvidos pelo Terra.
“Gostei muito do filme; achei as cenas das paisagens muito bonitas. Achei bastante didático, porque li os livros, mas não lembrava muito bem de toda a história”, disse a professora Patrícia Guidolin, 29 anos. “Achei o longa muito bom, principalmente as cenas. Muito emocionantes”, concordou o advogado Sérgio Fontoura, 67 anos.
Para mostrar a passagem do tempo, as cenas de nascer e pôr-do-sol são frequentes. O excesso de cenas de paisagens em desfavor do amadurecimento de alguns personagens da saga foi um dos principais alvos da crítica especializada logo após a estreia.
Mas a gama de cores das paisagens gaúchas pode hipnotizar, sobretudo o orgulhoso público local. A qualidade das cenas não aconteceu apenas por sorte: O Tempo e o Vento é o primeiro trabalho concluído para o cinema com uma nova câmera de altíssima resolução da Sony, a Sony F65.
Frente a variedade de histórias do trabalho de Verissimo, a trama é contada de uma forma um tanto apressada até chegar a Rodrigo Cambará, interpretado por Thiago Lacerda. As máximas do aventureiro boêmio provocaram risos de satisfação na audiência gaúcha, revelando-se o ponto alto da película. O ator tinha boa referência – Tarcísio Meira encarnou o mesmo personagem em 1985 -, mas teve a performance elogiada por parte do público. E o sotaque foi convincente.
“Achei que o Thiago Lacerda está muito bem na forma como ele retratou o Rodrigo Cambará”, disse a também professora Juliana Ziebell. Já a advogada Márcia Dias prefere a leitura da minissérie de 1985. “Acho que criou-se uma expectativa muito grande para esse filme. Achei interessante, mas prefiro o Tarcísio Meira como Capitão Rodrigo, por exemplo”, opinou.