'Megamente' quebra estigma e faz do vilão o protagonista
Os heróis que se cuidem, seus momentos de glória podem estar para terminar. Em Megamente, a nova animação da DreamWorks, que estreia esta sexta-feira (3) no Brasil, esses momentos duram muito pouco, apenas alguns minutos. Na maior parte do tempo, quem fica sob os holofotes é, surpreendentemente, o vilão. Não é à toa que o filme leva o seu nome.
Sob a direção de Tom McGrath - o mesmo de Madagascar - a animação pretende mostrar o que acontece quando a história é contada "pelo outro lado". Desta vez, não é mais o violão quem fica em segundo plano e aparece sempre furtivamente, só para atrasar o andamento da história. Isso é função do herói. Trazendo essa nova versão à tona, é possível perceber outra teoria embutida no roteiro, de Alan Schoolcraft e Brent Simons: o bem não vive sem o mal, e vice-versa.
No filme, o bem é representado por dois heróis, Metro Man e Titan. O primeiro, dublado por Brad Pitt na versão original e por Thiago Lacerda no Brasil, chega a lembrar Elvis Presley, ao esbanjar simpatia e confiança aos cidadãos de Metro City, que o admiram com veemência. Já o segundo, faz o tipo trapalhão, e é fruto de uma experiência que, definitivamente, não deu certo. No centro das atenções, Megamente faz o mal reinar pela história de forma desastrada e divertida, contando com a ajuda de seu fiel ajudante, o Criado, uma fusão de peixe, gorila e robô que acompanha o protagonista desde a infância. Todos esses personagens, com exceção do Criado, mantêm uma relação amorosa, às vezes não correspondida, com Rosane, uma corajosa jornalista que funciona como fio condutor por toda a história.
Tudo começa quando Megamente e Metro Man, seres de planetas que seriam destruídos, são enviados por seus pais para a Terra através de cápsulas de escape. Megamente, infortuno vilão, aterrissa em uma prisão. Metro Man, herói de sorte, vai parar em uma confortável casa de família abastada. A situação, no entanto, não dura por muito tempo. Quebrando os estigmas de que os heróis vão crescendo ao longo da trama e que as grandes batalhas são guardadas para o final, a animação põe Megamente e Metro Man em confronto logo de início, e dá a vitória ao protagonista.
Em Megamente, o vilão só ganha espaço graças ao seu carisma, capaz de cativar até os mais bonzinhos. Quanto mais quer ser levado a sério, tentando seguir padrões comportamentais de vilões tradicionais, mais Megamente pode arrancar gargalhadas do público, que, invariavelmente, se identifica com o protagonista. O estilo é típico de McGrath, que já disse ser um grande adorador de vilões, desde Darth Vader até Capitão Gancho. Para ele, os vilões são os personagens que têm as personalidades, figurinos e bordões mais interessantes.
Se todos os diretores passarem a pensar como McGrath, é bom que os heróis se reinventem, ou o mal, finalmente, vai reinar.