Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

'José & Pilar' dá espaço à intimidade do casal Saramago e Del Río

30 out 2010 - 08h19
(atualizado às 10h27)
Compartilhar

Carol Almeida

O que fica do amor? A resposta não se fala em voz alta, ou se escreve em palavras legíveis. A resposta está em como as mãos se encaixam, como se arruma a camisa do outro, como se aquele abraço fosse o último. Está no momento em que o sorriso se torna mútuo. José & Pilar, assim com essa conjunção aditiva que transforma dois em um, é o nome do documentário que estreia neste sábado (30) na Mostra de São Paulo e nos mostra, com delicadeza, gentileza e inteligência, esses pequenos momentos que o amor deixa de rastro.

O documentário de Miguel Gonçalves Mendes é, acima de tudo, um brinde ao encontro entre duas pessoas. Neste caso, duas pessoas bastante especiais, o escritor português José Saramago e a jornalista espanhola Pilar del Río, o casamento ibérico que deu certo. O filme, rodado durante quatro anos de convivência entre o diretor e o casal protagonista, não se preocupa em parar a câmera para extrair entrevistas de fundo fixo, ou sai a investigar o histórico biográfico de seus personagens. Em vez disso, tem a acertada decisão de buscar no cotidiano do relacionamento os fundamentos para sua construção narrativa.

As filmagens começam quando Saramago parte em sua própria Viagem do Elefante, livro cujas primeiras palavras são escritas quando Miguel passa a se aproximar das atividades que acontecem em Lanzarote, ilha vulcânica de montanhas cinzas onde o casal viveu por vários anos. "Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam", o vemos digitar no computador. A frase, usada como epígrafe em Viagem do Elefante, serve também para dar a dimensão de quão importante é, tanto para Saramago quanto para Pilar, a noção de pertencimento ao lugar que, neste caso, termina sendo invariavelmente o colo e os braços do outro.

Mas quando a câmera de Miguel Gonçalves Mendes foca sua atenção na frase escolhida por Saramago, trata-se de uma mensagem que vai pontuar todo o resto do filme. Ainda que o lugar - sítio, no português luso - seja, por fim, o amor, a questão geográfica se torna presente em toda a história de ambos os personagens. A mencionar que eles passam boa parte do filme em check ins de aeroportos em cidades onde Saramago peregrina sua ilustre presença. Esse ritual de deslocamentos, bem como o momento em que o filme coloca Saramago e Pilar a ler simultaneamente e em suas respectivas línguas um trecho de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, dão uma leitura bonita de que como grandes ou pequenas diferenças, de sítios, idiomas e temperamentos, se diluem quando a identidade se cria no entendimento.

Ele, o português dos fonemas retos, ela, o espanhol da língua solta. Ele, a melancolia introspectiva, a reflexão. Ela, a expansividade, a decisão. Ele, o senso de humor. Ela, o humor. Ou, como se dá conta o próprio Saramago a certa altura do documentário, "Pilar, escuta que bonito isso que falei: que tenho ideias para novelas, e você tem ideias para a vida." Diante de sua mais nova declaração de amor, o escritor pergunta em voz alta o que seria mais importante: novela ou vida? "Acho que vida né?", responde Pilar.

SERVIÇO
José & Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes

País:Espanha, Brasil, Portugal

Duração: 125 minutos

HORÁRIOS:
30/10/2010 - 20:10 - UNIBANCO ARTEPLEX 1

31/10/2010 - 21:30 - CINE LIVRARIA CULTURA 1

01/11/2010 - 16:10 - CINE BELAS ARTES

Cena de 'José & Pilar'
Cena de 'José & Pilar'
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra