George Clooney engorda, mas deslumbra por 'Os Descendentes'
Hoje, em pleno século XXI, George Clooney pode ser considerado um Clark Gable moderno. Sua beleza e carisma são incontestáveis, assim como seu sucesso com as mulheres. Mas Clooney consegue ser mais que isso. George é ator, roteirista e produtor de vários de seus filmes, ganhou um oscar de melhor ator coadjuvante por Syriana, e ainda em meio a tantos compromissos profissionais, promove um trabalho humanitário promissor no Sudão, país africano que sofre há anos de uma crise humanitária.
Seu último filme de sucesso foi o longa Os Descendentes que retrata a vida de uma família cuja mãe entra em coma, deixando as duas filhas sob o cuidado do distante pai Matt King, interpretado por George. Os Descendentes foi indicado a todas as grandes premiações americanas, ganhando o Oscar de melhor roteiro adaptado e o Globo de Ouro por melhor filme dramático e melhor ator em filme dramático.
Em uma entrevista exclusiva para o site Terra, George Clooney e o produtor Alexander Payne falam sobre o filme que chega hoje em DVD e Blu-Ray em todas as lojas especializadas do país. Entre os tópicos da conversa, eles falam como se conheceram, os desafios no iníco de carreira e as particularidades do filme que promovem.
Terra - Quando vocês dois se conheceram?
Alexander Payne - Em 2003
George Clooney - Por Sideways (Sideways foi um filme independente que fez grande sucesso com os críticos e foi premiado no Oscar).
Alexander Payne - Você chegou na sua motocicleta...
George Clooney - Nós tivemos um ótimo longo, longo, longo almoço e conversamos. Um dia eu recebi uma ligação do Bryan Lourd dizendo que Alexander queria conversar, há quase dois anos. Eu estava em Toronto fazendo dois filmes e nós nos encontramos em um restaurante italiano legal, tivemos uma ótima noite, e ele disse: 'eu vou te mandar um roteiro, me deixe saber o que você acha'. Eu meio que disse que faria antes mesmo de eu lê-lo, porque eu queria muito trabalhar com Alexander.
Terra - Neste primeiro encontro, você descreveu a história para ele, Alexander?
Alexander Payne - Sim, eu descrevi a história e queria saber se ele estaria disponível na primavera. Simplesmente o deixei saber que eu estava interessado. Isto foi em setembro. Eu enviei o roteiro em novembro. Nós estávamos filmando em março.
George Clooney - Eu estava filmando The American (Um Homem Misterioso), eu acho. Quando fuí para o Havaí fazer o filme estava na melhor forma física da minha vida e ele estava tipo, 'Você sabe que o jeito em que você está agora....Não fique assim quando nós formos fazer o filme'.
Alexander Payne - Ele conseguiu engordar uns quilos e deixar o cabelo crescer.
Terra - O que há em George que você achou apropriado para o papel?
George Clooney - Além do meu cabelo.
Alexander Payne - Mesmo nós não termos trabalhado em Sideways eu já queria a chance de trabalhar com ele há algum tempo. Eu achei que nós nos daríamos bem. Todo mundo que trabalha com ele fala como ele é maravilhoso. Esta foi a oportunidade perfeita para confirmar isto. Aqueles caras havaianos, os caras do livro, são lindos como ele (sem ofensa). Alguém poderia acreditar que, dada a sua aparência, ele tem algum sangue havaino distante. Funcionou exatamente assim.
Terra - George, o que atraiu você para o papel, encenado no paraíso tropical do Havaí?
George Clooney - Trabalho difícil! "Trabalhar com Alexander. A má notícia é que você vai ter que filmar no Havaí!". O que foi engraçado é que eu lembrei disso ter acontecido uma vez, com os irmãos Coen: Eu os conheci no Arizona, filmando Os Três Reis, e eles disseram: 'nós vamos te mandar um roteiro, nós estamos nos perguntando se você quer trabalhar conosco'. Eu disse 'sim' daí eu li o roteiro. Quando o Alexander disse que ia me mandar o roteiro, havia este medo em mim de que eu seria responsável pelo primeiro filme ruim de Alexander Payne, porque eu não havia lido o roteiro! Ao invés disso foi exatamente o oposto. Eu pensei que era...
Alexander Payne - O único filme bom!
George Clooney - (Risos) Eu pensei que era o melhor roteiro que eu havia lido em um longo, longo tempo. Não há muito coisa que acontece no filme, de um estranho jeito. Quando você procura por trailers deste filme é muito difícil explicá-lo, porque é um filme que você belamente entende aos poucos. Você começa a compreendê-lo e fica envolvido no minuto em que começa. No final, você é realmente tomado por ele.
Terra - Quando você leu sobre seu personagem, você pensou: Eu reconheço este cara, eu posso fazer isto'?
George Clooney - Eu sempre olho as coisas pensando: 'eu acho que posso fazer isto'. Quando eu fiz Solaris, Steven Soderbergh e eu erámos parceiros, e eu escrevi uma carta para ele porque eu acho que você deve dar uma distância para as pessoas para dizer um 'não' distante, ao invés de dizer na sua cara, porque você a põe em uma posição muito desconfortável. Então eu escrevi para ele e disse 'Eu não sei se consigo interpretá-lo, mas eu gostaria de tentar. Mas só se você achar que eu consigo'. Ele disse 'Ótimo, vamos nessa!'. Você precisa desta distância: você não pode pressionar o outro. Nós meio que tivemos isto em Os Descendentes. Eu tive a chance de lê-lo bem rapidamente, e digeri-lo. E saber que não era algo que eu havia feito antes, e que portanto, era um personagem diferente para se fazer. Eu estava muito interessado em explorar isto. Eu cheguei à conclusão de que se for para você explorar algo, é melhor fazê-lo com as pessoas em que você mais confia.
Terra - A descrição de seus papéis são comumente introduzidas com: 'em uma história distante de seus papéis românticos', mas é raro você interpretar este tipo de papel - você já interpretou vários homens em crises de meia-idade...
George Clooney - É uma coisa engraçada. Eu pego as pessoas dizendo 'Supreendentemente ele não está mal neste filme...' Quando você vai parar de estar surpreso! Eu acho que há uma certa presunção das coisas por conta das primeiras escolhas que fiz no início da minha carreira que não foram particularmente ótimas. Eu sempre vou ter estes esqueletos que as pessoas irão trazer à tona. Alguns irão dizer 'Ele só interpreta a si mesmo'.
Alexander Payne - Você já esteve mal em algum filme?
George Clooney - Sim, eu já estive mal em filmes. Eu estava mal em Batman e Robin. Não era um filme bom, mas eu estava mal nele. Eu não estava particularmente bem em O Pacificador. Eu não entendi certas coisas. Eu não fiz muitos filmes. Eu realmente não entendia o que eu estava tentando fazer. Eu interpretava um cara que era para ser intimidante. Os outros caras não faziam isto. Eles eram intimidantes. Eu cometi erros deste tipo.
Terra - No começo da sua carreira, foi o caso de você fazer o que você achava que deveria fazer ao invés de fazer o que você queria fazer?
George Clooney - É uma coisa engraçada. Sua carreira anda por caminhos muito estranhos. Eu era um ator tentando crescer na carreira por 12, 13 anos. Eu fiz dezenas de pilotos, dezenas de séries de TV. De repente me foi dada a oportunidade de fazer o primeiro filme da Dreamworks ou fazer Batman. Você não compreende que pode dar um sinal verde para o filme. Eu tinha que compreender que se fosse para eu fazer filmes como aquele, eu seria responsável não só pelo meu papel, mas por todo o filme que estava sendo feito. Aquilo fazia uma grande diferença. Eu tinha que tomar uma decisão consciente. Eu deixei de fazer ER e filmes por um ano e de ler roteiros. De repente, Irresistível Paixão veio. Eu disse: 'daqui para frente vou me concentrar só em atuar. E dirigir'. Eu nunca havia feito isto antes. No começo eu só li o roteiro. Não importava se Gotham estava sendo tomada como refém, o que importava é que eu achava que era um papel divertido. Eu fiz Irresistível Paixão, Trê Reis, E aí meu irmão, Cadê Você?, que são todos filmes muito bons.
Terra - Como você faz para imaginar as personagens que você escreve ou interpreta? Você conversa com pessoas que tiveram experiências similares?
Alexander Payne - Você meio que inventa! Daí eu diria que muito vem da hora em que faço o casting. Quando eu vejo os atores dizendo aquelas linhas, eu sento e penso: 'eu acredito ou não?'. Eu não estou julgando a atuação deles. Como diretor, é meu papel número um sentar mentalmente assistindo o filme, perguntando: 'eu acredito ou não?'. No set eu simplesmente sento lá. O resto do pessoal está trabalhando.
George Clooney -Eu gostaria de dizer que eu cheguei lá (no Havaí) 10 dias antes. Eu gostaria de poder dizer que eu saí com todos aqueles descendentes. Mas a verdade é que o roteiro fez tudo o que eu precisava. Eu fiz alguma pesquisa, eu me encontrei com as pessoas. Fiz algumas destas coisas. As pessoas trabalham de maneiras muito diferentes. Eu sou aquele ator que diz: 'hoje nós vamos trabalhar e é isto que iremos fazer', e eu deixo aquilo na locação onde estou trabalhando quando eu acabo. Eu tenho um botão de liga-desliga.
Terra - Como você descreveria Matt como personagem e a história em geral?
George Clooney - Eu acho que é um filme sobre uma crise de idade, mas o cara que está envelhecendo tem 50 anos. Ele acordou para o fato de que todas as traições que ele sente - da sua esposa, das suas crianças não serem ótimas, do fato de ele ter que lidar com todas estas questões - ele é responsável assim como todos os demais por estar nesta situação. Daí isto se traduz em saber se perdoar. Isto foi uma grande parte do filme, assistir a este quieto homem. Há uma grande frase em Gente como a Gente de Robert Redford, onde basicamente se diz: 'se aquela criança não tivesse morrido, esta família teria sobrevivido e todo o mais teria funcionado simplesmente bem. Eles teriam ido para faculdades e continuado casados, e ido a clubes e tudo teria sido uma vida anti-séptica, mas algo de errado aconteceu e jogou isto fora'. E eu acredito muito que este seja o caso. Com a esposa de Matt caindo nesta catástrofe, tudo é jogado para o ar, e de repente você tem que lidar com estas questões que você poderia ter sido capaz de evitar.
Alexander Payne - Há um momento chave, eu acho e ele se passa quando o padrasto diz: 'ela foi uma mulher devotada, ela merecia mais'. E ele poderia replicar, mas ele não o faz. Ele diz: 'você está certo, ela merecia mais'. E há um framático foco em George neste momento e é quando as coisas difíceis surgem repentinamente para o centro da atenção - que ele está no centro pela primeira vez. É um pequeno momento de crescimento - uma realização para a personagem.
George Clooney - E conforme o momento acontece, a sua filha, pela primeira vez, o defende. Ela é tão boa atriz, Shailene Woodley. No minuto em que não era sobre a culpa de outro alguém, no minuto que ele deixou tudo isto de lado, uma outra pessoa o defendeu, e alguém que ele precisava, que era a sua filha, e é aí que eles se tornam uma verdadeira família.