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Em 'Último Alvo', a luta de Liam Neeson é contra o espectador

O ator de 72 anos está buscando projetos que exigem menos dele fisicamente; aqui, ele encarna um criminoso que enfrenta doença neurológica degenerativa enquanto tenta se reaproximar da filha e realiza pequenos trabalhos para mafiosos

11 mar 2025 - 20h10
(atualizado em 11/3/2025 às 09h02)
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Foi em outubro de 2024 que o ator Liam Neeson anunciou que estava se aposentando dos filmes de ação. No entanto, apesar do susto dos fãs, não era uma aposentadoria compulsória ou taxativa: o que ele queria era fazer menos coisas como Busca Implacável e mais filmes que exigissem menos, fisicamente, do astro de 72 anos. Um bom exemplo desse novo momento de Neeson é o novo Último Alvo, em cartaz nos cinemas.

Dirigido pelo norueguês Hans Petter Moland, de Vingança a Sangue-Frio, o longa-metragem conta a história de um gângster que está em um momento complicado da vida. De um lado, enfrenta uma doença neurológica degenerativa e perde a memória aos poucos - o prazo de vida dado por um médico é de apenas "alguns meses". Do outro, tenta se reaproximar da filha enquanto também realiza pequenos trabalhos para mafiosos.

'Último Alvo' é mais interessante como experimentação do que como cinema
'Último Alvo' é mais interessante como experimentação do que como cinema
Foto: Imagem Filmes/Divulgação / Estadão

Um novo Liam Neeson

Último Alvo, ao contrário dos filmes de ação mais vigorosos da carreira de Neeson, como o já clássico Busca Implacável e o divertidíssimo Sem Escalas, tem um ritmo bem mais lento. Não temos o astro irlandês distribuindo sopapos em cena a todo momento, nem é um personagem invencível. Pelo contrário: Thug, esse mafioso vivido por Neeson, é falível, quase sempre correndo riscos, principalmente pela memória fraca e a falta de confiança.

É, enfim, o reflexo de um novo momento na carreira do ator, que está recalculando a rota bem ali, na frente de fãs e crítica. Claro: quem dá uma olhada na filmografia do astro nota, com facilidade, que o cinema de ação não é o único tipo de história que dá para encontrar por ali - o ator já fez filmes de fantasia (Star Wars: A Ameaça Fantasma), dramas potentes (A Lista de Schindler, Silêncio) e até romances inesperados (De Volta à Itália).

Mas é a ação seu carro-chefe. São os filmes de pancadaria que fizeram com que Neeson se tornasse mais conhecido e popular. Um título como Último Alvo mostra que o irlandês entendeu isso e precisa se reinventar. A ação ainda vive, mas pontuada mais por alguns socos, tiros, rivalidades e palavras mergulhadas em tensão e ameaças. É um novo Neeson, em continuidade a produções como Na Terra de Santos e Pecadores e até A Chamada, com o ator o tempo todo dentro de um carro, quase sem se mover com as próprias pernas.

No final, é interessante compreender melhor os caminhos de um ator tentando se reinventar e, mais do que isso, compreender novas linguagens e como adaptar o gênero à sua idade.

Mas 'Último Alvo' é bom?

Apesar da boa vontade de Neeson em se reinventar, procurando novas linguagens dentro do cinema de ação, é preciso entender que Último Alvo é um filme com mais erros do que acertos. Para começo de conversa, o cineasta Hans Petter Moland não consegue criar o mesmo clima de tensão que criou em Vingança a Sangue-Frio, filme divertido e ousado.

Na tela, Neeson fica perdido, andando de um lado para o outro, praguejando pela falta de memória - isso se repete exaustivamente ao longo das quase duas horas de duração, sem a situação avançar de fato. É como se Liam Neeson não estivesse lutando contra vilões musculosos e violentos, mas sim contra o espectador, afastando-o a todo o momento.

Liam Neeson em 'Último Alvo'; muito da ação do filme se cá em veículos
Liam Neeson em 'Último Alvo'; muito da ação do filme se cá em veículos
Foto: Imagem Filmes/Divulgação / Estadão

Ainda assim, há algo de climático por aqui. Neeson modula mais sua atuação - obviamente, não chega a ser Silêncio ou A Lista de Schindler - e é perceptível como ele também está entendendo melhor seu corpo e seus limites. A tensão chega por palavras e olhares, ainda que o diretor não saiba trabalhar tão bem o silêncio, tornando-o quase constrangedor.

Poderia ser melhor? Com certeza. Mas Último Alvo é interessante e, no final das contas, há um bom exercício de gênero, lembrando o que Denzel Washington, também na casa dos 70 anos, fez em O Protetor 3: menos pancadaria desenfreada e mais ação minuciosa, mesmo que errônea, vista nas pequenas coisas que emolduram a construção de um filme.

Estadão
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