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'A Vida de Chuck' derrapa na pieguice, mas se recupera com emoção sincera

Longa-metragem, adaptação de um conto de Stephen King, é estrelado por Tom Hiddleston e Mark Hamill

5 set 2025 - 20h10
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Foi no final de 2024 que surgiu um grande burburinho no mundo do cinema em torno de A Vida de Chuck, longa-metragem que enfim chega às telas nesta quinta-feira, 4. Afinal, foi há quase um ano que este filme de Mike Flanagan (A Maldição da Residência Hill) levou o cobiçado prêmio do público do Festival de Toronto — coroação que, nos últimos anos, tem ganhado um significado maior por quase "garantir" a indicação ao Oscar de Melhor Filme.

Foi assim com Ficção Americana, Os Fabelmans, Belfast e Nomadland, apenas para falar dos vencedores mais recentes. A Vida de Chuck não foi lançado comercialmente a tempo de concorrer em 2025, mas o filme chega agora aos cinemas mantendo a expectativa da boa recepção no ano passado e a sensação de que estará presente no Oscar de 2026.

Tom Hiddleston protagoniza a adaptação de Stephen King que ganhou o Festival de Toronto
Tom Hiddleston protagoniza a adaptação de Stephen King que ganhou o Festival de Toronto
Foto: Intrepid Pictures/Divulgação / Estadão

Se isso vai ocorrer, ninguém sabe. Mas já dá para entender o apelo de A Vida de Chuck: é um filme belo, muito ancorado em questões sobre tempo, finitude e ansiedade existencial. Inspirado em um conto de Stephen King, encontrado dentro do livro Com Sangue, o filme se afasta das narrativas tradicionais de terror do autor do Maine — como O Iluminado, Misery e afins — e se aproxima de suas adaptações mais emocionais, como À Espera de um Milagre e Um Sonho de Liberdade. Ou seja: nada de grandes sustos.

No entanto, não dá para dizer que o longa-metragem não tem algo de horror. Flanagan, que faz sua terceira adaptação de uma obra de King (depois de Jogo Perigoso e Doutor Sono), transforma a narrativa em algo de terror cósmico, mas longe de ter um Cthulhu de Lovecraft. Está mais para um horror sobre o fim, sobre a impossibilidade de continuar, sobre a existência que se abate sem qualquer piedade.

Fim de mundo

A história se concentra inicialmente na jornada de um professor do ensino médio, Marty (Chiwetel Ejiofor), que lida com alunos e pais durante o que parece ser o fim do mundo.

O planeta está se desfazendo em terremotos, tormentas e outras catástrofes devastadoras, ao mesmo tempo que Marty se reconecta com sua ex-esposa, Felicia (Karen Gillan). Além disso, no mundo todo, sem nenhuma explicação aparente, começam a aparecer outdoors e anúncios de rádio e TV com as palavras "Charles Krantz: 39 anos incríveis. Obrigado, Chuck!". Ninguém sabe quem ele é ou o motivo da mensagem — toda a história de Chuck (Tom Hiddleston) será revelada depois, a conta-gotas.

É aí que o roteiro de Flanagan, um inveterado amante de reflexões sobre tempo, brinca com as expectativas do espectador. Começa pelo final, pelo apocalipse, e vai se afastando desse centro nervoso narrativo para expandir o universo, retroagir no tempo e explicar o que está acontecendo nesse mundo que parece não fazer sentido. Uma brincadeira temporal simples, mas que ajuda a dar mais peso emocional ao que está acontecendo.

Há beleza em entender a dinâmica desses personagens, principalmente quando se percebe a conexão entre eles. Todo o elenco está convincente — Tom Hiddleston (o Loki da Marvel), Chiwetel Ejiofor (12 Anos de Escravidão), Mark Hamill (o eterno Luke Skywalker) — amplificando ainda mais o tom de urgência e complicação existencial da trama.

Pieguice sem fim

Mesmo com a beleza da história garantida, A Vida de Chuck parece não seguir os bons exemplos de À Espera de um Milagre e Um Sonho de Liberdade e cai em algo perigoso: a pieguice. Com uma narração até que agradável, mas exagerada, de Nick Offerman, o longa tenta guiar o espectador sensorialmente. Explica demais, fala o tempo todo. É como se, na sala de cinema, existisse um guia espiritual (ou melhor, emocional) explicando o que sentir, pensar, entender. As dinâmicas são examinadas e reexaminadas constantemente.

Com isso, uma emoção que deveria soar natural se torna apenas repetitiva, batida, quase caricata. Um certo tom exaustivo de autoajuda — que também existe nessas outras adaptações mais emocionais de King, mas bem mais diluído — acaba ganhando força e quase tomando conta do filme. A emoção escapa em alguns momentos e A Vida de Chuck perde boa parte de seu encanto, ainda que a beleza continue viva na história.

No final, A Vida de Chuck deve provocar reações polarizadas no público. Com certeza haverá aqueles que irão revirar os olhos, cansados da narrativa e do tom piegas que insiste em permanecer. Mas também haverá aqueles que conseguirão vencer essa barreira e encontrar a beleza que, de fato, existe nessa colaboração entre King e Flanagan.

Talvez o prêmio do público tenha sido um tanto exagerado em 2024, ainda mais com Anora no páreo, mas o filme consegue mostrar que é possível equilibrar horror e beleza ao pensarmos no fim. É uma obra que funciona melhor quando para de tentar nos dizer como nos sentir e simplesmente nos permite sentir.

Estadão
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