Ewan McGregor: de junkie a padre do Vaticano
Em 1996, Ewan McGregor tornava-se mundialmente famoso ao interpretar o junkie Renton no filme
Trainspotting, de Danny Boyle. Treze anos e vários papéis depois, é a vez de o ator escocês dar vida a um religioso, mais especificamente um camerlengo, a pessoa responsável por administrar a Igreja Católica entre a morte de um papa e a eleição de seu sucessor. O
Terraconversou com McGregor em Roma para saber um pouco mais sobre o camerlengo Patrick McKenna de
Anjos e Demônios.
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No longa de Ron Howard, Patrick McKenna é um padre e não um cardeal, fato que Ewan McGregor achou interessante. "Isso é incomum. Provavelmente o camerlengo seria um cardeal", explicou ele. Criado sem nenhuma religião, o ator teve ajuda de um padre norte-americano durante as filmagens. "Havia um padre de Nova York com a gente no set sempre que tínhamos que gravar um ritual religioso. Conversei com ele sobre ser padre", contou.
Italiano no livro de Dan Brown, McKenna virou irlandês na adaptação para o cinema. "No começo, achei que talvez o Ron (Howard) pensasse que eu fosse irlandês. Eu não queria dizer: 'Ron, na verdade eu sou escocês'", disse McGregor aos risos, não sabendo explicar quando e por que se deu a mudança da nacionalidade do personagem. "Eu embarquei na história", afirmou, completando que foi dessa forma que Patrick McKenna lhe foi apresentado.
Sobre uma possível polêmica envolvendo seu personagem e membros da Igreja Católica, Ewan McGregor foi claro. "Eu não estou representando a Irlanda. Eu não estou nem representando a Igreja. Estou apenas representando um personagem, o carmelengo Patrick McKenna. Não acho que seja importante se ele é um padre ou um cardeal. O importante é que ele é um ser humano."
Confira a entrevista com Ewan McGregor:
Como você descreve seu personagem?
Ele é o braço direito do papa e um homem extraordinariamente religioso, sem medo e com muita fé. Ele acredita fortemente em Deus, mas, ao mesmo tempo, ele acredita fortemente na sua igreja. Ele sente que a Igreja está seguindo por um caminho que pode levar a sua queda e ele está disposto a usar de meios extremos para impedir que isso aconteça.
Você é religioso?
Eu fui criado sem nenhuma religião.
O que você acha das pessoas que têm uma religião?
Eu entendo a religião, apenas fui criado sem nenhuma. As pessoas que acreditam em sua fé, não necessariamente religiosos, têm uma extraordinária autoconfiança e acreditam em si mesmas. E quando você conversa com essas pessoas, elas fazem você sentir que você provavelmente está errado e elas, provavelmente certas. Era isso que eu queria trazer ao meu personagem. Queria que ele tivesse isso, que ele tivesse essa confiança, que ele acreditasse que está certo.
Como você se preparou para interpretar um religioso?
Havia um padre de Nova York com a gente no set do filme sempre que tínhamos que gravar algum ritual religioso (o funeral do papa, a missa). Conversei com ele sobre ser padre.
Meu camerlengo é um padre, não um cardeal. Isso é incomum. Provavelmente o camerlengo seria um cardeal. Isso é interessante. Antigamente, o camerlengo podia ser um "civil" e não necessariamente um religioso.
No livro de Dan Brown, seu personagem é italiano e não irlandês como no filme. Essa mudança aconteceu antes ou depois de você ser escalado para o papel?
Eu não sei dizer. Você tem que perguntar para o Ron (o diretor Ron Howard). Foi dessa forma que o personagem me foi apresentado. Quando Ron começou a conversar comigo sobre o filme, ele disse que queria que o camerlengo fosse irlandês. No começo, achei que talvez o Ron pensasse que eu fosse irlandês. Eu não queria dizer: "Ron, na verdade eu sou escocês" (risos). Então, eu embarquei na história.
Como você trabalhou seu sotaque para o filme?
Eu tentei imaginar alguém que tivesse vivido a maior parte da sua vida na Itália, mas que fosse irlandês. Na verdade, provavelmente ele falaria inglês com um sotaque italiano, mas eu queria que ele tivesse um sotaque irlandês.
Você teme alguma reação de irlandeses católicos por causa de seu personagem?
Bem, eu não sei. Na verdade, nem pensei nisso. Eu não estou representando a Irlanda. Eu não estou nem representando a Igreja. Estou apenas representando um personagem, o carmelengo Patrick McKenna. Não acho que seja importante se ele é um padre ou um cardeal. O importante é que ele é um ser humano. Ele é uma pessoa com crenças extremas.
Ele é um irlandês católico nesse filme, mas eu não o interpretei dizendo "isso é o que penso sobre os irlandeses católicos". Não mesmo.
Você leu o livro de Dan Brown antes de entrar para o elenco do filme?
Eu não li O Código da Vinci quando o livro foi lançado. Geralmente, eu não leio livros populares, best-sellers. Raramente eu faço isso. Há dezenas de clássicos que eu ainda não li. Eu escolho minhas leituras de acordo com as áreas do meu interesse. Eu nunca abriria uma revista para ver a lista dos livros mais vendidos e escolher um deles. Posso dizer que os livros me escolhem.
Não tenho nada contra o Dan Brown. Na verdade eu também não fui ver o filme (O Código da Vinci). Eu não assisti à Titanic. (risos) Acho que parte de mim é "anti-established". (risos). Simplesmente, eu não vou ao cinema assistir. Daí anos depois, eu vejo o filme e digo "oh, realmente é bom".
Como você escolhe os filmes que vai fazer? Em que se baseia para escolher dar vida a certo personagem?
Escolho de acordo com meus interesses. Trabalho com minha agente em Londres desde que eu tinha 19 anos. Ela sabe tudo sobre meu jeito e sobre o que eu gosto. Agentes funcionam como um tipo de filtro. Ela me passa roteiros de filmes que ela acha que seriam do meu interesse.
Tenho sorte. Trabalhei apenas em filmes que meu instinto me disse para fazer. Não me importo se o filme tem um grande ou pequeno orçamento. Eu gosto de histórias. Vejo se história é boa, se o personagem é interessante, a combinação de quem é o diretor e de como está minha vida... Por exemplo, agora. Sinto que estou longe de casa há um ano e meio. Neste momento, seria difícil eu aceitar fazer um filme. Preciso ir para casa e ficar com meus filhos (Ewan McGregor é casado com a atriz francesa Eve Mavrakis, com quem tem três filhos).