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ESTREIA–Suspense “O Duplo” explora Dostoiévski e relações de trabalho

25 fev 2015 - 16h18
(atualizado às 16h18)
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Em “O Duplo”, de Richard Ayoade, Jesse Eisenberg (“A Rede Social”) vive o personagem-título e sua cópia. Baseado numa novela do russo Fiódor Dostoiévski, o filme pode ter mais a ver com a alienação e repetição do trabalho do que com personalidades opostas se compensando mutuamente – na verdade, tudo isso pode estar conectado.

Ator Jesse Eisenberg, do filme "O Duplo", durante evento em Londres. 12/10/2013.
Ator Jesse Eisenberg, do filme "O Duplo", durante evento em Londres. 12/10/2013.
Foto: Suzanne Plunkett / Reuters

Simon James (Eisenberg) é um sujeito solitário que trabalha numa empresa, da qual pouco ou nada sabemos, numa cidade e tempo que também não são especificados. O visual retrô-futurista serve mais para confundir do que explicar – e isso pode ser positivo. Há um quê da distopia da adaptação cinematográfica de “1984”, dirigida por Michael Radford. Pessoas apertam botões sem saber ao certo o porquê, mas ainda assim, apertam. Ele é só mais um dos funcionários, ninguém sabe seu nome – nem o chefe, interpretado pelo veterano Wallace Shawn.

A única coisa a tornar seus dias menos tediosos são os encontros com a colega de trabalho, Hannah (Mia Wasikowska), que trabalha na máquina de xerox, e por quem nutre uma paixão. A garota, por sua vez, não parece menos consumida pelo trabalho repetitivo do que ele. O fato de ela fazer cópias serve como um indício do vazio que o diretor aponta, pela replicação – seja dos movimentos de trabalho, da rotina das personagens, ou do doppelgänger, o duplo que irá surgir na vida de Simon.

James Simon é o oposto de Simon James – a brincadeira com os nomes é um dos momentos de bem-vindo humor do filme, apesar de óbvia. Nada introvertido, falador e falastrão, ele começa a se destacar, depois de aparecer do nada. Todos gostam dele, ele é agressivo – dá em cima das moças sem muito pudor – e é um preguiçoso no trabalho. Quando Simon tenta recuperar sua existência usurpada, ninguém lhe dá ouvidos. Nem sabem que ele existe, na verdade.

O mundo onde vive o personagem – que transita entre o ambiente de trabalho e o pequeno apartamento – parece destituído de espaços abertos. É uma atmosfera sufocante construída especialmente com o uso de cores (ressaltam-se tons neutros de cinza e marrom) na fotografia de Erik Wilson, enquanto a trilha sonora é composta mais de ruídos de máquinas, que parecem sempre soar mais alto do que as vozes dos personagens.

Embora tudo seja muito bem-articulado, Ayoade – que assina o roteiro com Avi Korine – tem uma tendência a acreditar que o óbvio é maior do que realmente é. Exemplo: a primeira fala do filme é “Você está no meu lugar”, dita por um sujeito a Simon num trem vazio, numa clara referência ao que virá a ser o filme (uma pessoa tentando tomar o lugar da outra). Outro: a máquina de xerox que tanto aparece, reproduzindo os originais, tal qual James Simon. Ou seja, seus simbolismos acabam dizendo o evidente – não apenas nessas cenas. Ainda assim, é muito bom ver o diretor optar por correr riscos – se acerta ou não é outra questão.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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