"Foi difícil não machucar os atores", diz atriz de 'A Toda Prova'
- Elaine Guerini
- Direto de Berlim
Poucos dias após a derrota para a brasileira Cris "Cyborg" Santos por nocaute, em 2009, Gina Carano recebeu o telefonema do cineasta Steven Soderbergh. "Ainda estava com o olho roxo quando nos conhecemos num restaurante de San Diego", conta a lutadora norte-americana de 29 anos.
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A morena de olhos negros, 1,73 m de altura e 65 kg, uma das musas do MMA (Mixed Martial Arts), saiu do almoço de quatro horas com um convite para estrelar o próprio filme em Hollywood. "Mal pude acreditar! Justamente quando eu pensava 'a vida é uma droga', surge a chance de dar a volta por cima", lembra Gina, escalada por Soderbergh para interpretar uma agente secreta em busca de vingança, após ser traída por seus colegas.
Sua performance em A Toda Prova, que estreia hoje nas telas brasileiras, supera a das atuais heroínas de ação do cinema. Ao exibir a força de uma lutadora de verdade, num corpo musculoso (mas sem exageros), Gina dá mais realismo às cenas de pancadaria. "O mais difícil foi me segurar para não machucar nenhum dos atores no set", diz ela, rindo. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida em Berlim.
Você encerrou mesmo a sua carreira como lutadora de MMA?
Espero que sim. Já recebi uma segunda oferta para trabalhar como atriz, em In the Blood (outro thriller de ação, dirigido por John Stockwell). Não quero mais ter de lutar para me sustentar. Quero ganhar a vida de outro jeito. A luta sempre será a minha grande paixão, mas o cinema representa uma chance de continuar a lutar sem precisar machucar ninguém de verdade. E muito menos sair machucada do octógono, o que não é nada divertido.
Onde está o dinheiro? Nas lutas ou no cinema?
Sem dúvida, no cinema. Como lutadora, sempre tive de pegar o dinheiro que me davam, sem poder discutir salário. Fui uma das primeiras mulheres a ganhar destaque no MMA, mas nem por isso tive um cachê à altura dos lutadores homens. Mesmo quando fui uma das atrações principais de uma luta, recebia menos que os homens na mesma posição.
A Toda Prova segue a linha de Garota de Programa, filme que Soderbergh criou especialmente para a estrela pornô Sasha Gray. O que o diretor esperava de você no set?
Steven queria rodar um filme de ação que fosse mais realista. Como ele acha muito irritante aquelas peripécias dos heróis tradicionais, queria fazer algo diferente, algo que fosse humanamente possível. Foi por isso que eu dispensei o dublê em praticamente todas as cenas.
Por ser lutadora profissional, intimidou os atores no set? Principalmente aqueles que apanhariam de você, como Michael Fassbender e Ewan McGregor?
Talvez no início. Mas todos eles acabaram meus amigos no final. Se eu os intimidei por um lado, por conta das minhas habilidades físicas, eles também me intimidaram, já que eu era a única atriz sem experiência no set. Quando eu os via concentrados, estudando o roteiro, eu procurava fazer o mesmo. Muitas vezes tinha de me beliscar para acreditar que teria uma cena com o Zorro (Antonio Banderas, no papel de um oficial espanhol).
Você intimida os homens no geral?
Acho que sim. Os homens evoluíram, mas não tanto (risos). Ainda preferem uma mulher dependente, que eles podem sustentar. No meu caso, a carreira que escolhi ainda é predominantemente masculina e muito competitiva, o que espanta os homens de vez. Talvez isso explique o fato de eu estar solteira no momento.
Mas as lutadoras geralmente instigam a imaginação dos homens, não?
Um pouco. Quando percebo homens me olhando, muitas vezes tenho a sensação de que eles estão se perguntando se eu podia bater neles... (risos). Mas não foi por isso que eu comecei a lutar. Entrei nesse meio totalmente por acaso, há nove anos, ao namorar um cara que adorava luta. Quando ele começou a aprender muay thai, passei a fazer aulas também. E aí me apaixonei. A verdade é que eu nunca fui muito boa me expressando com palavras (risos).
Sempre foi briguenta?
Sim, desde menina eu já me metia em encrencas nas ruas de Las Vegas, onde cresci. Acho que fui o filho homem que meu pai nunca teve.
