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Quando se ajoelhar é um ato de rebeldia - e não de submissão

Embora gesto seja visto, na maioria das vezes, como um sinal de reverência, a história tem mostrado que seu significado é bem mais elástico.

18 jan 2018 - 09h39
(atualizado às 09h42)
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Jogadores e comissão técnica de times de futebol americano se ajoelharam no passado - mas, desafiando o senso comum, em protesto
Jogadores e comissão técnica de times de futebol americano se ajoelharam no passado - mas, desafiando o senso comum, em protesto
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

De acordo com Rumi, místico Persa que viveu no século 13, existem "mil maneiras de ajoelhar".

E os tempos mostraram que não se trata de uma licença poética. Nos anos 60, o ativista de direitos humanos Martin Luther King Jr. organizou uma série de eventos em que manifestantes sentavam-se ou ajoelhavam-se coletivamente como forma de chamar atenção pacificamente para desigualdade racional institucionalizada nos EUA.

Mais recentemente, em setembro passado, centenas de jogadores de futebol americano deram impulso a uma crise política ao se ajoelharem durante a execução do hino nacional dos Estados Unidos antes de diversas partidas do principal campeonato da modalidade, a NFL.

O controverso gesto teve origem em 2016, quando Colin Kaepernick, então principal jogador do San Francisco 49ers, fez o que definiu como um protesto contra a violência policial no país. Mas ganhou repercussão ainda maior quando o presidente Donald Trump exigiu que a liga e os clubes punissem os atletas que aderissem à manifestação. Em uma resposta desafiadora, muitos jogadores fizeram exatamente isso.

Martin Luther King Jr. liderou protestos em que manifestantes se ajoelhavam coletivamente
Martin Luther King Jr. liderou protestos em que manifestantes se ajoelhavam coletivamente
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

No entanto, como maneirismo social, o ato de se ajoelhar é mais frequentemente associado com obediência e deferência do que com resistência ou confronto.

Peregrinos ajoelham-se, bem como pessoas que querem pedir parceiras ou parceiros em casamento. É uma espécie de mesura: o gesto rebaixa o corpo de forma a demonstrar insignificância diante da presença de uma figura mais importante.

Alguém que não é familiar com o costume de ficar de pé para a execução de hinos poderia perfeitamente acreditar que as pessoas ajoelhando eram as que mostravam maior respeito.

Afinal, a postura reflete, por exemplo, a posição submissa adotada em inúmeras pinturas renascentistas e medievais por homens mais velhos diante da presença do Menino Jesus.

Boticceli ironizou nobreza de Florença em 'A Adoração dos Magos', pintura de 1475 | Foto: Domínio público
Boticceli ironizou nobreza de Florença em 'A Adoração dos Magos', pintura de 1475 | Foto: Domínio público
Foto: BBC News Brasil

E, por vezes, de maneiras curiosas: o pintor italiano Sandro Botticelli tem um incrível painel, A Adoração dos Magos (1475), em que mostra integrantes mortos da família Médici, então a mais poderosa de Florença, no lugar dos Reis Magos, que levaram presentes para Jesus por ocasião de seu nascimento.

Ao fazer a substituição, o artista não apenas imortalizou a nobre família como também a subjugou diante de uma autoridade maior.

Assim como as fotos de jogadores americanos ajoelhados, a pintura de Botticelli ousa perguntar:

"Quem ou o que neste mundo - ou além dele - faz com que você se ajoelhe?"

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