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Isaac Belfort destaca teatro como meio para evidenciar passado apagado: 'Reescrever a história'

Em entrevista à CARAS Brasil, Isaac Belfort fala sobre a construção do espetáculo 'Benjamim, o palhaço negro' e reflete acerca do papel social do teatro

26 fev 2025 - 11h31
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Isaac Belfort caracterizada para Benjamim, o palhaço negro
Isaac Belfort caracterizada para Benjamim, o palhaço negro
Foto: Divulgação/Fernando Tavares / Caras Brasil

Nesta quarta-feira, 26, o ator e produtor Isaac Belfort encerra a temporada de Benjamim, o palhaço negro em São Paulo, levando ao público uma nova versão do espetáculo musical que resgata a trajetória de Benjamim de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil. Em entrevista à CARAS Brasil, Isaac, que produz o espetáculo e integra o elenco, destaca o teatro como meio para evidenciar passado apagado: "Reescrever a história", destaca.

Benjamim no presente

Benjamim, o palhaço negro, como destaca o ator, une crítica, história e música em uma homenagem ao artista que desafiou as barreiras raciais do século XIX, mas também provoca reflexões sobre a representatividade e o apagamento das narrativas negras na arte.

O projeto, idealizado por Isaac, é fruto de um trabalho coletivo que vem sendo refinado ao longo dos anos. "Trazer Benjamim à tona é, com certeza, dar voz às nossas histórias", afirma. "Falar dele é falar da minha família, das minhas tias que trabalhavam no ateliê de fantasias do Império Serrano. Esse espetáculo não é apenas uma homenagem, mas uma forma de reescrever a história".

Após dois anos em circuito, a obra passou por mudanças para sua nova temporada. "Acho que as modificações sempre foram um desejo meu, do Tauã [Delmiro, diretor] e da Manu Hashimoto, nossa residente", conta Isaac. "Percebemos que podíamos cortar algumas coisas, trazer cenas novas e dar um frescor para o público de São Paulo."

A reconstrução da peça foi um trabalho colaborativo, com uma equipe que revisitou a dramaturgia e a encenação. "Foi uma delícia", diz o ator. "Tivemos a Layla Santos como assistente de produção e roteirista, e ela nos ajudou a criar novas propostas. Revisitar o material nos fez perceber a força desse espetáculo."

A essência, no entanto, permaneceu intacta: a montagem busca não apenas contar a história de Benjamim de Oliveira, mas também conectá-la à vivência dos atores em cena. "A grande sacada do espetáculo foi como construímos o texto", explica Isaac.

"Estudamos o livro Circo-Teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil, de Ermínia Silva, e improvisamos a partir de cada capítulo. Cada palavra dita no palco tem verdade, porque foi criada a partir da experiência do elenco."

Teatro como resistência

A peça se apoia na ironia e no humor para tratar de temas como racismo e apagamento histórico. Para Isaac, essa abordagem tem um impacto poderoso. "Acredito que o humor pode levar ao pensamento e iluminar questões urgentes", afirma. "Minha ideia nunca foi ser agressivo, como muitos brancos acham que somos. A ironia leva o público a perceber o absurdo de certos comentários e 'piadas' racistas que ainda existem."

O espetáculo tem tocado profundamente quem assiste. Desde sua estreia em 2022, foi visto por mais de três mil pessoas em diversas cidades. "Toda sessão me surpreende", conta o ator. "Os relatos pós-apresentação, as lágrimas na última cena… Isso mostra que Benjamim vai além do que imaginamos. Ele fala sobre legado, sobre ser eterno para que outras pessoas pretas entendam que é possível ocupar qualquer espaço."

A peça, que começou de maneira modesta, se tornou um projeto de vida para Isaac. "Sou um jovem da zona norte do Rio de Janeiro que começou esse espetáculo sem ter onde guardar o cenário. Dormia na sala e o cenário ficava no quarto", relembra. "Hoje estamos em São Paulo. Benjamim mostra que é possível."

Desafios na trajetória

Para Isaac, ser um artista negro no Brasil ainda significa enfrentar desafios diários. "Trazer Benjamim para São Paulo já é uma vitória", afirma. "Passamos por muitas dificuldades, gente maldosa que tentou destruir ou se apropriar do nosso sonho. Cada sessão é uma batalha para levar público, porque, infelizmente, espetáculos pretos ainda enfrentam resistência e falta de patrocínio."

Diante disso, criar as próprias narrativas se torna um ato de resistência: "Benjamim é um grito de 'estamos aqui, existimos'. Ele foi uma porta para que grandes produtoras enxergassem os artistas que estavam no palco. Depois do espetáculo, muitos passaram em testes. Meu desejo é que esse projeto seja eterno".

Próximos passos

Além de seguir com a trajetória de Benjamim, o palhaço negro, Belfort também está em cartaz com o musical Meninas Malvadas, no Teatro Santander, onde interpreta o diretor do colégio North Shore, Sr. Duvall. "Estou em uma dupla jornada", comenta.

Mas os planos não param por aí. "Estou em pesquisa para novos projetos pela Belfort Produções, incluindo Portela - O Musical e A Princesa Super Star", revela. O teatro, para Isaac, continua sendo uma ferramenta essencial para contar histórias e resgatar memórias que tentaram apagar. "O palco é o lugar onde a gente pode reescrever a história e mostrar que pertencemos a todos os espaços", conclui.

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