Festival Cinema Negro em Ação: o "Revérbero" da ancestralidade e do futuro em Porto Alegre
Festival Cinema Negro em Ação celebra Tony Tornado e talentos negros com filmes, música e masterclass gratuita em Porto Alegre
Entre os dias 28 de outubro e 1 de novembro de 2025, Porto Alegre foi palco da 6ª edição do Festival Cinema Negro em Ação, evento gratuito que aconteceu na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ). Destinado a valorizar produções audiovisuais negras, o festival deste ano adotou o tema "Revérbero", traduzindo a conexão entre diferentes momentos históricos por meio da lente do cinema. O objetivo central foi promover a reflexão sobre a experiência negra na sociedade brasileira e ressaltar a presença de artistas, cineastas e músicos ligados à cultura afro-brasileira.
A programação reuniu uma combinação de exibições de filmes, encontros formativos e atrações musicais, buscando criar diálogo entre passado e futuro. O festival também se destacou por prestar homenagens a personalidades representativas, como Tony Tornado, e por contar com atividades abertas ao público lideradas por profissionais renomados do audiovisual. A seleção de filmes amplia os horizontes da produção contemporânea, reunindo obras de diferentes estados do Brasil.
O que faz o Festival Cinema Negro em Ação ser único?
O Festival Cinema Negro em Ação assume destaque como uma das principais vitrines para obras que abordam a diversidade e a representatividade negra no cinema nacional. Ao priorizar temáticas identitárias e promover uma competição relevante de longas, curtas, videoclipes e videoartes, o evento mantém seu compromisso com a pluralidade de narrativas. Uma característica marcante do festival é o incentivo à formação dos profissionais do setor, promovendo iniciativas como o Sopapo LAB, laboratório coordenado neste ano pelo cineasta Emerson Dindo.
A escolha do tema "Revérbero" ressalta o intuito de provocar debates a respeito da memória, ancestralidade e perspectivas futuras. Desta forma, o festival se consolida como espaço democrático, onde artistas veteranos e novas vozes dialogam e compartilham experiências. Os participantes têm a oportunidade de acompanhar masterclasses, sessões de debate e apresentações culturais, ampliando o alcance e o impacto das discussões levantadas pelas produções exibidas.
Principais destaques e homenagens do evento
A homenagem a Tony Tornado figurou entre os pontos altos desta edição do festival. Ator, cantor e compositor que iniciou a carreira nos anos 1960, Tornado é lembrado como um dos desbravadores do mercado artístico para a população negra no Brasil. Com trabalhos municipais e nacionais, sua trajetória inspira não apenas pela longevidade, mas pela abertura de caminhos para futuras gerações. O artista será também a principal atração musical do encerramento do festival, fortalecendo a integração entre cinema e música no evento.
Trajetória de Tony Tornado: Nascido Antônio Vianna Gomes, em 1930, no Rio de Janeiro, Tony Tornado construiu uma carreira multifacetada marcada pelo rompimento de barreiras raciais e culturais na música e nas artes cênicas brasileiras. Tornado tornou-se famoso na década de 1970 ao vencer o Festival Internacional da Canção com "BR-3", consolidando-se como uma referência do soul e do funk nacional. Seu estilo inovador, ao lado de Tim Maia e Cassiano, ajudou a popularizar estes gêneros no Brasil, trazendo influências do movimento black power norte-americano para o contexto brasileiro. Como ator, brilhou em novelas e filmes, como "Vereda Tropical" e "Mandacaru", além de importantes participações em séries, consolidando seu legado de versatilidade. Reconhecido por sua postura engajada e pelo enfrentamento dos preconceitos, Tony construiu uma história que inspira gerações de artistas negros.
Outro nome de peso presente no Festival Cinema Negro em Ação é Luciano Vidigal. O cineasta carioca conquistou notoriedade nacional ao vencer o prêmio de Melhor Direção no Festival do Rio com "Kasa Branca", filme cotado para representar o Brasil no Oscar de 2026. Vidigal ministrará uma masterclass aberta ao público, oferecendo uma rara ocasião de aprendizado para cineastas e entusiastas do audiovisual que desejam aprofundar seus conhecimentos no cinema de identidade negra.
Quais produções integraram do festival?
Na competição de longas-metragens, apostas como "Diaspóricas 2", dirigido por Ana Clara Gomes (GO) e lançado em 2025, "Esquecendo Flora", obra de Beto Oliveira (SP) lançada em 2024, e "Quem é essa mulher?", de Mariana Jaspe (BA), agitam a expectativa dos amantes do cinema identitário. Além dos longas, a mostra competitiva inclui seis curtas-metragens, seis videoclipes e três videoartes, reforçando a diversidade de formatos contemplados pelo evento.
- "Diaspóricas 2" (2025): Explora perspectivas de identidade e ancestralidade por meio de narrativas fragmentadas.
- "Esquecendo Flora" (2024): Aborda questões de memória e pertencimento a partir de dramas familiares e coletivos.
- "Quem é essa mulher?" (2025): Propõe um olhar sobre a força e a complexidade da presença feminina negra no cenário sociocultural brasileiro.
A seleção dos filmes evidencia o compromisso do evento em dar visibilidade a novas produções, valorizando o trabalho de cineastas brasileiros engajados nas temáticas relacionadas à negritude e à diáspora africana.
Laboratórios e atrações musicais: como o festival amplia a experiência do público?
Além da exibição dos filmes, o Festival Cinema Negro em Ação aposta em atividades de formação e atrações musicais para tornar a experiência ainda mais abrangente. O Sopapo LAB, comandado pelo diretor e produtor Emerson Dindo, é voltado a cineastas negros, oferecendo consultorias personalizadas e espaço para o desenvolvimento de projetos audiovisuais. Dindo, à frente da plataforma DiALAB, traz sua experiência em incubação de ideias para apoiar e fortalecer o protagonismo negro na cadeia produtiva do cinema.
O festival também destaca nomes promissores do cenário musical, como Rico Dalasam, responsável pela abertura oficial, conhecido pelo trabalho no "queer rap" e pelos álbuns lançados ao longo da última década. Entre os diferenciais do evento, estão o acesso gratuito e a proposta de unir diferentes expressões artísticas, consolidando-se como um encontro de referência para quem deseja conhecer e dialogar com o cinema negro contemporâneo.
Por meio dessa programação diversa, o festival cria oportunidades para que o público se conecte de formas distintas com a cultura negra, promovendo engajamento e a valorização de experiências que atravessam as telas e reverberam na sociedade.