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Quer publicar livro digital? Veja dicas de quem está no mercado há tempos

Tecnologia facilitou caminhos para a publicação de e-books, mas lucrar ainda é uma incerteza; conheça plataformas e veja dicas

21 jun 2023 - 05h00
(atualizado às 15h04)
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Escritoras de sucesso dão dicas para quem quer publicar o primeiro e-book
Escritoras de sucesso dão dicas para quem quer publicar o primeiro e-book
Foto: prostooleh/Freepik

Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Das três coisas que todo mundo deve fazer antes de morrer, segundo uma citação atribuída ao poeta cubano José Martí, a última delas parece ser a menos acessível para a maioria das pessoas. Mas, será que novas tecnologias podem deixar o caminho para publicar uma obra mais fácil? Aparentemente, sim.

A escolha mais óbvia para muitos novos autores é a Amazon, que tem cerca de 67% do mercado de livros digitais, ou e-books, segundo estimativa do analista Danny McLoughlin, do site WordsRated. Mas plataformas alternativas como Wattpad, Apple Books, Google Livros e Hotmart permitem várias escolhas de publicação, de acordo com o interesse do escritor. 

Apesar da facilidade técnica, quem quiser tentar terá algumas decisões a pesar. A Amazon, por exemplo, remunera bem os autores mais lidos mas exige exclusividade deles. Já o Wattpad tem uma pegada mais colaborativa com o público, sendo menos comercial que o modelo da big tech do Kindle. O que é certo, porém, é que viver apenas da produção literária ainda é o principal desafio.

Um estudo da BusinessWire prevê que o mercado global de livros eletrônicos crescerá 28% de 2020 a 2026, alcançando US$ 23,1 bilhões em receitas. Essa previsão representa um aumento médio anual de quase 5%.

De acordo com o relatório, “o desenvolvimento técnico e a sofisticação dos dispositivos de leitura, que proporcionam uma experiência semelhante à de um livro real, são os principais fatores que impulsionam o mercado global de e-books”. Além disso, “a crescente adoção de smartphones e recursos multilíngues é uma vantagem que deverá impulsionar a demanda”.

Pesquisa divulgada ano passado pela Câmara Brasileira do Livro, com dados de 2021, mostra que o mercado brasileiro de e-books cresceu em todas as frentes. O número de unidades vendidas no ano chegou a 9,2 milhões, em uma alta de 10% em relação ao ano anterior. Entre 2019 e 2020, o salto já havia sido de 83%.

Também em 2021, as receitas de livros digitais subiram 10,8% e o número de lançamentos cresceu 14%. Os últimos dados apontam que o preço médio de um e-book para o consumidor final é de R$ 13,50.

Quem está escrevendo e-books no Brasil?

A cultura de escrever em fóruns de fanfics (do inglês fanfiction, "ficção escrita por fãs") foi a ponte que alguns fizeram para começar a compartilhar suas histórias de forma não convencional. 

É o caso do sucesso "50 Tons de Cinza", que surgiu como uma fanfic baseada na famosa série "Crepúsculo". Escrito por E.L. James, o romance originalmente publicado online explorava um relacionamento entre os personagens Edward Cullen e Bella Swan.

Plataformas como o Wattpad formam, por ano, milhares de escritores amadores que criam verdadeiras legiões de leitores engajados em histórias com capítulos divididos no estilo post de blog. 

Para quem não é da literatura e está pensando mais em uma estratégia de vendas, diversos vídeos no YouTube falam que você pode fazer um e-book sobre literalmente qualquer coisa e começar a lucrar em plataformas de marketing digital como a Hotmart.

Há ainda o caso de escritores que lucram na Amazon por meio do programa KDP (sigla em inglês para publicação direta para Kindle, a plataforma de publicação de e-books da empresa). Além de colocar o livro à venda na loja, caso queira, o autor pode disponibilizá-lo no Kindle Unlimited, o programa de assinaturas da gigante do e-commerce.

E-books mais vendidos acumulam milhares de downloads em lojas digitais
E-books mais vendidos acumulam milhares de downloads em lojas digitais
Foto: Terra Byte

Escrever custa ou dá dinheiro?

É consenso entre fontes ouvidas pelo Byte que, hoje em dia, publicar um livro está muito mais barato e fácil do que ultimamente, tanto na versão eletrônica quanto na física. Lucrar com isso, todavia, ainda é uma incógnita. 

"Se voce pegasse há 20 anos, para fazer uma produção independente de qualquer tipo, era muito mais caro. Era mais difícil fazer pequenas tiragens, mas, hoje em dia, se você quiser fazer uma remessa de 100 livros, você pode. Você pode fazer o seu livro sozinha e jogar na Amazon; se vai circular, aí são outros quinhentos", diz Luciana Pinsky, editora da Contexto e que pesquisa o mercado de livros digitais. 

Na Amazon, os best sellers acumulam milhares de downloads, mas não é só isso que determina quanto um escritor está faturando por seus livros. O modelo de remuneração é variável e depende das páginas lidas em cada obra.

Além disso, o valor pago por página é calculado mensalmente, em uma divisão entre o total arrecadado pelo fundo global do KDP e o total das páginas lidas. 

"95% dos meus rendimentos vem das páginas lidas, e apenas 5% de unidades vendidas", diz Lola Belluci, escritora que abandonou a CLT depois meses depois de seu primeiro lançamento para viver do rendimento dos livros. "Essa obviamente não é a regra, mas para mim aconteceu bem rápido", conta.

"Pelo KDP, os autores podem receber até 70% do valor de capa como direitos autorais pelas vendas de obras. Muitos ganham o suficiente para viverem apenas da renda dos livros, e alguns já chegaram a ter até R$ 50 mil em royalties", diz Ricardo Perez, gerente geral de livros da Amazon Brasil.

A plataforma, entretanto, exige dedicação exclusiva. Em fevereiro deste ano, a Amazon puniu autores por seus livros aparecerem em sites piratas e retirou as publicações do seu serviço de assinatura. 

A situação causou indignação entre os envolvidos pois a investigação apontava para sites piratas que publicam as obras em questão sem o consentimento do escritor. Com a polêmica, alguns livros voltaram a ser disponibilizados na Amazon posteriormente.

Para além do Kindle

Existem vários caminhos possíveis para quem deseja publicar um e-book no Brasil de forma gratuita e cada plataforma possui requisitos técnicos, diretrizes de publicação e políticas de remuneração específicas.

O público-alvo do livro, as necessidades de marketing e as metas individuais do autor são aspectos relevantes na escolha da plataforma adequada. 

Apple Books

  • A plataforma é exclusiva para produtos da Apple, como iPhones, iPads e Macs;
  • É recomendado que os autores criem o arquivo do e-book no Pages, programa de edição de texto da marca, para publicá-lo;
  • Ela oferece um passo a passo de publicação e suporte técnico para os autores através da conta iTunes Connect;
  • Com um público fiel de usuários Apple, os livros podem ser encontrados e adquiridos diretamente nos aparelhos dos leitores.

Wattpad

  • É conhecido por sua comunidade ativa de leitores e escritores;
  • Autores iniciantes podem criar uma conta gratuitamente, começar a publicar suas obras e feedback dos leitores;
  • A plataforma oferece recursos de interação, como comentários, que aumentam a visibilidade dos livros;
  • Pode ser um ponto de partida para construir um público e chamar a atenção de editoras e agentes literários.

Hotmart

  • É uma plataforma abrangente que inclui diferentes formatos de conteúdo digital, incluindo e-books;
  • Ela permite a venda direta de livros online e oferece recursos de marketing e automação, como funis de vendas e e-mails automatizados, para ajudar os autores a promover seu trabalho;
  • A diversidade do público da Hotmart, interessado em vários temas, pode ampliar as oportunidades de venda.

Google Livros:

  • É uma plataforma que oferece distribuição e venda de e-books, além de disponibilizar obras gratuitas em domínio público;
  • Ao enviar livros pela central de parceiros do Play Livros, é possível fazer o seguinte:
    • Vender o livro na Play Store e oferecer uma visualização no Google Livros;
    • Oferecer uma visualização do livro no Google Livros, mesmo que ele não esteja disponível no Google Play;
  • A plataforma tem uma ampla audiência global, alcançando usuários em diferentes aparelhos;
  • Confira um passo a passo detalhado disponibilizado pelo Google.
Principal dica de autoras de sucesso é começar a tirar projeto do papel
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Foto: Genn Casterns/Unsplash

Ao decidir qual plataforma utilizar para a publicação de um e-book, é fundamental considerar as diferenças que cada uma oferece aos autores.

  • A Amazon KDP pode ser boa para aqueles que buscam independência e acesso a uma grande base de leitores;
  • A Apple Books é uma escolha atraente para autores que desejam alcançar o público Apple;
  • O Wattpad é recomendado para escritores iniciantes que buscam interação e feedback direto dos leitores;
  • A Hotmart é indicada para autores que desejam explorar estratégias de marketing e automação para impulsionar as vendas;
  • O Google Livros oferece uma audiência global e recursos avançados de pesquisa.

Preciso de uma editora?

A escolha de tentar ou não se associar a um grupo editorial não é óbvia. Se, por um lado, publicar por meio de uma editora pode facilitar caminhos de construção e distribuição da obra, por outro, seguir de forma independente garante mais autonomia e manejo da gestão comercial. Essa última foi a opção escolhida por Lola.

"O maior dos benefícios é ter controle total sobre os rendimentos do livro. Tudo o que sai, sai do seu bolso, mas tudo o que entra também. Além disso, no caso específico das versões físicas, produzir independentemente permite que a produção seja exatamente como você quer, já que não há um padrão de casa editorial a ser seguido", diz a autora.

A escolha, entretanto, pode ficar mais difícil na hora de considerar a produção física de um livro, segundo Jéssica Macedo, autora e dona do grupo editorial Portal. 

"Se eu fosse viver só de e-books, a editora não seria necessária", diz ela, que começou de forma independente e digital.

Em um segundo momento, mirando em uma produção de exemplares de papel, a autora encarou dificuldades por não ter um CNPJ e não conseguir emitir notas fiscais para disponibilizar obras em livrarias e distribuidoras. "Eu abri a editora para ter isso e poder comercializar meus livros", conta.

Pinsky, da Contexto, ressalta ainda que a associação com uma editora pode ir além da burocracia de impressão e venda de obras.

"O papel da editora não é imprimir e comprar papel. Para isso você pode contratar a gráfica sozinho", ressalta. "O papel dela é pensar que tipo de livro é interessante, como embalá-lo. O conteúdo é do autor, evidentemente, mas o editor promove uma conversa com o autor para ajudar na construção da obra. Não é algo de 'te mandei e acabou'."

O "capital simbólico" que editoras detêm também se torna elemento chave em estratégias de divulgação e circulação.

"Depois disso a editora também tem papel na circulação. Eu estou nesse nicho, converso com esse pessoal. O público conhece a Contexto e pensa 'Poxa, ela ganhou prêmios de literatura como o Jabuti, quero publicar em uma editora que tenha essa chancela'", diz Pinksy.

Veja dicas de autoras de sucesso

1. Comece!

"Tirar a ideia do papel é o ponto chave. Conheço diversas pessoas que começam uma história e acabam não finalizando por medo, insegurança, falta de tempo ou qualquer outro motivo", diz Nina Queiroz, autora de best sellers na Amazon.

2. Escreva sobre o que gosta

Existem públicos para todos os gêneros, segundo as autoras. Portanto, ir atrás de um nicho com o qual você não se identifica pensando somente em uma estratégia de vendas pode acabar sendo mau negócio.

"Se tem uma coisa que aprendi depois que virei autora, é que não adianta tentar escrever uma história somente por ser mais 'vendível'. E sei que não adianta nada você se forçar a escrever algo que não gosta, ou não combina com sua escrita, somente por ser mais fácil de trazer retorno e reconhecimento", continua Nina.

3. Redes sociais são aliadas

A divulgação é um aspecto muito importante em qualquer estratégia de vendas para os livros, principalmente para autores independentes.

"Meus primeiros dois lançamentos não tiveram uma resposta tão grande e tenho ciência que em parte fui responsável. Publiquei sem ter nenhuma estratégia de marketing, publicidade, parceria ou divulgação", conta Nina.

"Quem está começando normalmente não tem um grande orçamento para isso, eu mesma não tinha. Mas postar nas redes sociais é totalmente gratuito e pode até dar trabalho no começo, mas aos poucos traz resultados".

4. Estude o mercado — sem medo de pedir ajuda

Para Lola, o essencial é colocar na ponta do lápis qual é o seu objetivo ao entrar nesse mercado, e só então pensar em estratégias pra alcançá-lo.

"Faz as coisas serem mais fáceis", diz. E para começar a fazer isso, ela indica acompanhar autoras que já conquistaram a relevância desejada e aprender com o que elas fazem.

"Não tenha medo de perguntar. Infelizmente, ainda há pouca informação disponível na internet sobre o dia a dia desse mercado, mas tem muita gente bacana nele que está disposto a ajudar e tirar dúvidas".

Fonte: Redação Byte
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