Por que não sentimos quando fazemos cócegas em nós mesmos
Entenda por que nossos próprios movimentos não surtem efeito de riso em nossos corpos
Ter uma crise de risos enquanto alguém faz cócegas em você é bem comum. Porém, quando tentamos fazer em nós mesmos, o exato movimento não surte efeito algum. Esse mistério, que provoca curiosidade em tanta gente, também incentiva cientistas a pesquisarem cada vez mais o cérebro humano. Afinal, por que não sentimos cócegas quando fazemos em nós mesmos?
A explicação para isso é que não há nenhum elemento de surpresa. O fato de sentirmos cócegas quando outra pessoa faz isso se explica porque o nosso cérebro entende que precisa se defender de uma possível situação de pânico ou de perigo. Além disso, o nosso cerebelo prevê todos os nossos movimentos antes deles acontecerem.
Diferenciar os nossos próprios movimentos de movimentos alheios é uma habilidade que robôs, por exemplo, não conseguem ter – nem mesmo os mais sofisticados. Se nós batermos palmas, vamos ouvir esse movimento de um jeito. Se pedimos para outra pessoa bater palmas, provavelmente perceberemos essa ação com mais intensidade.
Mas essa não é uma habilidade apenas humana. Já em 2003, um estudo mostrou que grilos se percebem mais silenciosamente do que outros grilos. A Dra Konstantina Kilteni, do Instituto Karolinska em Estocolmo, Suécia, começou o projeto “Tricle Me”, em 2017, para entender melhor a ideia de propriedade corporal do nosso cérebro.
Experimento mostra que efeito surpresa é um dos responsáveis pelas cócegas
Uma das principais experiências de Kilteni era analisar a forma como as pessoas percebiam toques em seus dedos usando uma configuração inteligente de alavancas. Primeiro as pessoas tocavam uma alavanca com o dedo indicador esquerdo, e isso já acionava uma segunda alavanca para tocar o dedo indicador direito. Descobriu-se, por esse método, que o segundo toque, já esperado, era sentido com menos intensidade do que o primeiro, inesperado.
Ou seja, isso provou que, se o cérebro sabe que um toque está chegando, ele o sente como menos intenso. Se o nosso cérebro já planejou fazer cócegas em nós mesmos, também não sentiremos. Mas em uma outra ocasião, Kilteni fez com que o segundo toque da alavanca tivesse um atraso inesperado de uma fração de segundo. E o atraso fez com que a intensidade do segundo toque fosse mais percebida.
Mas o experimento mais revelador de Kilteni foi feito com 30 voluntários. Nesse teste, em 2020, ela fez com que os voluntários fizessem um tocassem todos os seus dedos indicadores juntos, e depois eles eram tocados por dedos de robôs. Ali, percebeu-se que algumas pessoas sentiam o autotoque como mais intenso do que outras, o que provou que algumas pessoas possuem conexões mais fortes entre as regiões do córtex somatosensorial e o cerebelo.
O cerebelo é um pequeno cérebro que fica na nuca e é central para o movimento dos nossos corpos. A suspeita dos neurocientistas é de que o cerebelo envia sinais para diminuir a percepção das cócegas no córtex somatosensorial quando são nossos próprios dedos que estão fazendo isso. Em Nova Jersey, a Dra. Marlies Oostland está planejando investigar essa conexão com o projeto NeuroTick.
Um dos supervisores de projetos da Dra. Oostland, o professor Michael Brecht, do Centro Bernstein de Neurociência Computacional da Universidade Humboldt de Berlim, na Alemanha, foi o responsável por descobrir que ratos podem sentir cócegas, em 2016.