O que é o aplicativo Graphogame, citado por Bolsonaro no debate
Entenda o que é o jogo educativo que Bolsonaro diz alfabetizar crianças em seis meses; educadores criticaram proposta
Ao longo do debate presidencial deste domingo (16), os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trocaram farpas sobre o tema da educação. Enquanto Lula questionou Bolsonaro sobre a criação de universidades e ressaltou feitos dos seus governos na área, Bolsonaro se vangloriou pela criação de um app chamado Graphogame, que seria responsável por alfabetizar crianças em seis meses.
O Graphogame é um jogo educativo finlandês lançado em 2011 e que chegou ao Brasil em novembro de 2020, fruto de uma parceria do Ministério da Educação com o Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,. Ele é voltado a crianças de quatro a nove anos de idade.
De acordo com o Ministério da Educação, o app foi criado com a colaboração de cientistas brasileiros e ajuda crianças a aprender a ler as primeiras letras, sílabas e palavras, com sons e instruções em português brasileiro.
Nessa ocasião, o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, declarou que o aplicativo não visava substituir os professores, mas auxiliá-lo na alfabetização.
O aplicativo também se apresenta como “uma dinâmica de jogo baseada em evidências científicas”, de acordo com o seu site. Seu conteúdo é resultado de pesquisas sobre leitura na Finlândia e outros países. Inicialmente, o app tinha sido criado por uma universidade na Finlândia para ajudar crianças com dislexia, mas depois foi adaptado para alfabetizar crianças entre quatro e nove anos.
O conteúdo do app foi traduzido para o português do Brasil pelo Instituto Cérebro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) antes de ser lançado.
Até este ano, o Graphogame havia sido baixado por 1,5 milhão de pessoas. No entanto, em 2021 o Brasil possuía 295 mil estudantes de quatro a seis anos matriculados na educação infantil e 13,9 milhões de alunos de seis a dez anos matriculados na educação básica segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
App recebeu críticas de educadores
Professores e especialistas em educação criticaram o app nas redes sociais. Segundo Daniel Cara, professor e pesquisador na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), os responsáveis pelo Graphogame no Brasil "justificam que o app é apenas um instrumento de apoio. Precisa dizer isso publicamente. Em tema tão sério, é preciso refutar o uso que o governo tem feito da ferramenta."
Aline Fay, Diretora do Departamento de Linguagens e Coordenadora do curso de graduação em Letras Inglês da PUCRS, também comentou: “O objetivo do jogo é auxiliar no desenvolvimento da consciência fonológica (relação grafema- fonema). (...) E não, não alfabetiza crianças em seis meses”.
O Graphogame Brasil é um jogo desenvolvido por pesquisadores do INSCER/PUCRS.
O objetivo do jogo é auxiliar no desenvolvimento da consciência fonológica (relação grafema- fonema). Pode ser jogado totalmente offline.
E não, não alfabetiza crianças em 6 meses. https://t.co/qGnJ8BWQfn
— Aline Fay (@alinefay_PhD) October 17, 2022
Priscila Cruz, cofundadora e presidente-executiva da organização “Todos pela Educação”, ressaltou que quem adaptou o game para o Português, Augusto Buchweitz, disse: “Sozinho o GraphoGame não irá alfabetizar a criança e não resolve esse imenso problema; não é esse o objetivo e nem poderia ser.”
Atualmente, a Base Nacional Comum Curricular atual define que as crianças devem ser alfabetizadas nos dois primeiros anos do ensino fundamental.
Segundo o próprio site do Ministério da Educação, "o aplicativo não substitui a atuação dos professores, mas a complementa e vai ao encontro também de componentes essenciais para a alfabetização destacados pela Política Nacional de Alfabetização (PNA), sobretudo a consciência fonológica e o conhecimento alfabético."