Script = https://s1.trrsf.com/update-1765224309/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Negócios e TI

Executiva poderosa do Google é "celebridade nerd"

8 mar 2009 - 16h15
(atualizado às 16h18)
Compartilhar

No fim de dezembro, Marissa Mayer estava de férias na África quando recebeu um e-mail de seu chefe, Jonathan Rosenberg, perguntando se ela estava deixando o Google. Não era um questionamento de rotina. Como guardiã da home page do Google e uma das mais onipresentes e observadas entre as pessoas públicas, Mayer controla a imagem, sensação e funcionalidade da ferramenta de busca com mais tráfego da Internet. Rumores sobre sua possível saída incendiaram a blogosfera e escritórios por todo o Vale do Silício.

marissa
marissa
Foto: Noah Berger / The New York Times

» Conheça a criadora da fabricante de smartphones HTC

Nenhum deles, ela assegurou a Rosenberg, era verdadeiro. E Mayer, que é a funcionária número 20 do Google e a primeira engenheira mulher da companhia, diz que não está saindo; ela garante que se empenhou em informar os fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin, bem como o executivo-chefe, Eric E. Schmidt, de que vai ficar onde está.

"Não poderia estar mais longe da verdade", diz ela sobre as fofocas em relação à sua saída. "Isso me fez perceber que as pessoas não me entendem".

As pessoas podem não entender Mayer, mas como a "mulher do momento" de uma das mais importantes empresas do mundo, é bem difícil de ignorá-la. Convidada popular de programas de notícias e entrevistas, uma impulsionadora do Google freqüentemente citada na mídia, e presença agitada na cena social de São Francisco, ela é uma das raras executivas que se transformou - pelo menos no mundo por vezes fechado dos nerds de computadores - em uma celebridade.

Assim, ela atraiu atenção - e, em alguns casos, escárnio - no último ano, por ações como criar planilhas para encontrar a receita perfeita de bolinhos; freqüentar luxuosos eventos de balé, arte e moda; pagar 60 mil dólares num leilão beneficente por um almoço com Oscar de La Renta; e organizar festas badaladas em sua cobertura de US$ 5 milhões no topo do hotel Four Seasons, em São Francisco. Seu estilo de vida espalhafatoso parece muito diferente do Vale do Silício, mas ao mesmo tempo casa perfeitamente com os ideais do Google.

"Eu me recuso a ser estereotipada", afirma. "Acho que é muito confortável para as pessoas me colocar em uma caixa: 'Ah, ela é uma garota feminina e fofa, que gosta de roupas e bolinhos. Ah, mas espera, ela passa seus fins de semana fazendo hardwares eletrônicos'".

Ainda assim, a despeito de qualquer frivolidade ligada a ela, Mayer, 33 anos, tem um papel sério e essencial no Google. Quase todos os novos atributos ou designs do Google, desde a redação de uma página até a cor de uma barra de ferramentas, têm que passar por ela, ou legiões de usuários do Google nunca os verão. Ela é um dos poucos funcionários do Google (ou Googlers, como são conhecidos) com acesso irrestrito e influência sobre Brin e Page, e os piadistas do Vale se perguntam se mesmo a familiar home page branca do Google continuará do mesmo jeito caso ela vá embora.

Quando Mayer se juntou ao Google após se formar em Ciência da Computação em Stanford, em 1999, a companhia era uma pequena iniciante, onde ninguém esperava enriquecer, muito menos se tornar bilionário.

Ela começou escrevendo códigos e supervisionando equipes pequenas de engenheiros, e formou um nicho para si com o desenvolvimento e desenho das ofertas de busca do Google.

Fundamentalmente uma engenheira, ela também tinha algo que muitos de seus colegas não tinham durante os primeiros dias do Google: um apurado senso de estilo e design. Ela adorava blocos ousados de cor contra fundos brancos, parecidos com as estampas Marimekko da casa onde passou sua infância, em Wasau, no estado do Wisconsin. Sua cobertura em São Francisco tem uma estética similar, porém mais cara. É pintada em tons neutros e decorada com extravagantes trabalhos em vidro de muitas cores do artista Dale Chihuly. A home page do Google - branco espartano decorado com tons de azul, vermelho, amarelo e verde - reflete tanto sua casa de Wausau quanto sua cobertura.

"As pessoas costumavam vir ao meu apartamento e dizer: 'Seu apartamento parece com o Google ou o Google parece com o seu apartamento?'" conta com uma risada pontuada que ganhou seguidores próprios no Vale do Silício. "Não consigo mais articular. Eu realmente amo cor. Não sou muito fã de quinquilharias ou coleções. Minha casa tem linhas muito simples, com alguns elementos divertidos e excêntricos. Sempre gostei disso."

Como vice-presidente de produtos de busca e experiência do usuário, Mayer casou seus gostos pessoais com uma habilidade de lidar com seus chefes, incluindo a capacidade de se comunicar facilmente e defender idéias para Brin e Page, que também são seus amigos.

Desde que entrou para o Google, ela introduziu mais de 100 produtos e atributos, muitos dos quais prosperaram: Google News, Gmail e busca de imagens, por exemplo. Outros, como o Orkut, tiveram mais dificuldade em encontrar público nos Estados Unidos.

"Ela é um catalisador de idéias vencedoras", diz Rosenberg. "Marissa passou pela evolução do manual de estratégias do Google. Ela é, em parte, um dos autores. Isso é muito importante, porque ela entende a estética de design do Google".

Em reuniões com subordinados, Mayer passa uma imagem de editora zelosa, ou professora de arte meticulosa corrigindo alunos de primeiro semestre. Com tantos recrutas novos, ela pensa, alguém tem que ensinar como o Google funciona.

Numa manhã recente, alguns administradores de programas e outros executivos se reuniram ao redor de uma longa mesa no Edifício 43 do campus do Google em Mountain View para rever as mudanças nos produtos em desenvolvimento. Mayer estava atrasada. A primeira equipe a se apresentar estava pronta, com uma página de internet mostrando suas propostas projetada em uma grande parede branca.

"Você receberá comentários da Marissa sobre o texto em cinza.Prepare-se", avisou uma colega a um dos gerentes que esperavam. "Acho que o cinza não é importante", ele respondeu. "Assim está bom". "Eu sei", disse a colega. "Mas você vai receber comentários".

Mayer entra na sala alguns minutos após a apresentação do gerente e rapidamente o interrompe. "Esse texto cinza no cinza é difícil de ler", diz. "O que vamos fazer sobre isso?"

"Podemos mudar", cede o gerente.

Durante uma apresentação subseqüente, ela não se impressiona com a possível linguagem para uma página do Google Health que permitiria aos usuários trocar informações médicas.

"Não gosto das palavras 'convidar' e 'visualizar'", afirma. "Essas duas palavras são recreativas. Parece muito informal e despreocupado".

"Usamos a palavra 'convidar' porque é um verbo de ação, dessa forma os usuários sabem que têm que fazer alguma coisa", respondeu um jovem gerente.

Mayer revira os olhos. "Não é uma festa", diz.

Ela acaba dando as mesmas orientações, ou similares, para gerentes de diversos atributos e produtos do Google em outras apresentações no mesmo dia. As orientações são desenvolvidas, disse, a partir de diversas experiências internas para medição das preferências dos usuários: evite pronomes de primeira e segunda pessoas. Sempre escreva "Google", em vez de "nós". Se quiser simplificar o design de uma página, tire um desses elementos: um tipo de fonte, uma cor ou uma imagem. Não mude os tempos verbais. E fique longe de itálicos, porque são difíceis de ler numa tela de computador.

Ela suspira quando perguntam se está cansada de dar as mesmas instruções várias vezes. Essa questão claramente passou por sua cabeça: ela e uma equipe de designers estão criando um guia de estilo, diz, para que ela possa parar de se repetir.

"Na hora em que eu não disser alguma coisa sobre o cinza, teremos um produto inconsistente", afirma. "Quando eu der trégua, alguma coisa vai passar. Se usamos a palavra 'nós', os usuários acham que estamos escolhendo as palavras por eles. Você tem que tentar fazer com que as palavras sejam menos humanas e mais uma peça do maquinário".

Além disso, há uma medida de proteção para ela, pois as orientações e decisões são baseadas em pesquisas, não em ímpetos subjetivos. "Aí não vira: 'De quem a Marissa gosta mais?'" explica.

Apesar das boas intenções, Mayer às vezes parece deixar a subjetividade reinar - ainda que temporariamente - enquanto ajuda a dirigir o Google. A forma como ela navega esse divisor veio à tona recentemente em uma comoção sobre qual tom de azul usar na barra de ferramenta das páginas do Google.

O designer Jamie Divine havia escolhido um azul do qual todos em sua equipe gostaram. Mas um gerente de produtos testou uma cor diferente com os usuários, e descobriu que era mais provável que eles clicassem na barra de ferramenta se ela estivesse pintada com um tom mais esverdeado.

Ainda que as escolhas de cores pareçam triviais, cliques são uma parte importante do fluxo de renda do Google, e qualquer coisa que aumente os acessos significa mais dinheiro. A equipe de Divine resistiu à cor mais verde e Mayer resolveu a diferença escolhendo um meio-termo entre os dois tons.

Sua decisão foi diplomática, mas também se baseou em sua intuição em vez de pesquisa. Desde então, diz, ela pediu à sua equipe para testar as 41 gradações entre os dois azuis, para ver qual seria o preferido dos consumidores.

Muito freqüentemente, porém, Mayer diz que conta com tabelas, gráficos e análises quantitativas para fundamentar uma decisão, particularmente ao avaliar pessoas.

Numa recente reunião de equipe, ela se concentrou nas médias de rendimento acadêmico e pontos do SAT (espécie de vestibular) para selecionar uma lista de candidatos - muitos formados nas melhores universidades americanas - que ela deseja conhecer como parte de um programa para estimular talentos internos. Essencialmente, a matemática é usada para resolver um problema humano: como prever se um funcionário tem potencial para o sucesso?

Um grupo de executivos senta ao redor de uma mesa, usando seus laptops enquanto selecionam currículos, documentos acadêmicos e avaliações trimestrais. A conversa é sem emoção, por vezes um pouco brutal.

Um candidato tirou nota C em macroeconomia. "Para mim, isso é perturbador", diz Mayer. "Bons alunos são bons em tudo".

Outra candidata parecia promissora, tendo obtido 3.5 de 4 como classificação trimestral de um supervisor, o que significava que ela tinha superado as expectativas de seu gerente. Mayer suspeita, porém, porque a avaliação da candidata não mudou durante vários trimestres. "Ela está procurando uma saída", diz Mayer.

Há muitas pessoas para Mayer observar. Ela supervisiona 200 gerentes de produto, que por sua vez supervisionam três mil engenheiros, ou mais de 10% da força de trabalho do Google. Dada sua relação de longa data com os fundadores do Google e com Schmidt, ela se tornou uma espécie de caixa de ressonância para outros gestores, grande parte dos quais rotineiramente se dirigem a seu escritório.

No fim de um dia recente, ela se encontrou com dois executivos seniores, Joe Kraus e Sundar Pichai, para discutir os projetos de rede social da empresa. Muitos executivos no Google acreditam que a rede social seja importante para o futuro. Mayer se reuniu com Kraus e Pichai com o intuito de ajudá-los a se preparar para uma reunião no dia seguinte com Schmidt, Brin e Page que discutiriam como a companhia poderia aumentar a troca de informações entre os diversos serviços do Google.

"É importante que você prepare o Eric, ou será um desastre", conta Pichai a Mayer sobre a reunião que irá ocorrer, pedindo que ela procure o apoio de Schmidt em nome deles. "Eu sei, eu sei", ela responde. "Vou ligar para ele ou escrever um e-mail. Quero que eles vejam como isso vai ser complicado."

Mayer manda um e-mail a Schmidt na mesma noite. Na reunião do dia seguinte, as idéias de Pichais e Kraus são aprovadas. "Marissa é muito boa em conduzir a conversa certa", diz Pichai. "Se ela não tivesse feito isso, teria sido um desastre para nós".

Estudantes da cultura do Google se perguntam se Mayer e seu estilo de gestão poderiam florescer fora do mundo isolado onde sua tenacidade e curiosidade refletem a própria empresa. "Ela claramente tem o que é preciso para ser uma ótima gestora no Google, mas não sei se isso significa que ela seria uma ótima gestora na Hasbro", diz John Battelle, autor de A busca - Como o Google e seus competidores reinventaram os negócios e estão transformando nossas vidas.

Qualquer transição também seria particularmente desafiadora, já que as reputações de Mayer e de outros que foram contratados no início estão tão intimamente ligadas à empresa. "Você se acostuma com a riqueza, a atenção, vivendo em uma bolha", diz Battelle. "Será interessante ver em que ponto eles declaram 'quem sou eu?' por sua própria definição, não pela do Google".

Beliscando uma salada numa sala de conferência na sede do Google, Mayer diz que está muito irritada com a forma como algumas pessoas a vêem. "Não sou uma garota da cidade", diz. "Não é assim que me projeto. É assim que as outras pessoas escolhem me projetar".

Talvez. Mas também é verdade que ela gosta de falar sobre si mesma. No último verão, em uma entrevista ao site Yelp, que lista restaurantes e outros serviços locais, ela falou entusiasmada sobre sua lavanderia e sapataria favoritas, e onde encontrar os melhores maltes de abacaxi em Palo Alto (na Palo Alto Creamery).

Ela disse ao Yelp que não gostava de números ímpares, tinha pesquisado onde conseguir o melhor preço num hotel de São Francisco usando o Priceline, e destacou que seus amigos gays exigiram convites para assistir a Sex and the City em uma festa só de mulheres para comemorar seu aniversário.

Apesar de suas queixas, Mayer também parece relativamente despreocupada em relação à sua privacidade. Embora fotografias suas e de seu noivo, Zachary Bogue, um executivo de private equity, sejam assunto instantâneo na Internet, ela diz que raramente recusa pedidos para fotos de Drew Altizer, um fotógrafo que ela conhece e encontra freqüentemente no circuito de festas. "Drew está tentando me elogiar", diz.

Não importa o que Mayer decida revelar sobre si mesma publicamente, Craig Silvertein, diretor de tecnologia do Google e amigo íntimo, diz que nada é em causa própria. "Não é trabalho dela, falando com o Yelp, fazer com que as pessoas a conheçam", diz. "Marissa não se importa com os tagarelas. Ela gosta de fazer compras e de moda, e não vai parar só porque as pessoas não gostam disso".

Além disso, diz Mayer, há algumas coisas que ela não havia revelado antes sobre si mesma, e que a mídia não percebeu, como sua autoproclamada proeza atlética. "Não apareceu em lugar nenhum que eu sou muito ativa fisicamente", diz. "Corri a meia maratona de São Francisco este ano. Estive na maratona de Portland. Fui esquiar ontem mesmo. Eu vou fazer o Birkebeiner, que é a corrida de esqui de cross-country mais longa da América do Norte. Isso só mostra como há lacunas".

Amy Traduções

The New York Times
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra