Baidu é maior ganhador na crise entre o Google e a China
A Baidu, maior serviços de buscas da China, pode elevar suas vendas em mais de 50% este ano caso a batalha entre o Google e Pequim se agrave ainda mais, mas os investidores parecem já ter incorporado boa parte dessa perspectiva favorável ao preço das ações.
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Analistas acreditam que a Baidu, cujo nome vem de um antigo poema sobre a busca da perfeição, fique com até metade da receita de buscas do Google na China depois que este fechou seu site google.cn e migrou os usuários para um site sediado em Hong Kong esta semana. Isso poderia elevar em US$ 330 milhões ao ano o faturamento da Baidu, o que representaria alta de mais de 50% sobre os 4,45 bilhões de yuan (US$ 645 milhões) de receita auferidos em 2009.
Mas com a alta de quase 54%o que as ações da companhia registram desde que o Google começou a contestar as autoridades chinesas, em janeiro, os papeis já estão cotados a um múltiplo de 61 vezes, quase três vezes superior ao do Google.
Isso deixa pouca margem de erro ou decepção à empresa. "As avaliações estão muito altas e as pessoas estão incorporando ao preço a ideia de que o governo chinês vai fechar o acesso ao google.com e google.com.hk no país", disse Eric Wen, diretor de pesquisa de internet na Mirae Asset.
As ações da Baidu fecharam a US$ 594,88 na terça-feira, acima da avaliação média de US$ 567,56 apresentada por 23 analistas consultados pela Thomson Reuters I/B/E/S.
Embora os analistas estejam revisando para cima as estimativas de lucros, a StarMine classifica a Baidu na faixa mais baixa de valor em termos de indicadores relativos e inerentes.
Alguns analistas também estão preocupados com o foco apenas doméstico da empresa, o que pode limitar seu crescimento. A companhia pode investir US$ 30 milhões no Japão este ano, um dos poucos mercados estrangeiros em que atua, com um serviço de buscas deficitário e com baixa audiência na concorrência contra gigantes locais como o Yahoo Japan, informou Dick Wei, analista do JPMorgan, em relatório.
Entenda a crise
Na segunda-feira, o Google anunciou que havia fechado o site Google.cn e que as buscas seriam desviadas para o Google.com.hk, baseado em Hong Kong e livre da censura imposta pelo governo chinês desde 2006. Hong Kong, uma ex-colônia britânica, pertence à China, mas conta com maior liberdade - incluindo internet não censurada - do que o resto do país.
O Google mantém no ar uma página em que mostra quais de seus serviços ainda estão disponíveis e aqueles completa ou parcialmente bloqueados na China.
Em resposta, a China começou na terça-feira a censurar as buscas no Google Hong Kong aos temas que considera "sensíveis".
A censura da internet se tornou uma fonte de tensões entre China e Estados Unidos, com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, lançando um chamado em janeiro pela defesa da liberdade na internet em todo o mundo, citando a China, entre outros países, como exemplo.
Em 12 de janeiro, o Google anunciou ter sofrido um ataque de hackers. A Contas do Gmail pertencentes a vários ativistas chineses de direitos humanos foram violadas. Na sequência dos acontecimentos o gigante da internet anunciou que deixaria de censurar os resultados das buscas em sua versão em mandarim. Desde a chegada do Google à China, em 2006, temas como o Massacre da Praça da Paz Celestial, a seita Falun Gong e a luta pela libertação do Tibet eram censurados no serviço de buscas e também em concorrentes, como o Bing e Baidu.
Além do Google, os ataques tiveram como alvo outras 31 empresas, além do Google. O governo americano participou das investigações, que apontaram duas escolas chinesas como a fonte. O governo de Pequim nega as acusações.