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Escolas de samba se reinventam com tecnologias como drones, LEDs e IA

Antes de drones e shows de luzes, escolas já lidavam com necessidade constante de inovação para entreter público e manter comunidade

17 fev 2023 - 05h00
(atualizado às 15h44)
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Acadêmicos do Salgueiro usou manto de luzes LED na comissão de frente em 2015
Acadêmicos do Salgueiro usou manto de luzes LED na comissão de frente em 2015
Foto: Reprodução/Facebook

O Carnaval 2023 chegou e muitos estão ansiosos para espiar as novidades das principais escolas de samba do país. Com drones, painéis de LED e até interações com o público por meio de QR codes, as agremiações abusam da criatividade e inovação sem que o espetáculo se afaste de suas origens. 

Mesmo que a inovação aconteça desde sempre nas escolas de samba, as novas tecnologias inevitavelmente sobem a régua. Nos últimos anos, elas têm apostado em recursos que permitem interações com o público e desafiam os modelos tradicionais de desfiles.

Em 2022, com um enredo que falava de Oxóssi — divindade de religiões de matriz africana que representa as matas — a Mocidade Independente de Padre Miguel, do Rio de Janeiro, decidiu levar para a avenida o amuleto de referência do orixá em forma de drone. O detalhe é que o modelo usado no evento foi criado só para isso. 

Drone de flecha de Oxóssi custou R$ 200 mil
Drone de flecha de Oxóssi custou R$ 200 mil
Foto: Divulgação

"O primeiro desafio foi criar uma estrutura leve que tivesse tamanho o suficiente para ser visível na avenida. Os drones do mercado não servem por uma série de motivos, como possibilidade de interferência no sinal e peso de fábrica. Então, contruímos um drone especificamente para isso", conta Fernando Delicato, CEO da Sirius, empresa responsável pelo projeto. 

A flecha de Oxóssi tinha um metro e quarenta centímetros de comprimento, contava com LEDs e até com um piloto usando óculos de realidade virtual para um melhor controle de voo. O projeto custou cerca de R$ 200 mil e foi desenvolvido ao longo de nove meses.

A escola já havia se destacado em 2017, quando trouxe para a avenida um drone que imitava o personagem Aladim voando pela Marquês de Sapucaí em seu tapete mágico. 

"O Carnaval do Rio é um espetáculo tradicional, centenário, mas o desfile é e sempre foi palco de grandes inovações artísticas", diz Delicato, que neste ano promete muita inovação no desfile da Beija-Flor de Nilópolis.

Inteligência artificial vai sambar?

Não é mais novidade que a inteligência artificial está revolucionando diversos setores, principalmente o da arte. Uma futura utilização no processo criativo do Carnaval parece inevitável. 

Durante a última semana, o portal ImaginaRio colcou uma IA para fazer imagens representativas de cada escola, e os resultados foram compartilhados nas redes sociais pelas próprias agremiações.

Delicato enxerga o movimento com cautela, pois não gostaria de ver a inteligência artificial popularizada na folia. "Isso significaria a substituição da criatividade e a exclusão da participação das pessoas e, principalmente, da comunidade, no carnaval", diz. "Cria a impressão: 'isso é tão lindo que só um computador poderia ter feito'. E não é assim".

Tecnologia importada do Norte

Eli Pereira Natividade trabalha há 18 anos na construção das alegorias da escola Império de Casa Verde, tricampeã do carnaval paulistano. Ele faz parte de um grupo de profissionais que, desde a década de 90, se tornou caríssimo às agremiações.

Trabalhadores do Festival de Parintins trabalham no carnaval do sudeste há decadas
Trabalhadores do Festival de Parintins trabalham no carnaval do sudeste há decadas
Foto: Terra Byte

Todos os anos, o especialista sai do Amazonas e leva a expertise de artesãos do tradicional Festival de Parintins, sua terra natal, aos carros alegóricos do carnaval do Sudeste.

"Antes, aqui tinha muita escultura fixa e parada. De Parintins, trouxemos toda a evolução da parte robótica e hidráulica. Isso dá vida às alegorias. É muito difícil você ir em uma escola de samba, hoje, e não ver um parintinense trabalhando", conta.

Em 2019, o trabalho parintinense se destacou em uma alegoria da Unidos de Vila Isabel, que trouxe quedas d'água para o meio da passarela do samba. 

Depois do período de folia, Eli e seus colegas tiram férias por cerca de um mês e, em seguida, começam a segunda temporada de construções similares para o festival amazonense, que ocorre todos os anos em junho e também abusa de alegorias complexas. 

Profissionais como Eli se envolvem desde o projeto inicial do enredo até a integração com as coreografias do desfile. Um vídeo que mostra o funcionamento do interior de um carro alegórico de uma outra escola, a Estação Primeira de Mangueira, ilustra a complexidade desse tipo de construção. 

@megafonepop Veja pela visão dos bastidores em baixo do carro de samba da comissão de frente da MANGUEIRA, como foi feito a troca de roupa! 🔥👀😲💚💖🥁 (video by: @o_victor_maia ) #samba #carnaval #carnavaltiktok #mangueira #trocaderoupa #brasil #brazil #sapucai #riodejaneiro #globeleza #paravoce #pravoce #fy #fyp #fypシ #fypage #foryou #foryoupage ♬ som original - MEGAFONE POP

"Fica bastante calor, principalmente quando usamos iluminação e LED, mas, na hora, vai. Pelo título, a gente faz tudo, e é nesse detalhe que ganhamos o Carnaval. Tem muito parintinense que vem, faz várias escolas e vai embora, mas só fico aqui desde 2005. Sou imperiano", conta Eli. 

Inovações não são de hoje

Mas não foi a era digital que levou as escolas a equilibrar modernidade e tradição. "Isso ocorre desde 1932, quando aconteceu o primeiro concurso oficial de escolas de samba", diz Leonardo Antan, mestre e pesquisador em história do Carnaval na UERJ.

Acompanhar mudanças na tecnologia e até no pensamento da sociedade se tornou essencial para a sobrevivência das escolas. "Essa grande transformação do Carnaval e essa atenção que ele tem a discussões contemporaneas é algo que dá às escolas de samba essa longevidade. Modernidade também é importante para a festa se renovar", diz Antan. 

Efeitos, trilhos, cordas e truques de todos os tipos com as alegorias ganharam ainda mais propulsão a partir dos anos 2000.

"Paulo Barros foi e é uma pessoa muito ligada nisso, sendo responsável em algum sentido por revoluções na festa", comenta Antan, se referindo ao carnavalesco conhecido pelas inovações marcantes nos desfiles do Rio de Janeiro.

Em 2010, a vitória da Unidos da Tijuca no carnaval carioca, após um jejum que durava desde 1936, foi atribuída a toques de ilusionismo trazidas pelo profissional na comissão de frente da escola. Na performance, os dançarinos trocavam de figurino em pouquíssimos segundos, cobertos por um pano, chocando o público.

Fonte: Redação Byte
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