Contra estresse, cadeira de massagem detecta tensão e alonga
- Guilherme Neves
- Direto de Osaka (Japão)
Evitar o estresse é algo muito importante no Japão e pode ajudar a entender por que o país, que tem uma palavra própria para morte por excesso de trabalho - "karoshi", união de "karo", trabalho, e "shi", morte - consome 62% da produção mundial de um gadget cujo custo pode chegar a US$ 5 mil: cadeiras de massagem.
Inspiradas na milenar técnica do shiatsu, que segundo alguns remonta há 2,5 mil anos, o último lançamento da linha da Panasonic, pioneira na área no país, realiza o trabalho de uma equipe de massagistas, e ainda faz alongamento. A Real Pro Thermal parece uma poltrona sofisticada, mas "apalpa" - e por vezes até torce - ombros, pernas, pescoço, braços, mãos e outras partes do corpo sem piedade, e é a ponta de uma tradição que começou na década de 1960 dentro da fabricante japonesa.
A história desse "eletrodoméstico" começa menos glamurosa. Em 1969, a empresa lançou no mercado a EP-50. De couro, com um controle remoto no apoio de braço direito, a primeira cadeira massagista da Panasonic tinha um conjunto de quatro rodas que se encarregavam do relaxamento. Em vez de ficar camuflada sob o encosto marrom, no entanto, as rodas ficavam salientes, como se o encosto tivesse patas. Elas faziam pressão nos músculos, massageando as costas de acordo com comandos dados pelo usuário - para cima, para baixo, golpes rápidos e movimentos circulares.
Na versão mais nova, as rodinhas deram lugar a esferas inteligentes que, em vez de simplesmente rolar para cima e para baixo, encontram os pontos mais tensos e aplicam técnicas do shiatsu sobre o corpo todo simultaneamente.
"Sova high-tech"
Tudo começa com uma leitura corporal. Por 20 segundos, sensores de pressão detectam a parte de cima dos ombros e as áreas mais tensas no corpo. Depois, a sessão se inicia com um complexo sistema de esferas e mecanismos de rolamento e aquecimento. Além do calor, eles simulam o movimento de rotação do pulso, como se um massagista humano segurasse o braço e torcesse os músculos levemente para dentro e para fora.
Os pés são apertados e massageados na planta, os braços e até os dedos das mãos são pressionados em pontos específicos, e as costas como um todo são socadas, esfregadas e apertadas - enquanto o usuário é sovado pela cadeira. Depois de massagear, ela se encarrega de alongar, erguendo diferentes partes do corpo para fazer os músculos se esticarem, e completar a sessão de relaxamento.
Segundo executivos da Panasonic, o público alvo são pessoas de 40 a 60 anos, dizem, sem revelar o perfil econômico dos clientes desse tipo de aparelho. O país tem renda per capita de US$ 35,5 mil ao ano, segundo dados de 2011. A cadeira seria 14% da renda total. No Brasil, uma série anterior do produto recebeu desconto para vender o estoque - esgotado relativamente rápido na avaliação da empresa, que não revelou os números da operação no País, em que o carro-chefe são as TVs.
Há outras opções da linha de bem-estar que aliviam as tensões do ganha-pão sem aumentar o estresse por dívidas. A linha da Panasonic, cujo faturamento é estimado em US$ 100 bilhões para este ano, tem uma série de massageadores, da panturrilha aos olhos, além de outros produtos para recuperar as energias dos consumidores e até manter a forma.
"Faz parte da filosofia da empresa, uma vida mais saudável e com mais beleza", afirma Hiroyuki Tagishi, diretor da unidade, cuja fábrica fica na província japonesa de Shiga. Conforme Tagishi, os negócios da área de beleza são pequenos percentualmente, mas estáveis o suficiente para resistir aos efeitos do prejuízo de US$ 10 bilhões previstos para o ano fiscal. Está nos planos reduzir as unidades de 88 para 56 a partir de abril, mas sem mexer na área de beleza.
"Na empresa, nós somos a área do futuro, que pode ajudar a alavancar os negócios novamente", diz Tagishi.
O repórter viajou a Osaka a convite da Panasonic.