Como submersível do Titanic pode ter implodido e matado 5 pessoas
Pressão da água sobre qualquer objeto no local dos destroços é cerca de 376 vezes maior do que a exercida pela atmosfera da Terra
A Guarda Costeira dos Estados Unidos anunciou, nesta quinta-feira (22), as mortes dos cinco tripulantes do submersível Titan, da empresa OceanGate. O veículo tentou visitar os destroços do transatlântico Titanic e desparecerem no mar.
Ele desapareceu no domingo (18), enquanto transportava as cinco pessoas para uma expedição a 3.800 metros de profundidade.
Também nesta quinta, pouco antes do anúncio dos óbitos, a Guarda Costeira encontrou destroços nas áreas de busca. Eles foram localizados nas proximidades dos restos do Titanic pela sonda do navio militar canadense Horizon Arctic.
"Os destroços são consistentes com uma perda catastrófica da câmara de pressão. Após essa determinação, notificamos imediatamente as famílias", disse o contra-almirante John Mauger, que lidera as buscas pelo veículo.
As equipes também encontraram um "segundo campo de detritos menor", que é onde a outra extremidade do casco de pressão do Ttian foi encontrada.
"Continuamos a mapear o campo de destroços e faremos o melhor que pudermos para mapear totalmente o que está lá embaixo", disse um especialista do grupo ao site Sky.
O submersivel Titan implodiu?
Como os restos do Titanic, que naufragou em 1912, estão a 3.800 metros de profundidade, a pressão da água sobre qualquer objeto no local é cerca de 376 vezes maior do que a exercida pela atmosfera da Terra.
Ao jornal britânico The Guardian, fontes afirmaram que o Titan provavelmente atingiu uma profundidade de cerca de 3.500 metros no momento em que a comunicação foi perdida. A pressão, neste caso, seria igual a 345 vezes maior à que sentimos fora do mar.
Portanto, um dos cenários já esperados sobre o caso é uma ruptura no casco externo do submersível. Isso causaria uma implosão que mataria rapidamente a tripulação. Os destroços encontrados nesta quinta-feira parecem reforçar essa tese.
Rebeca Bacani, doutora em Física pela Universidade de São Paulo (USP), explica ao Byte como sentimos a pressão atmosférica.
"A cada dez metros de profundidade que a gente desce abaixo do nível do mar, a gente tem uma atmosfera. Em um quilômetro, é como se tivesse 100 atmosferas em cima de você. Então a pressão exercida é tão grande que pode apertar as coisas. E aí, a cada estágio de descida, você exige, por segurança, um tipo de equipamento diferente."
"Eu li que o especialista de segurança da empresa foi demitido em 2018 porque ele falou que o vidro do submersível aguentava só 1.000 metros [nota: eram 1.300 metros]. Se os destroços do Titanic estão a 3.800 m abaixo, é preciso descer 400 atmosferas e o vidro do seu submarino aguenta só 1.000 m. Então os materiais têm que suportar essa pressão. É por isso que ocorre a implosão abaixo do oceano", detalha Bacani.
Margens de erro pequenas
O professor de robótica da Universidade de Sydney Stefan B. Williams disse ao site americano The Conversation que esse panorama leva qualquer expedição submarina ao Titanic a ter margens de erro muito pequenas se quiserem ter sucesso.
"Embora o casco composto do Titan seja construído para suportar intensas pressões em alto mar, qualquer defeito em sua forma ou construção pode comprometer sua integridade – nesse caso, há risco de implosão", disse Williams.
Alguns preparativos para esse tipo de mergulho deveriam incluir verificações na estrutura do submersível e em todos os sistemas mecânicos e elétricos da embarcação. Entre os detalhes a serem percebidos, deve-se confirmar:
- Se o casco — uma estrutura de fibra de carbono que conecta duas cúpulas compostas de titânio — está inteiro;
- Se as baterias estão carregadas;
- Que não há curtos-circuitos ou falhas elétricas;
- Que os propulsores estejam funcionando normalmente
- Que o rádio e demais equipamentos de comunicação estejam funcionando;
- Que o submersível possa baixar os pesos que carrega quando chegar a hora de ressurgir.
O Titan tinha um sistema de monitoramento da saúde do casco em tempo real. Seu objetivo era relatar possíveis tensões no casco. No entanto, ainda não está claro se houve falhas nesse sistema.
"Se algo deu errado, há uma boa chance de ter dado muito errado", disse Williams ao The Guardian. "Se o vaso de pressão falhou catastroficamente, é como uma pequena bomba explodindo. O potencial é que todos os dispositivos de segurança possam ser destruídos no processo."
* Colaborou Ingrid Oliveira