Halloween: Como explicar o comportamento de zumbis? Cientistas respondem
Infelizmente, poucas teorias foram testadas, principalmente porque os zumbis - os zumbis humanos, pelo menos - não existem de verdade
THE WASHINGTON POST - Zumbis são apenas pessoas normais, ou pelo menos eram antes de... bem, você sabe. Com isso em mente e a chegada do Halloween, o jornal americano Washington Post pediu para especialistas de várias áreas abordarem alguns mistérios zumbis com base no que se sabe sobre corpos e cérebros humanos. Eles derrubaram alguns tropos (ah!), deixaram a porta aberta para outros (eba!) e ofereceram hipóteses esclarecidas sobre como e por que os zumbis fazem o que fazem.
Infelizmente, poucas teorias foram testadas, principalmente porque os zumbis - os zumbis humanos, pelo menos - não existem de verdade.
Por que os zumbis não agem como nós?
Alguns mortos-vivos atípicos se apaixonam, correm em velocidades sobre-humanas e até vendem imóveis, mas graças ao pioneiro diretor de filmes de terror George A. Romero, o zumbi estereotipado da cultura pop é lento, absorto e faminto.
Mas por quê? Talvez porque eles tenham perdido a função de partes fundamentais de seu cérebro em rápida decomposição, disse o neurocientista cognitivo Timothy Verstynen, pesquisador da Carnegie Mellon.
Talvez eles fiquem atacando constantemente porque as áreas de tomada de decisão no córtex pré-frontal estejam danificadas, disse Verstynen. Sem esse contrapeso calmo e ponderado, a resposta de luta ou fuga da amídala fica descontrolada. (Muitos zumbis provavelmente também escolhem fugir em vez de lutar, mas eles só se afastam e não ficam muito tempo na tela).
Mesmo amigos e familiares são um alvo possível, talvez porque os danos a um conjunto de regiões cerebrais chamadas de rede central façam com não consigam mais distinguir um amigo de um desconhecido e potencialmente saboroso.
Esse apetite insaciável é uma pista de que o hipotálamo se descontrolou e está produzindo em excesso a grelina, hormônio estimulante da fome, condenando os zumbis a ficar sempre famintos. Eles raramente conseguem rosnar mais do que algumas palavras, sinal de deterioração nos centros de linguagem, chamados de área de Broca e área de Wernicke.
Nutricionalmente, os cérebros são cerca de 60% de gordura e 40% de proteína, com pouco ou nenhum carboidrato, disse ela, algo consistente com as dietas cetogênicas com baixo teor de carboidratos e alto teor de gordura originalmente desenvolvidas para reduzir convulsões em crianças. Por outro lado, cerca de metade das calorias de uma dieta humana típica e saudável viria de carboidratos, que fornecem energia rápida.
Derocha disse que a "gripe ceto", uma reação comum à súbita falta de carboidratos, pode ser responsável por alguns dos sintomas dos zumbis: "Ficam gemendo, andando muito lentamente, em transe e com névoa cerebral". No entanto, a Dieta Z não é de todo ruim.
Os cérebros forneceriam uma quantidade razoável de fluidos - são 80% de água em peso - e nutrientes de que os zumbis precisariam, como vitamina B12, vitamina C, para reforçar o tecido conjuntivo e fósforo, cobre e ferro para fortalecer os ossos.
Um menu feito só de cérebro seria sustentável por algumas semanas, no máximo, disse Derocha, porque faltariam nutrientes, vitaminas e minerais essenciais. (Ela disse que também seria extremamente constipante, mas observou que não sabe ao certo se os zumbis vão ao banheiro, para começo de conversa).
E também tem o problema do acesso.
Os humanos têm mordidas extremamente fortes para nosso tamanho, conforme estudo de 2010 na Austrália, e nossos dentes são muito bons em quebrar nozes. Mas crânios, nem tanto, disse o coautor do estudo Stephen Wroe, por e-mail.
"Nossa boca não é grande o suficiente", escreveu ele. "Nossos dentes não são adaptados para morder osso; eles quebrariam. Se tivéssemos os dentes do formato certo, talvez. Mas, para ser honesto, precisaríamos fazer alguns experimentos para ter certeza". Esta reportagem, portanto, pode ser atualizada se futuros experimentos com mordidas de crânio provarem o contrário.
Por que eles não comem uns aos outros?
Eles mastigam amigos e familiares vivos - e pelo menos alguns zumbis influencers comem cérebros. Mas por que não um ao outro? Para responder a esta pergunta, quatro pesquisadores do Monell Chemical Sciences Center ofereceram seus conhecimentos nos sentidos do paladar e do olfato, observando que alguns zumbis, como os da série The Walking Dead, dependem muito de farejar humanos.
Bob Pellegrino, pós-doutorando do centro, disse que logo pensou nos mosquitos e se perguntou se os corpos dos zumbis não produzem mais aqueles cheiros e produtos químicos especiais que fazem os humanos vivos parecerem saborosos.
Os mosquitos "também são sugadores de sangue e usam uma série de pistas para encontrar humanos", disse Pellegrino. "Eles sentem o CO2 a longa distância, depois se valem do olfato a média distância e, por fim, usam paladar, calor e umidade a curta distância para pousar e atacar. Sem algumas dessas pistas, eles não conseguem encontrar hospedeiros".
Ele também sugeriu que os zumbis talvez sintam repulsa por carne em decomposição, como teriam sentido quando estavam vivos. "Acho que carne podre é muito mole, e mole é definitivamente uma textura aversiva", disse Pellegrino. "A textura também está muito ligada ao som, então sons bem nojentos vêm com texturas mais nojentas".
Paul Wise, cientista de longa data da Monell, sugeriu que os zumbis talvez sintam cheiro de doença uns nos outros, especialmente se tiverem virado zumbi por causa de um vírus. "Pode ser que os zumbis sintam o cheiro de substâncias voláteis associadas a respostas biológicas à infecção e decidam que não há motivo para comer outro zumbi, porque o vírus já foi transmitido", escreveu Wise, por e-mail.
Ou talvez eles tenham provado carne de um colega no início de sua jornada zumbi e aprendido uma lição. "Se os cérebros dos zumbis não satisfizessem seus desejos da mesma forma que os cérebros vivos, eles aprenderiam a prestar atenção aos sinais de odor rapidamente", escreveu Wise. "É claro que em vida eles provavelmente já teriam aprendido a evitar os odores da decomposição. Talvez fosse natural que evitassem mastigar uns aos outros".
Stephanie Hunter, colega de pós-doutorado de Pellegrino, sugeriu que talvez eles gostem dos alimentos mais frescos. "Se eles pegam uma pessoa e começam a comê-la, mas depois veem uma nova pessoa, eles também vão pegar essa outra pessoa, mesmo que a primeira ainda não esteja apodrecida", disse. O quarto estudioso rejeitou a premissa da pergunta.
"Minha mente científica diz que é altamente provável que comam uns aos outros", escreveu Ichiro Matsumoto, biólogo molecular. "Mas os humanos não sabem disso".
Primeiro, disse, os humanos não têm dados populacionais sobre zumbis, então eles talvez estejam comendo uns aos outros, mas nunca percebemos a diminuição populacional. Segundo, humanos são péssimos observadores do comportamento dos zumbis porque estão sempre fugindo ou sendo mortos por eles. Ninguém fica por perto para fazer um estudo observacional adequado.
"Acho que os humanos simplesmente partem do pressuposto de que eles não comem uns aos outros, sem qualquer evidência convincente", concluiu Matsumoto.
Um zumbi conseguiria sair do túmulo?
Há dados sobre esta questão - mais ou menos. Mesmo um zumbi muito motivado provavelmente não conseguiria sair de baixo 1,80 m de terra, porque tanta terra em cima de um caixão de tamanho médio poderia pesar mais de 3 mil quilos. Mas - e é um grande mas - "a sete palmos do chão" é um dito popular, não um padrão.
As regras variam muito, mas a maioria dos enterros nos Estados Unidos ocorre muito mais perto da superfície, com o topo do caixão muitas vezes a menos de 60 cm do solo. A Carolina do Sul, por exemplo, exige apenas 25 cm.
Ellen Wynn McBrayer, porta-voz da Associação Nacional de Diretores Funerários, levou a questão da fuga dos zumbis para a equipe do cemitério que ela possui e opera perto de Atlanta.
"O consenso foi que, se um zumbi ou um humano que se transforma em zumbi está na vala, eles não vão conseguir sair da vala", disse McBrayer. "E a maioria dos caixões provavelmente não permitiria que eles saíssem também".
McBrayer observou que, segundo dados da associação, cerca de 60% das pessoas que morrem nos Estados Unidos são cremadas - processo inquestionavelmente à prova de zumbis. Mas ela disse que os enterros ecológicos, com profundidades de cerca de 60 cm e coberturas corporais mínimas, estão crescendo em popularidade.
Então, se um zumbi for reanimado em um terreno mais raso e estiver envolvido apenas por um caixão frágil, ou só uma mortalha, ele terá muito mais chances de escapar - especialmente se o túmulo estiver fresco e a terra ainda seca e solta.
McBrayer disse que a equipe "gostou de fazer brainstorming sobre algo com que não precisamos nos preocupar", embora, é claro, a ideia não fosse nova para eles. O cemitério está patrocinando uma corrida de 5 km com tema de zumbi neste Halloween, e seu logotipo é uma lápide com um braço solitário saindo do chão. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU