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Explosão de raios gama enviou fótons que não deveriam chegar à Terra

A maior explosão de raios gama já vista enviou à Terra fótons ainda mais energéticos do que os detectados anteriormente. Isso pode implicar em uma nova física

26 out 2023 - 13h01
(atualizado às 17h01)
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Uma pesquisa sobre a maior explosão de raios gama já vista encontrou mais fótons relacionados ao evento, que são ainda mais energéticos do que os detectados anteriormente. Se as medições estiverem corretas, o universo deve ser mais transparente do que se imaginava.

Foto: ESA / XMM-Newton / M. Rigoselli, INAF. / Canaltech

O evento GRB 221009A foi uma imensa explosão observada em 2022, tão brilhante e energética que os astrônomos pensaram que ocorreu na Via Láctea. Entretanto, foi constatado que o brilho estava em uma galáxia a 2,4 bilhões de anos-luz da Terra.

Ainda é difícil explicar o que aconteceu, mas as estimativas são de que esse tipo de fenômeno só deve ocorrer uma vez a cada 10 mil anos. Até hoje a radiação residual ainda é visível e continuará assim por mais alguns anos.

Para saber se o evento GRB 221009A nos enviou fótons de raios gama ainda tão energéticos que não poderiam ser detectados pelos telescópios terrestres, os autores do novo estudo observaram chuvas de partículas produzidas quando essa radiação atingiu a atmosfera da Terra.

Imagens do evento feitas pelo telescópio Fermi; cada quadro mostra raios gama com energias superiores a 100 milhões de elétron-volts (MeV) (Imagem: Reprodução/Colaboração NASA/DOE/Fermi LAT)
Imagens do evento feitas pelo telescópio Fermi; cada quadro mostra raios gama com energias superiores a 100 milhões de elétron-volts (MeV) (Imagem: Reprodução/Colaboração NASA/DOE/Fermi LAT)
Foto: Canaltech

Com esse método de observação indireta, eles de fato encontraram novos fótons ultra energéticos relacionados à explosão GRB 221009A. Essa é uma boa notícia para os cientistas que buscam novos mistérios para resolver, especialmente aqueles cuja resolução pode abrir as portas de uma nova física.

Observar os raios gama de explosões distantes não é algo comum, pois o universo é muito opaco para eles. O motivo é que fótons de alta energia podem interagir com fótons de energia mais baixa, podendo ser refletidos pela luz extragaláctica de fundo. É mais ou menos como tentar observar uma luz acesa em meio à neblina: quanto mais afastada de nós, mais ela é bloqueada pelas partículas.

Isso significa que os fótons encontrados pelo novo estudo não deveriam ter chegado à Terra, e sim dispersos enquanto atravessavam a luz extragaláctica durante sua viagem de 2,4 bilhões de anos pelo universo. Se é assim, como eles foram detectados aqui na Terra?

Partículas da explosão GRB 221009A

Existem algumas hipóteses que podem explicar o mistério, embora algumas sejam pouco prováveis, e outras, muito exóticas. Uma delas é que eles não sejam fótons, e sim outras partículas (como múons), que foram erroneamente classificadas como radiação gama. Outra é que esses fótons não têm energia tão alta quanto parecem ter.

Brilho residual do evento GRB 221009A, dessa vez observado em raios X, outro tipo de radiação liberada pela explosão. Os anéis brilhantes se formaram pelo espalhamento dos fótons por camadas de poeira da Via Láctea (Imagem: Reprodução/NASA/Swift)
Brilho residual do evento GRB 221009A, dessa vez observado em raios X, outro tipo de radiação liberada pela explosão. Os anéis brilhantes se formaram pelo espalhamento dos fótons por camadas de poeira da Via Láctea (Imagem: Reprodução/NASA/Swift)
Foto: Canaltech

Uma terceira possibilidade é que o universo seja mais transparente do que os cientistas pensavam, isto é, com menos luz extragaláctica para interagir com os fótons de raios gama que vêm de muito longe. Por fim, os fótons gerados na explosão GRB 221009A teriam sido convertidos em uma partícula hipotética chamada áxion — uma das candidatas a componente da matéria escura.

Áxions, caso existam, são um tipo de partícula que não interage com a matéria e nem com a luz. Isso permitiria que viajassem à vontade pelo universo, atravessando livremente a luz extragaláctica de fundo. Ao penetrar uma galáxia como a Via Láctea, e interagir com seu campo magnético, seriam convertidos novamente em fótons.

Infelizmente, ainda é muito cedo para testar essas hipóteses, já que seria necessário detectar outros eventos semelhantes ao GRB 221009A. Como essas explosões são raras, pode ser que o segredo esteja reservado para os astrônomos de um futuro muito distante.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado no repositório arXiv, sem revisão de pares.

Fonte: arXiv; Via: NewScientist

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