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Bicicleta "perfeita" de Pelé tem explicação nas leis da física

Conjunto de movimentos que viraram marca registrada do astro do futebol tem explicação científica

2 jan 2023 - 15h53
(atualizado às 15h55)
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Foto de Pelé dando bicicleta virou um clássico
Foto de Pelé dando bicicleta virou um clássico
Foto: Reprodução Twitter/@Pele

Ao longo dos 82 anos em que viveu, raras — ou nenhuma — palavras estiveram tão associadas a Pelé quanto “gênio”. No futebol, todos os lances que se veem hoje nos gramados do mundo, seja um drible desconcertantes ou um gols espetacular, Pelé inventou ou o levou à perfeição.

Neste segundo caso, está a bicicleta. E dizer que ele aperfeiçoou não é força de expressão. A ciência comprovou.

Usando as mesmas leis da Física que possibilitam a descoberta de novas partículas subatômicas ou planetas desconhecidos orbitando estrelas distantes, o físico Marcos Duarte, do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do ABC (UFABC), estudou em detalhes, há alguns anos, uma bicicleta dada por Pelé.

O lance analisado não ocorreu durante um jogo, mas foi feito pelo Rei do Futebol para as gravações de um documentário sobre ele mesmo, produzido na década de 1970.

Conforme Duarte explicou mais tarde, quando realizou o estudo, o lance do vídeo era perfeito para a análise, pois foi filmado por uma câmera paralela ao solo, ou seja, a imagem estava perpendicular ao movimento, o que evitou erros de perspectiva.

Por meio de computação gráfica, o pesquisador realizou efeitos que tornaram possível visualizar a trajetória percorrida pelo centro de gravidade de Pelé durante a bicicleta. Além disso, Duarte reproduziu o lance substituindo a imagem do corpo do atleta por uma de um esqueleto, verificando assim o comportamento dos ossos durante o movimento.

Com a análise detalhada do vídeo, Duarte conseguiu calcular o raio de giro de Pelé no ar e as velocidades de seus movimentos. Foi medido o movimento de cada parte do corpo separadamente: cabeça, braços, pernas, tronco.

Com isso, foi possível calcular uma grandeza física, chamada de "quantidade total de movimento", do corpo de Pelé. Assim, o pesquisador obteve o que ele chamou de “receita da bicicleta perfeita”.

As fases de uma bicicleta; "R" representa a perna direita
As fases de uma bicicleta; "R" representa a perna direita
Foto: it:User:Fabio Messina, CC BY-SA 3.0 <http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/>, via Wikimedia Commons

Veja ingredientes da fórmula

A receita tem três ingredientes: salto, tesoura e chute. O vídeo da bicicleta analisada tem duração de 0,8 segundo — tempo em que o jogador salta, desenvolve o movimento de cruzar as pernas no ar (chamado por Duarte de "tesoura") e chuta a bola, para, na sequência, cair no chão.

De acordo com Duarte, são esses três movimentos que definem a bicicleta perfeita. 

No primeiro movimento, Pelé salta e coloca suas costas em paralelo com o chão, e, quase ao mesmo tempo, cruza as pernas no ar. Ou seja, na chamada tesoura, o atleta ergue primeiro sua perna esquerda, aquela com a qual ele não chutará a bola, mas serve para manter a quantidade de equilíbrio do corpo. Depois de lançar a perna esquerda, Pelé movimenta a direita, que chuta a bola. 

Segundo Duarte, nesse lance, o atleta aplica — mesmo sem saber, isto é, instintivamente — o conceito físico da conservação da quantidade de movimento. Em outras palavras, ele salta, lança os braços e a perna esquerda para o alto para depois abaixá-los e assim manter por um certo tempo seu tronco estável, devido à queda de seu centro de gravidade. 

Depois de suas análises, Duarte concluiu que, dos três ingredientes, o mais importante é a tesoura. No início da pesquisa, ele queria saber se os movimentos que Pelé executava durante uma bicicleta eram diferentes dos de outros jogadores apenas na estética, na beleza plásticas do lance, ou se cruzar as pernas no ar tinha alguma outra função, como tornar o lance mais eficiente.

A conclusão foi que a bicicleta de Pelé era mais eficiente, com quase 100% de aproveitamento da energia do corpo.

Segundo Duarte, do ponto de vista mecânico, existe uma função no ato de lançar primeiro a perna que não vai chutar a bola e depois cruzar as duas no ar e bater na bola com a outra. Essa cruzada de pernas proporciona um melhor equilíbrio do atleta no salto, fazendo com que ele execute o movimento com mais eficiência.

Além disso, a chamada tesoura aumenta a potência do chute. Segundo Duarte, embora Pelé não tenha sido o inventor desse tipo de lance, ele o foi do que se pode chamar de “bicicleta perfeita”.

Pelé faleceu na última quinta-feira (29), aos 82 anos
Pelé faleceu na última quinta-feira (29), aos 82 anos
Foto: AFP/SCANPIX, Public domain, via Wikimedia Commons

De onde veio a bicicleta?

Por falar em inventor, é quase um consenso no Brasil que a bicicleta foi inventada por Leônidas da Silva, craque que ficou conhecido como "Diamante Negro" e que disputou as Copas do Mundo de 1934, na Itália, e 1938, na França, da qual foi o artilheiro, com oito gols.

Mas durante o seu estudo, Duarte verificou que o verdadeiro inventor do lance foi o espanhol Ramon Unzaga, que se mudou com a família para o Chile, quando tinha 12 anos.

Ele deu a primeira bicicleta em 1914, quando Leônidas tinha apenas um ano de idade. Unzaga realizou várias vezes o lance pela seleção do seu novo país. Tanto que na época o lance ficou conhecido como “chilena”.

Fonte: Redação Byte
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