Passava das 22h de sábado (18), e o Grajaú, distrito da periferia da zona sul de São Paulo, estava com os olhos voltados para um único lugar: o Sambódromo do Anhembi.
Era o lugar onde a comunidade mais populosa da capital paulista, com pouco mais de 395 mil habitantes, segundo o Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo, estava sendo representada.
Pela primeira vez em seus quase 25 anos de história, a escola de samba Estrela do Terceiro Milênio, oriunda da comunidade, desfilava no Grupo Especial do Carnaval paulista. E foi mais do que isso: ela mostrou que o Grajaú tem povo feliz, mesmo diante de tantos problemas pela falta de políticas públicas, fazendo jus ao samba-enredo “Me dê a sua tristeza que eu transformo em alegria. Um tributo à arte de fazer rir”, do carnavalesco Murilo Lobo.
Nem mesmo o problema com o maquinário que colocou cada componente nos carros alegóricos, o que atrasou a entrada da escola na avenida, iria interferir no espetáculo esperado, fortalecendo ainda mais a força e superação dessa comunidade. Vale destacar que essa falha foi da Liga das Escolas de Samba, que assumiu o problema, e não irá interferir na apuração e avaliação da escola, já que o desfile ainda não estava sendo cronometrado.
Nas redes sociais não faltaram adjetivos para mostrar que a comunidade estava unida e alegre num momento tão especial. No Sambódromo, debaixo de chuva, ou no sofá de casa, o que se viu foi uma mistura de emoções, do começo ao fim. O Grajaú chegou a estar entre os assuntos mais comentados no Twitter entre a noite de sábado e manhã deste domingo (19).
“É Grajaú!!!”, “É a pegada da Coruja”, “Grajaú tá muito bem representado”, “Grajaú, mais uma vez, mostrando a sua força”, “Do Grajaú pro Mundo”, “Foi lindo de ver”, “Respeita o Grajaú”, disseram alguns internautas, crias do Grajaú, durante o desfile da atual campeã do Grupo de Acesso.
Com 16 alas e 4 alegorias que chamaram a atenção, a agremiação apostou nas cores fortes e na representação da comédia desde a época dos bobos da corte, passando pelas obras do autor francês Molière e do ator britânico Charlie Chaplin. O livro "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, o apresentador Jô Soares e Roberto Bolaños, o Chaves, também ganharam homenagens.
O público pode ficar surpreendido logo na comissão de frente, que teve direito a trocas de roupas rápidas e até personagem "perdendo a cabeça". A comissão tinha um carro com o tema "o remédio para sua dor".
O carro, com a escrita "Grajaú", tinha um portal, de onde saía uma família pobre e negra do Grajaú, com semblante triste. Do mesmo local, surgia um personagem aterrorizante, que ameaçava todos com uma espada.
Em seguida, com roupas coloridas, os clowns "arrancavam a cabeça" do vilão. De dentro do corpo, surgia outra pessoa sorridente. Para finalizar, as roupas da família se transformaram instantaneamente em vestimentas coloridas, trazendo de volta a alegria.
A escola também teve a estreia da atriz e ex-BBB Carla Diaz como madrinha de bateria, além da participação de Marcelo Adnet, que homenageou Paulo Gustavo em sua camiseta, Marcelo Tas, que escolheu um visual que marcou seu período como apresentador do CQC, Alexandre Porpetone, o "Cabrito Tevez" do SBT, personagens de "A Praça é Nossa", Ellen Rocche, e Antonio Tabet e Thati Lopes, do Porta dos Fundos.
A agremiação terminou seu desfile com o tempo de 1 hora, 2 minutos e 51 segundos, e apresentou um carro alegórico que homenageou Paulo Gustavo, que estava sentado no colo de uma figura do Cristo Redentor, que dizia: "Menino, você é mesmo uma peça!"
E foi assim que o Grajaú parou para ver sua história sendo contada na elite do Carnaval de São Paulo. E vem mais emoção por aí, já que a apuração será na terça-feira (21). A expectativa é grande, mas independente do resultado, há uma certeza: a alegria reina na quebrada, e a festa está garantida.
