A bacia Amazônica é hoje a maior produtora de cocaína do mundo, com posição estratégica na cadeia de produção e abastecimento dos principais mercados consumidores. A degradação ambiental é um dos legados mais perversos da droga.
Plantada onde antes havia floresta, refinada poluindo rios e impulsionando o crime organizado em periferias de cidades como Manaus e Belém, a cocaína deixa, além de violência e vício, um rastro de crimes ambientais na região amazônica — hoje a principal produtora do mundo. O tema, porém, não é destaque na COP30.
“A produção de cocaína não é vista como causa de degradação ambiental, mas destrói florestas para plantio e gera financiamento, por exemplo, para mineração, que está acabando com a Bacia Amazônica”, diz David Restrepo, pesquisador colombiano e um dos autores do relatório Floresta em Pó, lançado na COP30.
A perda florestal ligada ao cultivo da folha de coca dobrou na última década, com taxas anuais que ultrapassaram 20 mil hectares em alguns anos. Isso equivale a 28 mil campos de futebol, 127 parques do Ibirapuera, em São Paulo, ou 40 bairros de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Cocaína degrada o meio ambiente do plantio ao refino
Colômbia, Peru e Bolívia lideram o plantio e a produção de coca, concentrada sobretudo em áreas de floresta, regiões de cordilheira e zonas de fronteira com baixa presença do Estado. Esse cenário favorece a atuação de organizações criminosas transnacionais à frente de uma “cultura de fronteira”.
Isso significa que, ao derrubarem a floresta para plantar o arbusto do qual se extraem as folhas de coca, os cultivadores abrem espaço para a expansão do pasto destinado ao gado e para atividades ilegais, como o garimpo na região de Roraima.
O processamento da cocaína lança substâncias altamente tóxicas no meio ambiente. Segundo o relatório Floresta em Pó, a produção de um quilo de “pasta-base” de cocaína consome cerca de mil litros de amônia e 320 litros de gasolina.
Pistas clandestinas do tráfico invadem áreas indígenas
O relatório Floresta em Pó cita um levantamento do MapBiomas, divulgado no ano passado, sobre pistas de pouso e decolagem clandestinas abertas pelo narcotráfico. Quase um terço delas está em terras indígenas — 75 apenas no território Yanomami —, “onde há evidências claras da confluência entre narcotráfico e garimpo ilegal”, aponta o estudo.
No Pará, das 882 pistas clandestinas identificadas, 687 estavam em áreas próximas ou dentro de terras indígenas e unidades de conservação. Essas regiões também vêm sendo invadidas para a instalação de laboratórios clandestinos de refino de cocaína.
“Infelizmente, embora haja bastante debate na programação da COP30 sobre crime organizado e da violência, especialmente na Amazônia Legal, a pauta de drogas está bastante ausente, justamente por isso a gente lançou essa publicação, explica Rebeca Lerer, coordenadora latino-americana da Coalizão Internacional pela Reforma da Política de Drogas e Justiça Ambiental.