MANAUS - O governo do Amazonas decidiu reabrir parcialmente o comércio no Estado a partir da próxima segunda-feira, 23, mesmo com a capital ainda na fase vermelha (risco alto) da avaliação de risco da covid-19. O interior se encontra em situação ainda mais grave, a roxa (risco muito alto).
O anúncio foi feito pelo governador Wilson Lima (PSC) no início da tarde desta sexta-feira, 19, em transmissão nas redes sociais. Ele disse que a decisão foi baseada na análise dos indicadores da doença, que apresentaram ligeira queda nos últimos 14 dias.
Após o afrouxamento das medidas restritivas de circulação de pessoas ao longo de 2020, o Amazonas foi castigado por uma segunda onda da pandemia no início desse ano e na capital Manaus foi identificada uma nova variante do vírus causador da covid-19, o SARS-CoV-2, que os pesquisadores acreditam ter uma maior capacidade de transmissão. Com mais de dez mil mortos, o Estado tem sofrido com a falta de leitos de UTI, escassez de insumos hospitalares, como oxigênio, e teve morte de pacientes asfixiados em janeiro.
Diante do colapso da rede hospitalar, o governo decretou medidas mais duras, como o fechamento do comércio e das atividades não essenciais e a restrição da circulação de pessoas nas ruas durante 24 horas por dias a partir de 28 de janeiro. Desde então, em meio à pressão de representantes dos setores do comércio e serviços e com a redução discreta dos indicadores da pandemia, o decreto vem sendo flexibilizado. O toque de recolher, por exemplo, foi reduzido para o horário entre 19h e 6h.
A alteração anunciada será publicada no Diário Oficial e, segundo Lima, deve valer até o dia 28. Ela prevê a reabertura do comércio das 9h às 15h e de shoppings, das 10h às 16h, de segunda a sábado. Os restaurantes poderão receber clientes, com 50% da capacidade, entre 6h e 16h, também de segunda a sábado. Antes, esses estabelecimentos só estavam autorizados a funcionar com entregas (delivery) e no sistema de drive-thru. A Defensoria Pública informou que vai analisar os termos do decreto.
Na transmissão nas redes sociais, no início da tarde, foram apresentados os dados epidemiológicos e da capacidade de atendimento da rede de saúde que subsidiaram o governo na decisão pela reabertura. Segundo Lima, Manaus saiu da fase roxa de risco para a vermelha, enquanto os municípios do interior, sobretudo Parintins, seguem em fase roxa porque mantêm o ritmo de aumento dos casos, internações e óbitos pela doença.
"Todas as decisões que tomamos aqui, relacionadas ao decreto, são baseadas nos dados técnicos da Fundação de Vigilância em Saúde, da Secretaria de Saúde, entendendo a nossa ampliação da rede, abertura de novos leitos e também em consideração aos aspectos sociais e econômicos, entendendo que tudo que a gente faz aqui é para encontrar um equilíbrio", disse Lima.
Estado tem 275 pacientes na fila
Conforme o diretor-presidente em exercício da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Cristiano Fernandes, o Amazonas apresentou redução na média móvel de casos da doença e de óbitos nos últimos 14 dias, de -24,7% e -17,7%, respectivamente. "A gente deve manter as medidas de prevenção e controle visto que nós ainda temos uma alta carga de doença, apesar desses dados mostraram uma redução importante", observou.
A taxa de transmissão (RT) passou de 1.3 em janeiro para 0.95 no Amazonas, fazendo o Estado sair de 1º colocado para 22º. De acordo com a modelagem RT, cada 100 pessoas infectadas no início do ano transmitiam o coronavírus para outras 130. Agora, cada 100 infectados transmitem para 95, segundo o indicador. "Essa desaceleração é fruto das medidas que já foram adotadas" disse Fernandes.
O secretário estadual de Saúde, Marcellus Campêlo, informou que as taxas de ocupação de leitos para covid-19 estão atualmente em 74% leitos clínicos e 93% de UTI. Até esta quinta-feira, 18, 275 pacientes aguardavam na fila para serem internados, 198 diagnosticados com covid-19. "Vale lembrar que em janeiro esse número chegou a ser 657", disse.
Campêlo informou que, durante o plano de contingência da pandemia, a rede de saúde foi ampliada, saindo de 312 leitos clínicos de covid-19 para 1.039. A rede também passou de 130 leitos de UTI para 439 até a próxima semana, com a abertura de mais 30 leitos.
A classificação em cores
A classificação de risco em cores é um instrumento criado em junho para apoiar a tomada de decisão dos gestores na resposta à covid-19. A estratégia foi desenvolvida por representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS).
Levando em consideração os indicadores epidemiológicos, como a variação e óbitos e de novos casos de coronavírus, e dados sobre a capacidade do atendimento da rede de saúde, como o percentual de ocupação dos leitos, o documento descreve orientações sobre as medidas de distanciamento social que devem ser tomadas em cada cenário.
A escala gradual de cores vai de verde (o melhor cenário, com risco muito baixo) a amarelo, laranja, vermelho e roxo (de risco muito alto, quando há descontrole total do contágio e superlotação nos hospitais). Os outros estágios são baixo (amarelo), moderado (laranja) e alto (vermelho).
Conforme o documento, a fase vermelha é adotada quando a taxa de ocupação de leitos clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para covid-19 e SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) está entre 70% e 85%. Para se enquadrar na vermelha, também é preciso que novos casos e de óbitos por SRAG tenha registrado aumento de 5% a 20%, no máximo, nas duas últimas semanas. A taxa de positividade para covid-19 de amostras analisadas deve girar entre 30% e 50%.