Com a chegada dos vestibulares, muitos adolescentes enfrentam uma das etapas mais delicadas da vida escolar: decidir "o que serão" no futuro. A pressão, vinda da escola, da família, do tempo e até das redes sociais, cria um ambiente de ansiedade que pode prejudicar não só o processo de escolha, mas também o bem-estar emocional dos jovens.
Para entender como apoiar essa geração, conversamos com a Juíza Federal Alessandra Belfort, especialista em gestão emocional, carreiras e referência em NeuroLaw, área que estuda como o cérebro toma decisões sob diferentes condições, incluindo momentos de estresse.
A pressão precoce e seus efeitos emocionais
Segundo Alessandra, exigir que adolescentes escolham uma profissão muito cedo provoca impactos significativos. "Essa pressão precoce realmente afeta não só as escolhas, mas também o bem-estar emocional dos adolescentes. Vale reforçar que o cérebro é adaptável, que ninguém está condenado à primeira decisão, e que mudar de rota faz parte de trajetórias saudáveis".
Ela explica que, sob estresse, o cérebro tende a tomar decisões mais rígidas, impulsivas ou baseadas em expectativas externas, em vez de refletir a real identidade do jovem.
Mudar de rota durante os vestibulares também é maturidade
Um dos pontos que Alessandra reforça é a ideia de que ninguém precisa acertar na primeira escolha. "Escolher um caminho é importante. Mas saber que podemos recalcular a rota é o que dá leveza e coragem às decisões. O futuro não se constrói só com conhecimento: ele se sustenta na maturidade emocional de ouvir a própria verdade".
Essas perspectivas ajudam a quebrar o mito de que trocar de curso, estágio, área ou profissão é sinônimo de fracasso. Pelo contrário: hoje, estudos de carreira mostram que trajetórias não lineares tendem a ser mais ricas, criativas e alinhadas com quem a pessoa se torna ao longo da vida.
Como apoiar adolescentes na fase dos vestibulares
A especialista lista alguns pontos essenciais para que pais, professores e responsáveis criem um ambiente emocionalmente seguro para os jovens:
- Escuta ativa: permitir que o adolescente expresse dúvidas e inseguranças sem julgamento fortalece a confiança e reduz a ansiedade;
- Menos pressão, mais orientação: substituir a ideia de "você precisa decidir agora" por "vamos explorar possibilidades juntos" gera mais autonomia e consciência;
- Focar no processo, não só no resultado: a escolha profissional não é um evento isolado, é construída ao longo do tempo, com testes, experiências e autoconhecimento;
- Reforçar que mudar faz parte: mostrar casos reais, histórias pessoais e exemplos ajuda o jovem a entender que carreira não é destino fixo;
- Incentivar pausas e cuidado emocional: técnicas de respiração, pequenas rotinas de organização e momentos de descanso ajudam o cérebro a tomar decisões mais sábias.
Alessandra destaca que, nessa etapa, o segredo está em unir informação e saúde emocional. "A sabedoria não nasce apenas do conhecimento. Ela exige presença emocional. Só assim o adolescente consegue decidir o futuro com autenticidade, e não por medo, pressão ou expectativa".
A especialista reforça que não existe caminho perfeito, existe caminho vivo, construído enquanto a pessoa cresce, erra, aprende, experimenta e se transforma. E, segundo ela, esse é exatamente o tipo de liberdade que os jovens precisam para escolher com coragem.