Modelo pega ônibus e vive de mesada: conheça rotina de uma new face

Chegar ao glamour de tops como Izabel Goulart, Alessandra Ambrosio ou até mesmo Gisele Bündchen exige esforço e dedicação. O Terra acompanhou a rotina de Letícia Klein, na carreira há apenas alguns meses

28 out 2013 - 12h21
(atualizado em 10/12/2013 às 15h38)

Carro na porta com motorista, stylist, montagem da própria agenda e o glamour de ser chamada pelo nome por qualquer desconhecido. Talvez daqui alguns meses, um ou dois anos, mas até lá, Letícia Klein, 16 anos, ou simplesmente “Leti” – como é chamada pelos amigos - vai pegar ônibus e metrô, dormir em beliche em um alojamento com mais 11 meninas, pedir dinheiro aos pais para o custo de vida, ter que se apresentar quando chegar aos castings e lidar com a taxação: “está começando agora?”. Sim, Leti é uma new face – termo usado pelos profissionais do mundo da moda para as novas apostas – e está há apenas dois meses em São Paulo. Esta semana será a primeira temporada dela no SPFW e o Terra acompanhou de perto um dia da rotina da modelo.

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Loura, olhos verdes, 1,78 m de altura, um mulherão por fora, mas uma menina doce e tímida por dentro. Assim Leti recebeu a equipe do Terra por volta das 11h no alojamento onde mora, nos Jardins, localizado exatamente ao lado da agência. Ela já estava pronta para o primeiro casting, marcado para as 12h, com sainha de couro e blusinha preta, look escolhido pelo booker e “guardião” – como ele se autodenomina –, Jocler Turmina. Apesar das pernas longas de fora e toda a beleza da modelo que é a “aposta da agência”, segundo Jocler, nas três quadras até o ponto de ônibus Leti não atraiu muitos olhares. “Quando estamos em várias meninas às vezes mexem. Chamam de lindas, de magrelas ou perna de pau”, contou.

Ao final do dia, ela encontra com as amigas do alojamento, toma tererê faz caminhada no Parque do Ibirapuera
Ao final do dia, ela encontra com as amigas do alojamento, toma tererê faz caminhada no Parque do Ibirapuera
Foto: Bruno Santos / Terra

Mas enquanto o público faz algumas críticas ao tipo físico da modelo, especialistas no mercado fashion acreditam que as pernas finas, longas e proporcionais, o quadril estreito de 87 cm e os braços longos e finos formam uma “proporção perfeita”. “Ela tem uma beleza clássica. Não posso dizer que será a nova Gisele (Bündchen), mas é uma modelo que vai estourar no mundo inteiro”, disse Jocler, que trabalha na área há mais de uma década. O booker acompanha a new face, mas é ela, com ajuda do GPS do celular, que descobre como chegar aos endereços dos testes.

Apesar de estar há dois meses em São Paulo, Leto não hesita e é quem orienta qual ônibus pegar, onde descer e o resto do caminho. Para quem morou em uma cidade com cerca de 7 mil habitantes – ela é de Campina das Missões, no Rio Grande do Sul -, a mudança para São Paulo foi contrastante: “não conheço tudo, mas consigo me virar com o celular”. Além disso, teve que deixar pai, mãe, irmão caçula e os “queridos” Dodó e Simon, um pinscher e um vira-lata. Ela foi descoberta em um concurso de beleza no Rio Grande do Sul, ficou em segundo lugar e foi convidada – junto com uma das melhores amigas, a Natalia Luft - pela agência Joy para se mudar para São Paulo e tentar a carreira na moda.

O “tentar” é porque no início nada é certo, as modelos não recebem dinheiro suficiente para se sustentar, vivem em condições pouco confortáveis e adiam, por vezes, os estudos – como Leti, que ainda precisa concluir o terceiro ano do Ensino Médio. Segundo Jocler, quando a modelo começa na agência, é oferecido moradia, acesso à academia, nutricionista e consultas quinzenais com psicólogo. É pedido um valor de cerca de R$ 100 semanais para os gastos com transporte e alimentação, acrescentou o profissional. “Elas demoram cerca de seis meses para conseguir independência financeira, então, alugam um flat e saem do alojamento”, contou o booker.

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Pelo caminho que Leti está seguindo, talvez o objetivo chegue antes do estimado, já que ela está com participação confirmada no SPFW e viaja em janeiro para uma temporada em Nova York. Na última terça-feira, a agenda de testes da modelo estava tão agitada que ela teve que dispensar alguns. O primeiro do dia foi da Carina Duek, o ônibus demorou um pouco a passar, mas ela chegou sem atraso, mesmo com a parada para colocar o sapato de salto que estava na bolsa. No casting, Leti tirou medidas do busto, cintura e quadril e desfilou com um vestido preto de mangas rendadas para o cliente.

Dez minutos depois ela estava de volta à recepção: “fiquei um pouco nervosa, mas estou confiante”. Nesse meio tempo, surgiram dois novos testes, da Iódice e de O Boticário. Na agenda de Leti já estavam Tufi Duek e uma agência do Japão. Ela teria que cruzar a cidade de leste a oeste para cumprir todos os compromissos. Da rua Teodoro Sampaio, seguimos até a rua da Mata, no Itaim. Leti teve 30 minutos para almoçar antes de seguir para o segundo compromisso do dia: casting para o look book – uma espécie de catálogos - da Iódice, na Vila Leopoldina.

A passada na agência para encontrar o booker Elcio Melo – que acompanharia os testes da tarde – deu oportunidade para a modelo se apresentar a um integrante de uma agência de Miami e Nova York. A entrevista foi em inglês e Leti olhava confusa a cada pergunta das duas mulheres norte-americanas, esperando tradução. A resposta, mesmo que simples e com alguns errinhos, ela deu em inglês. Posou para fotos de frente e perfil, gravou um vídeo com informações básicas e seguiu para a zona oeste. Mais uma vez o teste foi rápido: Leti posou para um fotógrafo vestindo calça estampada e blusa listrada. Cerca de 15 minutos depois, ela já estava pronta para o casting mais importante do dia e que definiria a participação no desfile da Tufi Duek no SPFW.

Nas últimas semanas, Leti passou pelo teste da Forum e da Amapô, mesmo assim, não escondeu o nervosismo e medo de não conseguir chegar ao teste, na Mooca, a mais de 20 quilômetros dali. Cerca de 40 minutos depois, Leti chegou ao endereço. Lá estavam várias “colegas de testes” dela, todas aguardando para a avaliação em uma sala em que apenas as modelos tinham acesso. “Amarrei o cabelo e desfilei, foi bem tranquilo, acho que fui bem”, contou. Já eram quase 17h, horário limite para o casting da marca O Boticário e Leti teve que correr para chegar ao local, no Itaim Bibi. “Eu vim para o teste de O Boticário”, disse Leticia ao chegar à casa onde aconteceria a seleção. Mas era tarde demais, o relógio já marcava 17h30. “Droga, que pena”, lamentou.

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Leticia Klein conta como é vida de modelo new face
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Retornamos à agência para Leti fazer “polas” – termo usado para fotos instantâneas – e lá estava um agenciador da Alemanha. Ela conseguiu participar do teste, novamente, em inglês. Respondeu perguntas sobre informações pessoais, tirou fotos e apresentou o composite – material fotográfico. Depois da “maratona” por São Paulo, Leti aproveitou para tomar tereré com as amigas, antes da clássica – segundo ela, diária - caminhada no Parque do Ibirapuera.

Dia a dia de uma new face

A rotina de Letícia não costuma ser muito diferente do que a da última terça-feira. Ela acorda por volta das 8h ou antes, quando tem testes. No dia anterior, Jocler escolhe o look que a modelo irá usar de acordo com o cliente. “Alguns gostam de pernas longas, então escolho uma saia, por exemplo. Mas a roupa é sempre preta para não chamar mais atenção do que a modelo”, explicou ele. O branco acaba aumentando as formas do corpo, então, ele evita. “Só passo pó, rímel e gloss, tem que ir de cara mais limpa”, contou Leti sobre a make. Para os testes, enquanto new face, ela vai sempre de ônibus, até receber cachês que paguem um motorista particular, disse o booker.

Às terças-feiras, a equipe da agência tira as medidas de todas as new faces e um centímetro a mais pode implicar em “puxão de orelha”. Por isso, alimentação leve é fundamental. Quando soube que ia morar sozinha, Leti aprendeu algumas receitas com a mãe e hoje prepara filé de frango, arroz e saladas. “Sinto falta do churrasco do meu pai, do arroz de carreteiro e da feijoada”, disse ela. Na cozinha, ela também tem ajuda da “tia Maria”, Maria Dajuda, faxineira há mais de 10 anos do alojamento: “ela é como uma mãe para a gente, ensina o que não sabemos, me ensinou a fazer feijão”, contou.

A estreia no SPFW É a primeira temporada de Letícia na quinta semana de moda mais importante do mundo e ela ainda não sabe quais marcas a chamarão para desfilar, mas está esperançosa: “quero pegar todos os desfiles”, disse. “Meu sonho é desfilar para a Colcci e Chanel”, continuou. A 36ª edição contará com Gisele Bündchen e Candice Swanepoel, duas inspirações para Leti. Mas, a aposta de Jocler é uma semana de moda com new faces: “Com o salário de uma mais top como a Mariana Coldebella, dá para levar cinco new faces”, justificou. E é o caminho que Leti quer seguir: “desejo me tornar uma top”, concluiu.

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Terra transmite desfiles do SPFW

Terra, a maior empresa latino-americana de mídia digital, transmite ao vivo e com exclusividade para web os desfiles da coleção de inverno 2014 do São Paulo Fashion Week, entre 28 de outubro e 1º de novembro. As transmissões acontecem em parceria com o FFW, do Grupo Luminosidade e responsável pelos principais eventos de moda do Brasil.

Fonte: Terra
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