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Tecnologia sustentável nas favelas: tinta térmica caseira e PET resfriam lajes

Oficinas no Morro do Turano (RJ) ensinam soluções baratas e eficientes para combater os efeitos da crise climática

19 ago 2025 - 07h00
Resumo
Técnicas sustentáveis de baixo custo, como tinta térmica caseira, resfriamento com PET e pluviômetros artesanais promovem soluções locais para a crise climática. Favelas sofrem mais com a destruição do planeta.
Crianças são incentivadas a alternativas sustentáveis no Morro do Turano
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Pintura de laje com tinta térmica artesanal? Resfriamento do ar com garrafas PET? Pluviômetro? As periferias não cansam de desenvolver tecnologias de baixa complexidade – e alta criatividade – diante da crise ambiental, como na 1ª Semana Turano no Clima de Responsa, no morro do Turano, zona norte do Rio de Janeiro.

“Eu acho muito importante tudo isso que está sendo feito aqui. Muitas pessoas da comunidade não têm condições de ter um ar-condicionado, e o que estamos aprendendo a fazer é barato e ajuda bastante. A pintura também está sendo feita com materiais simples e econômicos”, diz Nancy Regina Rios Lucas, mãe do pequeno Nicolas, aluno do Favela Radical, ONG do morro do Turano envolvida na ação.

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“São tecnologias com eficiência comprovada. A pintura branca, por exemplo, reduz em até 25% a temperatura dos ambientes”, diz Juliana Poncioni, fundadora da Nas Marés, parceira do projeto. A tinta é feita com dois quilos de cimento, oito quilos de cal e 500 ml de cola Cascorez, tudo misturado em dez litros de água. Rende 12 metros quadrados. O produto comercial custa dez vezes mais.

Tinta térmica caseira é barata e fácil de preparar. Proporciona isolamento térmico e custa dez vezes menos do que no mercado.
Tinta térmica caseira é barata e fácil de preparar. Proporciona isolamento térmico e custa dez vezes menos do que no mercado.
Foto: Divulgação/Nas Marés

Ar-condicionado de pobre, ou “eco cooler” com garrafas PET

Em regiões da África, com adaptações na Índia, peças em forma de cones são instaladas nas paredes para resfriar o ar. O lado maior, mais aberto, fica do lado de fora; e o ar vai esfriando conforme entra. Tradicionalmente, as peças são de cerâmica.

Mas, na tecnologia criativa e de baixo custo do morro do Turano, a ponta da garrafa PET é uma ótima substituta. Cortadas, as pontas são fixadas em uma placa, com a boca mais larga voltada para fora e a mais estreita, sem tampa, para dentro. Isso acelera o vento ao entrar, diminuindo a temperatura interna.

O nome técnico do procedimento é “tecnologia de resfriamento passivo”, aquela que utiliza o vento local para reduzir a temperatura dentro de casa. “A gente aprende, coloca a mão na massa e ainda melhora as condições de vida de todos”, diz Nancy, a moradora que se envolveu com o filho Lucas na ação do último final de semana.

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Crianças descobrem o que acontece quando o ar quente entra pela parte mais larga e sai do outro lado, mais frio.
Foto: Divulgação/Nas Marés

A importância dos pluviômetros – também de garrafas PET

Moradores do Turano fizeram pluviômetros com garrafas PET, aprenderam medir a intensidade da chuva e puderam comprovar na hora a utilidade do equipamento, pois choveu. A tecnologia alternativa funcionou melhor do que as informações oficiais.

Isso porque o Centro de Operações do Rio (COR) faz monitoramento por radar, mas não há medição dentro das comunidades. Enquanto o COR informava que não haveria grandes problemas, os moradores sabiam, pela intensidade medida, que haveria consequências. A energia elétrica acabou logo em seguida.

O pluviômetro permitiu uma constatação rápida, engajamento e tomada de providências: eletrodomésticos e alimentos foram salvos, e quem precisava sair de casa, não esperou o pior. “O monitoramento local ajuda a transformar a percepção em dados concretos, imediatos, fortalecendo a prevenção e a resposta da comunidade”, diz Juliana Poncioni.

A tinta cria um bom isolamento térmico após ser aplicada duas vezes. Uma receita cobre 12 metros quadrados.
Foto: Divulgação/Nas Marés

Campeonato de vela premia ações em terra firme

As ações no morro do Turano são promovidas pelo campeonato internacional de vela SailGP, que premia iniciativas de impacto positivo para o planeta. A da equipe Mubadala Brazil SailGP Team é o projeto Não Estamos no Mesmo Barco, com a realização da 1ª Semana Turano no Clima de Responsa, em parceria com as organizações Nas Marés e Favela Radical.

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Fonte: Visão do Corre
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