ENVIADO ESPECIAL A RIO BONITO DO IGUAÇU - Em meio a roupas, colchões, marmitas de comida e muita gente trabalhando, Daiane Oliveira, secretária de Cultura de Rio Bonito do Iguaçu (PR), respira fundo depois de horas sem parar, comemora a solidariedade da região mas lamenta que " a reconstrução vai ser delicada".
No fim da tarde desta sexta-feira, 7, ventos de mais de 250km/h devassaram a área urbana de Rio Bonito. Segundo a Defesa Civil, ao menos seis pessoas morreram, 773 ficaram feridas e cerca de quatro mil foram atingidas, direta ou indiretamente. Casas inteiras foram arrancadas do chão, estabelecimentos comerciais perderam tudo e ainda não há uma estimativa do número de pessoas desalojadas no município.
Mas o trabalho começou cedo. Segundo Daiane, a equipe da Prefeitura, com a ajuda de grupos de voluntários, trabalhou até as 4h30 da madrugada em resgates urgentes e acolhimento de pessoas desalojadas, sob a chuva torrencial que seguiu caindo até cerca das 2h. Já na manhã do sábado, 8, a equipe estabeleceu um sistema de distribuição de mantimentos no Centro de Idosos - "o único espaço grande da cidade que ficou em pé", conta ela.
Rio Bonito perdeu todos os seus espaços de acolhimento e até o prédio de assistência social, que concentrava doações, foi atingido. Municípios das redondezas tiveram de acolher pessoas que perderam suas casas e não tinham onde passar a noite.
Mas Daiane conta que doações e ajuda não demoraram a chegar. "Graças a Deus o povo brasileiro é muito solidário." Movimentos sociais, indivíduos, empresas e municípios vizinhos se mobilizaram rapidamente, seguidos de perto pelos governos federal e do Estado.
Ao Estadão, o prefeito Sezar Augusto Bovino (PSD) reforçou o trabalho conjunto realizado na cidade. "Estamos fazendo primeiro os atendimentos, protegendo e agasalhando as pessoas que não têm onde ir, e agora, junto com o governo do Estado e com o governo federal, estamos planejando as fontes de recuperação para a cidade."
Mas Daiane prevê um longo trabalho pela frente. "Não se reconstrói uma vida de 38 anos tão fácil."
Governos federal e do Paraná participam de reconstrução
Já na manhã de sábado, Rio Bonito do Iguaçu recebeu a visita do governador Ratinho Junior (PSD), que se comprometeu a ajudar na recuperação da vida das pessoas atingidas pelo tornado.
O prefeito afirma que o governador deu "carta branca" para as secretarias liberarem verbas para o município.
O governo estadual encaminhou à Assembleia Legislativa do Paraná, em regime de urgência, um projeto que propõe alterar a lei do Fundo Estadual para Calamidades Públicas (Fecap). A lei permite repasses de recursos fundo a fundo e a proposta prevê o repasse direto às famílias com casas destruídas. De acordo com a administração, a ideia é liberar até R$ 50 mil por família.
À tarde, foi a vez da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e do ministro da Saúde em exercício, Adriano Massuda, visitarem a cidade e colocarem em movimento os planos para reconstrução.
"A gente vai se integrar nessa força-tarefa de ajuda emergencial", afirmou a ministra. Desde a manhã, as equipes do Ministério da Saúde e da Defesa Civil já têm trabalhado para garantir o atendimento emergencial da população atingida.
O governo também decretou estado de calamidade pública, para abrir caminho para liberação de fundos de garantia (FGTS), suspensão de pagamentos de prestações habitacionais e aumento de agilidade na liberação de benefícios sociais pelo INSS.
Agora, segundo Gleisi, começam os estudos para um trabalho de médio e longo prazo para garantir a recuperação de Rio Bonito. "Acredito que em uma semana, ou dez dias, já vamos ter estudos preliminares para iniciar o processo", afirma.
A equipe da Casa Civil, concentrada em um quartel general improvisado na entrada da cidade, acrescenta que neste sábado o trabalho segue focado em acomodar pessoas desabrigadas, buscar desaparecidos e conseguir abrigos. E no domingo, 9, começa o trabalho de reconstrução.