O recorde de vitórias na Fórmula 1 voltou a ser debatido em 2020 devido à troca de posições entre Lewis Hamilton e Michael Schumacher na primeira posição. Como se fosse uma corrida, Michael estava disparado na frente, com 91 vitórias desde o GP da China de 2006. Naquela ocasião, Lewis nem sequer era piloto de F1 e o recorde de Schumacher parecia inalcançável, uma vez que tinha aberto incríveis 40 vitórias de vantagem sobre o ex-recordista, Alain Prost.
Mas, para sermos justos, não deveríamos olhar as estatísticas da F1 somente pelos números absolutos. É preciso ponderá-los. Para atingir 51 vitórias, Prost precisou de 193 GPs (depois fez mais seis e encerrou a carreira). Schumacher igualou a marca de Prost no GP da Hungria de 2001. Era sua corrida número 157, o que lhe dava um aproveitamento muito melhor do que o do antigo recordista (32,5% contra 26,4%).
Se Alain era Le professeur, Michael era a própria aula em pessoa. Exatos 100 grandes prêmios depois de igualar a marca do francês, o piloto alemão estabeleceu o recorde de 91 vitórias. Fez mais duas corridas e se aposentou. Porém, saiu da aposentadoria de quatro anos e fez mais três temporadas (2010, 2011 e 2012), prejudicando suas estatísticas, mas retribuindo o apoio que tivera da Mercedes no início da carreira. Foi uma prova de generosidade.
Quando Michael parou de vez, no GP do Brasil de 2012, Lewis já estava em sua corrida número 110. Tinha então 21 vitórias no currículo, com o bom aproveitamento de 19,1%. Era um grande piloto, mas não um mito. Estava longe disso. Mas veio a era híbrida da Fórmula 1. A dobradinha Mercedes-Hamilton começou a descontar a diferença para Schumacher, ano após ano e finalmente, no GP de Eifel de 2020, o piloto inglês emparelhou com o alemão para ultrapassá-lo. Mais quatro vitórias e temos a história dos dois maiores recordistas da F1.
Mas é preciso olhar mais fundo. Pela contagem pura e simples, os 10 mais são, pela ordem, Lewis Hamilton (95 vitórias), Michael Schumacher (91), Sebastian Vettel (53), Alain Prost (51), Ayrton Senna (41), Fernando Alonso (32), Nigel Mansell (31), Jackie Stewart (27), Jim Clark (25) e Niki Lauda (25). Porém, se classificarmos os vencedores da F1 pelo aproveitamento no total de GPs disputados, a ordem muda e dois pilotos somem da lista.
P. | PILOTO |
APR % |
VIT |
TOT GP |
1 | Fangio | 47,1 | 24 | 51 |
2 | Ascari | 40,6 | 13 | 32 |
3 | Hamilton | 35,7 | 95 | 266 |
4 | Clark | 34,7 | 25 | 72 |
5 | Schumacher | 29,6 | 91 | 307 |
6 | Stewart | 27,3 | 27 | 99 |
7 | Prost | 25,6 | 51 | 199 |
8 | Senna | 25,5 | 41 | 161 |
9 | Moss | 24,2 | 16 | 66 |
10 | Vettel | 20,6 | 53 | 257 |
Evidentemente, apesar de terem aproveitamento alto, de 50% e 40%, os pilotos americanos Lee Wallard (uma vitória em duas corridas) e Bill Vukovich (duas vitórias em cinco corridas) não podem ser considerados neste ranking. Eles nem sequer eram pilotos de F1, mas sim de Indycar, disputando somente as 500 Milhas de Indianápolis, que fez parte do calendário da Fórmula 1 durante 11 temporadas, de 1950 a 1960.
Na lista dos top 10 vencedores da F1 aparecem então os nomes de Juan Manuel Fangio, Alberto Ascari e Stirling Moss, o único da turma que nunca foi campeão mundial. Fangio e Ascari não apenas entraram na lista, mas entraram no topo, superando Hamilton, que conseguiu superar Clark e Schumacher. Senna caiu de 5º para 8º lugar e Vettel despencou de 3º para 10º.
Porém, há ainda uma outra forma de analisar o ranking dos maiores vencedores da Fórmula 1. Continua sendo por aproveitamento, mas desta vez levando em conta o GP da última vitória de cada piloto. Claro que todos melhoram o índice, pouca coisa, menos dois pilotos: Ascari, que passa a ser o número 1, e Schumacher, que sobe para o 3º lugar.
P. | PILOTO |
APR % |
VIT |
GP |
1 | Ascari | 52,0 | 13 | 25 |
2 | Fangio | 51,1 | 24 | 47 |
3 | Schumacher | 36,8 | 91 | 247 |
4 | Hamilton | 35,8 | 95 | 265 |
5 | Clark | 34,7 | 25 | 72 |
6 | Stewart | 28,1 | 27 | 96 |
7 | Prost | 26,4 | 51 | 193 |
8 | Senna | 25,9 | 41 | 158 |
9 | Moss | 25,0 | 16 | 64 |
10 | Vettel | 22,6 | 53 | 234 |
Mas, espera, eu escrevi todos. Não foram todos. O único dos 10 maiores vencedores que não mudou sua estatística foi Jim Clark. A mudança nos índices de Ayrton Senna e Stirling Moss também foram minúsculas. Jim e Ayrton, entretanto, tiveram suas vidas interrompidas quando estavam no auge. Jim morreu entre a primeira e a segunda etapas do mundial de 1968, que começou ganhando. Ayrton morreu no terceiro GP após sua última vitória, mas marcando três pole positions e tendo sofrido o acidente fatal quando liderava a prova.
Até onde poderiam ter ido Jim Clark e Ayrton Senna se não tivessem morrido? Todos os outros recordistas (menos Lewis Hamilton, que ainda corre) tiveram tempo de se retirar depois de alcançar seus máximos. Jim e Ayrton, não. Infelizmente, jamais saberemos quantas vitórias mais teríamos dos dois maiores velocistas de todos os tempos, Clark e Senna, talvez os dois maiores talentos naturais que já passaram pela Fórmula 1.