Putin vai substituir ministro da Defesa

12 mai 2024 - 18h21
(atualizado em 13/5/2024 às 04h51)

Serguei Shoigu estava à frente da pasta desde 2012. Um dos arquitetos da invasão da Ucrânia e também pivô do motim do Grupo Wagner, ele será substituído por economista, numa rara mudança no círculo de poder do Kremlin.O ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, vai deixar o cargo, segundo anunciou neste domingo (12/05) o regime russo. Um aliado próximo de Vladimir Putin, Shoigu chefiou a pasta da Defesa por mais de uma década.

Putin e Shoigu: uma rara mudança no círculo de poder do regime russo
Putin e Shoigu: uma rara mudança no círculo de poder do regime russo
Foto: DW / Deutsche Welle

Sua saída do cargo, no entanto, não foi anunciada como uma demissão, mas como um remanejamento. Segundo o Kremlin, ele passará a ocupar o cargo de chefe do Conselho de Segurança da Federação Russa, um órgão consultivo que assessora Putin em questões militares e estratégicas.

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Ele vai substituir no conselho Nikolai Patrushev, um antigo colega de Putin na KGB. Nenhum motivo oficial foi informado para a mudança no colegiado.

Já o cargo de ministro da Defesa passará a ser ocupado por Andrei Belousov, um civil com formação de economia que atuou como vice-primeiro-ministro (2020-2024) e também chefiou o Ministério de Desenvolvimento Econômico (2012-2013). A nomeação segue a tradição de Putin de evitar a nomeação de militares para o cargo, em contraste com o governo de seu antecessor Boris Yeltsin.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri S. Peskov, disse que Putin tomou a decisão de nomear Belousov devido ao aumento acentuado do orçamento de defesa nos últimos dois anos. "É muito importante encaixar a economia do bloco de segurança na economia do país, encaixá-la de modo que corresponda à dinâmica do momento atual", disse Peskov.

Foi uma rara mudança no círculo de poder de Putin, que normalmente se mantém imóvel e fechado para novatos ambiciosos e no qual a lealdade é mais valorizada que a competência. Putin vinha mantendo o fiel Shoigu no cargomesmo diante de episódios embaraçosos como os revezes militares iniciais na guerra de agressão contra a Ucrânia em 2022 e o motim dos mercenários do Grupo Wagner em 2023.

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Mas uma possível mudança na chefia do ministério foi sinalizada em abril, quando as autoridades russas prenderam Timur Ivanov, o braço direito de Shoigu na pasta, por acusações de corrupção.

A remodelação ocorre no momento em que Putin inicia seu quinto mandato presidencial e enquanto a guerra na Ucrânia se arrasta pelo terceiro ano seguido, mas na qual o Kremlin vem recentemente retomando a iniciativa na frente de batalha.

Homem forte da Defesa por mais de uma década

Hoje com 68 anos de idade, Shoigu provém dos meios abastados da nomenklatura soviética: seu pai era secretário do Partido Comunista em Tuva, atualmente república autônoma.

Após formar-se como engenheiro civil, Shoigu fez carreira rapidamente. Nos últimos anos da União Soviética, mudou-se para Moscou, onde fundou e dirigiu o Serviço de Salvamento estatal. Este se transformaria no Ministério da Defesa Civil, que Shoigu liderou por quase 20 anos.

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No fim dos anos 90, contava como ministro russo mais apreciado, e liderou o recém-formado partido do Kremlin, o Unidade, precursor do atual Rússia Unida, o partido de Putin. Em 2012, assim que Putin voltou a trocar o cargo de primeiro-ministro pelo de presidente, Shoigu foi nomeado governador da região de Moscou.

Poucos meses mais tarde, assumiu a pasta da Defesa e começou com reformas. Sua nomeação foi vista com críticas entre os oficiais militares, que enxergaram Shoigu como um civil sem experiência na área. Como ministro, Shoigu tentou vender uma imagem mais militarizada, passando a usar um uniforme de general e a exibir condecorações, apesar de nunca ter sido um membro efetivo das Forças Armadas.

No segundo e quarto semestres de 2021, pouco antes de a Rússia mobilizar tropas para as fronteiras com a Ucrânia, Putin e o ministro da Defesa se recolheram para as florestas boreais de taiga. Fotos da época evidenciam a relação especial entre os dois.

Um dos arquitetos da invasão da Ucrânia em 2022, Shoigu passou a ter sua posição questionada por causa de reveses militares nos primeiros meses da guerra, que evidenciaram a falta de preparo das tropas russas, equipamento inadequado e táticas obsoletas. No entanto, Putin não demonstrou sinais de que seu ministro havia perdido prestígio.

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Em 2023, Shoigu se tornou pivô do motim do Grupo Wagner. À época, o então líder da formação mercenária, Yevgeny Prigozhin, culpou Shoigu pelos fracassos na Ucrânia e acusou o ministro de ordenar um ataque contra homens do grupo. À frente dos seus homens, Prigozhin chegou a abandonar o front ucraniano e tomar a cidade russa de Rostov, sinalizando que pretendia seguir para Moscou.

Na ocasião, Prigozhin também acusou Shoigu de ser um "palhaço" responsável por enganar Putin e disse que o ataque à Ucrânia foi lançado para que o ministro pudesse se tornar marechal e receber condecorações militares. Prigozhin acabou abortando sua marcha a Moscou, Shoigu se manteve longe dos holofotes durante o motim. O episódio também revelou fissuras profundas na Rússia e que diversos militares sabiam ou aquiesceram com o motim, num sinal de descontentamento com o ministro. Mas Shoigu conseguiu se manter no cargo. Prigozhin, por sua vez, acabou morrendo na explosão do seu avião em agosto de 2023, dois meses depois do motim, numa aparente vingança arquitetada pelo Kremlin.

jps/md (ots)

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