O Padre Júlio Lancelotti, pároco da igreja de São Miguel Arcanjo, localizada na Mooca, Zona Leste de São Paulo, comunicou a suspensão das transmissões de suas missas online e a interrupção temporária das atividades em suas redes sociais.
O sacerdote é o Coordenador da Pastoral do Povo de Rua e desenvolve um trabalho público com indivíduos em situação de vulnerabilidade social e extrema pobreza. O padre também é associado à luta contra a aporofobia, o termo utilizado para designar o desprezo ou aversão a pessoas pobres.
A decisão de suspender as atividades na internet teria sido estabelecida pelo Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, de acordo com informações veiculadas pela Folha de S.Paulo. Simultaneamente, houve a circulação de informações em plataformas digitais sobre uma possível transferência do Padre Lancelotti de sua paróquia. No entanto, o próprio padre declarou que a informação sobre a transferência não procede.
Quando questionada sobre o tema pela GloboNews, a Arquidiocese de São Paulo declarou que "eventuais questões tratadas entre o arcebispo e um padre dizem respeito ao âmbito interno da Igreja e são conduzidas diretamente entre eles", limitando-se a esta manifestação.
Nas redes sociais, o sacerdote acumulava um número superior a 2 milhões de seguidores. Anteriormente, aos domingos, ele realizava a transmissão da missa celebrada às 10h através do YouTube, no canal mantido pela Rede TVT (TV dos Trabalhadores).
Em comunicado oficial, o Padre Júlio Lancelotti esclareceu o seguinte: "As missas dominicais continuam sendo celebradas normalmente as 10h00, na Capela da Universidade São Judas - Mooca. As redes sociais não estão sendo movimentadas por um período de recolhimento temporário".
O comunicado oficial ainda complementou: "Não procede a informação sobre transferência da Paróquia São Miguel Arcanjo. Reafirmo minha pertença e obediência à Arquidiocese de São Paulo".
O Padre Lancelotti é um alvo constante de manifestações públicas negativas, especialmente por figuras políticas, devido à sua atuação junto à população em situação de rua e por sua postura de crítica a políticas públicas que, segundo ele, tendem a penalizar a pobreza.
Entre os indivíduos que realizaram manifestações públicas desfavoráveis ao trabalho do padre, está o vereador Rubinho Nunes (União). O vereador chegou a protocolar um requerimento para a instauração de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) com o objetivo de investigar o trabalho do sacerdote e de ONGs (Organizações Não Governamentais) associadas ao atendimento de pessoas vulneráveis.
Ainda neste ano, o vice-prefeito da capital, coronel Ricardo Mello Araújo (PL), também realizou uma declaração pública na qual atribuiu ao Padre Lancelotti a responsabilidade pela formação de uma "nova Cracolândia" na cidade de São Paulo. O contexto de pressão e ataques precede a decisão de suspender as atividades nas plataformas digitais.