Vaticano encobriu pedófilo que abusou de 200 menores surdos

25 mar 2010 - 04h38
(atualizado às 07h43)

As maiores autoridades do Vaticano, incluindo Joseph Ratzinger, que anos mais tarde se tornaria o papa Bento XVI, encobriram um sacerdote americano que abusou sexualmente de aproximadamente 200 menores surdos, segundo documentos obtidos e revelados pelo jornal The New York Times.

Bento XVI ouve o seu conselheiro Georg Gaenswein durante audiência geral na basílica de São Pedro, no Vaticano
Bento XVI ouve o seu conselheiro Georg Gaenswein durante audiência geral na basílica de São Pedro, no Vaticano
Foto: Reuters

A correspondência interna de bispos do Estado americano de Wisconsin diretamente ao cardeal Ratzinger, o futuro papa, mostra que enquanto os responsáveis eclesiásticos discutiram a expulsão do padre, a prioridade maior foi proteger a Igreja do escândalo, segundo o site do jornal.

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Os documentos procedem da causa judicial aberta contra o reverendo Lawrence C. Murphy, que trabalhou durante mais de 20 anos, entre 1950 e 1974, em uma escola para crianças surdas de Wisconsin.

O arcebispo de Milwaukee em 1996, Rembert G. Weakland, enviou duas cartas informando a situação, e não obteve resposta do então cardeal Ratzinger, que dirigia a Congregação para a Doutrina da Fé, encarregada de estudar esses casos.

Após oito meses, o segundo responsável à frente da doutrina oficial católica, o cardeal Tarsicio Bertone, atualmente secretário de Estado do Vaticano, ordenou aos bispos de Wisconsin iniciarem um julgamento cônego secreto que poderia ter terminado com a expulsão de Murphy do sacerdócio.

No entanto, Bertone parou o processo depois que Murphy escreveu pessoalmente a Ratzinger dizendo que tinha se arrependido e estava doente. "Só quero viver o tempo que me resta na dignidade do meu sacerdócio", escreveu o padre na carta que enviou Ratzinger, já perto de sua morte, que aconteceu em 1998. "Solicito sua bondosa ajuda neste assunto", dizia.

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Murphy nunca foi julgado ou sancionado pela Igreja e até a Polícia e os investigadores de justiça se omitiram perante as declarações das vítimas, segundo os documentos em poder do The New York Times, cedidos pelos advogados de cinco homens que processaram a Arquidiocese de Milwaukee.

Em 1974, o sacerdote foi transferido pelo arcebispo William E. Cousins, de Milwaukee, à Diocese de Superior, no norte de Wisconsin, onde passou seus últimos 24 anos trabalhando com crianças em colégios, igrejas paroquiais e em um centro de detenção juvenil, segundo o jornal.

O The New York Times cita o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, que reconheceu que era um caso "trágico", mas acrescentou que o Vaticano não foi informado até 1996, anos depois que as autoridades civis averiguaram e encerraram o caso.

  
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